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Artigo N.º 6586 - O INFERNO EXISTE (1)
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Postado em: 08/11/10 às 12:51:22 por: James
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Publicaremos a seguir todo um livreto, com o título abaixo, datado de 1939. Ele foi todo copiado por Ricardo, por se sentir tocado com o alcance destas mensagens. Elas são originais e confiáveis, embora livros assim sejam hoje pouco divulgados, porque parece não ser mais missão da Santa Igreja falar sobre a terrível realidade do inferno e do purgatório, como se ele fosse uma invenção de padres carolas.

Na realidade, o livro fala por si só, e foi mantida, tanto a fidelidade aos originais até quanto à acentuação antiga, quanto ao conteúdo completo. Lembro que isso estará em cinco capítulos e quem quiser ter o livro todo deve pegar cada uma das partes. Por isso vou colocar a última primeiro, seguindo depois as outras. Agradeço a Ricardo de todo coração!
 
O INFERNO EXISTE
 
LEITURAS CATÓLICAS DE DOM BOSCO
ANO XLIX – Outubro de 1939 – n.º 593
PROVAS E EXEMPLOS
Pelo Servo de Deus
Padre André Beltrami
(Salesiano)
 
3ª EDIÇÃO
 
NITERÓI
Escola Industrial Dom Bosco – 1945.
 
(OBS: grafias e acentuação das palavras copiadas do original)
 
PREFÁCIO DO AUTOR
 
Nos nossos dias, mais que em outros tempos, é necessário lembrar aos cristãos a existência do inferno, já que muitos vivem como se as verdades da Fé não existissem.
O pensamento do inferno foi sempre fecundo de generosas resoluções. Quantos abandonaram o pecado e se entregaram de corpo e alma à pratica da virtude, meditando naquelas chamas devoradoras, naqueles tormentos horríveis que a língua humana não pode exprimir! O padre Mestre Avila converteu uma senhora tôda entregue aos pecados e às vaidades do mundo pondo-lhe diante o terrível sempre e o terrível nunca, sempre sofrer, nunca um instante de alívio. Por isso, suplico ao bom leitor que, depois de ter lido êste opúsculo, o faça ler aos seus parentes e amigos que vivem afastados de Deus, esquecidos da sorte infeliz reservada aos ímpios na outra vida. Quem sabe se o pensamento das chamas eternas não suscite em seus corações um temor salutar que os determine a mudar de vida! Pode bem ser que os exemplos narrados contribuam para avivar em seus corações a fé já extinta! E se unirem também às suas orações para tal fim, estou certo de que Nosso Senhor lhes tocará o coração e êles voltarão às práticas da religião que abandonaram.
Na compilação dêste livrinho, valí-me especialmente dos trabalhos de Monsenhor Luiz Gastão, Ségur e do Padre Francisco Xavier Schouppe, que tão egregiamente trataram dêsse assunto.
Deus, o qual protesta não querer a morte do pecador, mas que se converta e viva, abençoe meu pobre trabalhinho e faça de maneira que sirva para a conversão de tantos transviados e os afaste do caminho da perdição. Jesus Cristo os estreitará cheio de alegria ao seu Sacratíssimo Coração, como já fez um dia com o filho pródigo, e os Anjos farão festa e celebrarão com cânticos de alegria o seu retôrno à casa paterna.
 
Turim – Valsálice > Seminário das Missões – junho de 1897
 
 
 
CAPÍTULO I
 
A revelação divina demonstra a existência do inferno
 
Não há verdade tão inculcada na Sagrada Escritura como a da existência do inferno. Escritores inspirados falam dêle continuamente, para que os homens, horrorizados com as penas que aí se sofrem abandonem o vício e se dêem à prática da virtude.
 
Os protestantes, que de nossa santa religião negaram quase tôdas as verdades mais difíceis de crer e praticar não souberam desfazer-se do dogma do inferno, pelo fato de ser frequentemente recordado nas Sagradas Letras. Por êste motivo, uma senhora católica, importunada por dois ministros protestantes a passar para a reforma, saiu-se com esta sensata resposta: – “Senhores, fizestes na verdade uma bela reforma, suprimistes o jejum, a confissão, o purgatório; infelizmente, porém, conservastes os inferno. Tirai também êste e eu serei dos vossos.”
 
Para não multiplicarmos as citações, deixaremos o Antigo Testamento e viremos logo ao Evangelho, para ouvir a palavra de Jesus Cristo, que por bem quinze vezes proclama êste lugar de tormentas. E para causar em nós um temor salutar e dar-nos uma idéia justa do inferno, Êle o chama fogo inextinguível, trevas exteriores, onde haverá pranto e ranger de dentes, lugar de tormentos, fornalha de fogo, geena de fogo.
 
A geena era um vale perto de Jerusalém, onde alguns maldosos hebreus apóstatas de sua religião, sacrificavam a Moloc os tenros filhos, expondo-os antes ao fogo. O piedoso rei Josias, para abolir êsse bárbaro costume, fêz aterrar o vale, ordenando que se lançasse aí a imundície da cidade e os cadáveres aos quais fosse negada a sepultura; e como medida profilática, conservava-se sempre aceso o fogo. O nosso Divino Salvador, para tornar mais sensível a idéia do inferno, tomou a imagem dêsse vale, que os hebreus abominavam, dando-lhe precisamente o nome de geena.
 
Na parábola do rico epulão, tão fecunda de ensinamentos e que é tão importuna aos ricos gozadores do mundo, Jesus nos ensinou que o mau uso das riquezas conduz inevitàvelmente ao inferno, enquanto as dificuldades e as privações suportadas por amor de Deus levam ao lugar de eterna felicidade.
 
“Havia um homem rico, que se vestia de púrpura, e de linho e que todos os dias se banqueteava esplendidamente. Havia também um mendigo, chamado Lázaro, o qual coberto de chagas, estava deitado à sua porta, desejando saciar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico, e ninguém lhas dava; mas os cães vinham lamber-lhe as chagas.
 
“Ora, sucedeu morrer o mendigo, e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico, e foi sepultado no inferno. E, quando estava nos tormentos, levantando os olhos, viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio; e, gritando disse: Pai Abraão, compadece-te de mim, e manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo, para refrescar a minha língua, pois sou atormentado nesta chama. E Abraão disse-lhe: Filho, lembra-te que recebeste os bens em tua vida e Lázaro, ao contrário, males por isso êle é agora consolado e tu és atormentado. E, além disso, há entre nós e vós um grande abismo; de maneira que os que querem passar daqui para vós não podem, nem os de aí passar para cá. E disse: Rogo-te pois, ó pai, que mandes à casa de meu pai. Pois tenho cinco irmãos para que os advirta disto e não suceda virem também êles para êste lugar de tormentos. E Abraão disse-lhe: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. Ele, porém disse-lhe: Não, Pai Abraão, mas se algum dos mortos for ter com êles, farão penitência. E êle disse-lhe: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tão pouco acreditarão ainda que ressuscitaste algum dos mortos”. (S. Lucas, XVI, 19-31).
 
Eis aí descrito com vivas côres aquêle reino de dor, onde um fogo abrasador e horrível atormentará sem um instante de trégua o mísero condenado: uma gôta, só uma gôta de água pedia o epulão para mitigar os ardores insuportáveis da sêde, e essa gôta foi-lhe negada sem dó! Ai! quem de vós, branda aos ímpios o Profeta Isaías, cheio de espanto, quem de vós poderá habitar nesse fogo devorador? nesses ardores sempiternos?
 
Ao final da parábola, acena-se à repugnante incredulidade de tantos infelizes que vivem engolfados nos vícios, não fazendo caso das verdades eternas, nas quais não creriam nem mesmo se aparecesse algum réprobo para lhes atestar a existência do inferno. Qual não será o seu desespero ao verem-se um dia sepultados naquele abismo de tormentos, sem a mínima esperança de saírem de lá?
 
Alhures, Jesus Cristo descreve o juízo universal que êle fará no fim do mundo, e a sentença de eterna condenação que pronunciará contra aqueles que não praticarem as obras de misericórdia para com os seus irmãos, e que serão precipitados no fogo inextinguível, preparado para o demônio e seus sequazes. Quanto temor não causa à alma a consideração dêste trecho do Evangelho! Ah! se os libertinos, que negam com tanto atrevimento a vida futura, refletissem um pouco, certamente mudariam de vida! Fruto desta meditação foi aquela poesia tão sublime do Dies irae, que é o gemido de uma alma tôda compenetrada do terror do juízo divino e da sorte eterna que a espera depois.
 
“Quando vier o Filho do homem na sua majestade, e todos os anjos com Ele, então se sentará sôbre o trono da sua majestade, e serão tôdas as gentes congregadas diante dêle, e separará uns dos outros como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E porá as ovelhas à sua direita, e os cabritos à esquerda.
 
“Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: Vinde benditos de meu Pai, possuí o reino que vos está preparado desde o princípio do mundo; porque tive fome, e destes-me de comer; tive sêde, e destes-me de beber; era peregrino e recolhestes-me; nu, e me vestistes; enfêrmo, e me visitastes; estava no cárcere e fostes visitar-me. Então lhe responderão os justos, dizendo: Senhor, quando é que nós te vimos faminto e te demos de comer; sequioso e te demos de beber? E quando te vimos peregrino, e te recolhemos; nu, e te vestimos? Ou quando te vimos enfêrmo, ou no cárcere e fomos visitar-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Na verdade vos digo que tôdas as vezes que vós fizestes isto a um dêstes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes. Então dirá também aos que estiverem à esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno que foi preparado para o demônio e para os seus anjos; porque tive fome, e não me destes de comer; tive sêde, e não me destes de beber; era peregrino, e não me recolhestes; nu, e não me vestistes; enfêrmo e no cárcere e não me visitastes. Então êles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando é que nós te vimos faminto, ou sequioso, ou peregrino, ou nu, ou enfêrmo, ou no cárcere, e não te assistimos? Então lhes responderá, dizendo: Na verdade vos digo: tôdas as vezes que o não fizestes a um destes mais pequeninos, a mim não o fizestes. E êstes irão para o suplício; e os justos para a vida eterna.” (S. Mateus, XXV, 31-46).
 
E para tornar entre o povo mais familiar, diria quase visível o pensamento do inferno, usa a comparação dos rebentos e da videira.
 
“Eu sou a videira e vós os rebentos. O que permanece em mim e eu nêle, êsse dá muito fruto, porque, sem mim, nada podeis fazer. Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora como o rebento, e secará, e enfeixá-lo-ão, e o lançarão no fogo, e arderá.” (S. João, XV, 5-6).
 
Falando depois, dos escândalos, o nosso bendito Salvador, de ordinário cheio de doçura e mansidão toma um tom terrível e os ameaça de condenação eterna.
 
“Ai do mundo por causa dos escândalos! Porque é necessário que sucedem escândalos; mas ai daquele homem pelo qual vem o escândalo! E, se a tua mão te escandalizar, corta-a; melhor te é entrar na vida manco, do que, tendo duas mãos, ir para o Inferno, para o fogo inextinguível, onde o seu verme não morre, e o fogo não se apaga.
 
E se o teu pé te escandaliza, corta-o; melhor te é entrar na vida eterna coxo, do que, tendo dois pés, ser lançado no inferno, num fogo inextinguível, onde seu verme não morre, e o fogo não se apaga.
 
“E se o teu ôlho te escandaliza, lança-o fora; melhor te é entrar no reino de Deus sem um ôlho, do que tendo dois, ser lançado no fogo do inferno, onde o seu verme não morre, e o fogo não se apaga. Porque todo o homem será salgado pelo fogo, e tôda vítima será salgada com sal”. (S. Marcos, IX, 42-48).
 
Santo Tomaz explica que êsse verme que não morre é o remorso da consciência, que para sempre há de atormentar o condenado no inferno; remorso pelo grande bem que perdeu, êle que tinha tantos meios de se salvar.
 
A expressão será salgado pelo fogo significa que, assim, como o sal conserva as coisas, assim o fogo, no qual os condenados serão imersos, aos mesmo tempo que crucia atrozmente os conserva sempre em vida. Aí o fogo consome, diz S. Bernardo, para conservar sempre. Neste trecho faz-se alusão manifesta aos sacrifícios legais que os hebreus tinham sempre diante dos olhos, e onde estava prescrito que se aspergisse com sal a vítima que era oferecida a Deus: na verdade, os condenados são como vítimas da divina justiça.
 
Eis como Jesus Cristo, prevendo os assaltos que os incrédulos e libertinos dariam ao dogma do inferno, o proclama continuamente no Evangelho. Quanto a nós, permaneçamos inabaláveis em nossa crença, certos da existência do inferno, como da existência do sol, da lua e das outras coisas que nos rodeiam. Deus nô-lo revelou e ensina por meio da Igreja, e a palavra de Deus não falha.
 
 

CAPÍTULO II
 
 
A razão humana confirma a existência do inferno
 
 
Quem são afinal, os que negam a existência do inferno? Talvez pessoas honestas? Ao contrário! São os libertinos que espezinham todo o ditame da consciência para viverem à solta, aqueles aos quais repugna crer em um Deus vingador, por bem saberem que merecem seus castigos. Mas, conseguem êles persuadir-se de que não há uma justiça que vela sôbre os homens, e que punirá seus pecados? Jamais! Enquanto negam com os lábios a existência do inferno, sentem no âmago da consciência o remorso e uma voz que lhes anuncia terrível vingança.
 
O próprio Voltaire, o corifeu da impiedade, não conseguiu convencer-se de que não há nada depois do túmulo; tanto assim que, quando adoecia gravemente, apressava-se para em chamar o padre para se retratar de suas máximas tão ímpias!
 
Deus imprimiu em nosso coração noções imutáveis de justiça, e a idéia de um prêmio à virtude, de um castigo ao vício. Certo ímpio se vangloriava, numa roda, de não acreditar no inferno; entre os que ouviam estava um homem de bom senso e modesto, mas que julgou seu dever tapar a bôca ao estulto interlocutor, e o fez com êste simplicíssimo argumento:
– “Senhor, disse-lhe, os reis da terra têm cárceres para punir rebeldes; o Deus, Rei do universo, não há de ter cárceres para os que ultrajam a sua majestade?” O ímpio não soube que responder, pois o mesmo lume da razão lhe fazia ver que se os reis têm prisões, Deus deve ter um inferno.
 
Da negação do castigo e do prêmio ia outra vida, seguir-se-ia que Deus não existe, ou se existe, não cuida dos homens; e não haveria nenhuma diferença entre virtude e vício, entre justiça e injustiça. Morre um ladrão, carregado de delitos, e morre um inocente que durante a vida praticou virtude e fez o bem ao próximo; quereis que tenham a mesma sorte? Deus, infinitamente justo, não há de punir os crimes do primeiro e recompensar as boas obras do segundo? Morre São Paulo no deserto, depois de ter vivido quase um século no jejum, na penitência, louvando e servindo a Deus; e morre Nero, depois de ter cometido tôda espécie de crueldade; quereis que tenham igual sorte? Portanto, a mesma razão, o bom senso nos fala de um lugar onde serão castigadas as transgressões da lei divina.
 
Nem mesmo a eternidade das penas repugna aos ditames da reta razão.
 
Um dia, uma alma santa meditava no inferno, e considerando a eternidade dos suplícios, aquêle terrível nunca e o terrível sempre, ficou bastante impressionada, porque não compreendia como se pudesse conciliar esta severidade sem medida com a bondade e outras perfeições divinas.
 
– Senhor, dizia ela, eu me submeto aos vossos juízos, mas, permití-me, não sejais demasiado rigoroso.
 
– Compreendes, foi a resposta, o que seja o pecado? Pecar é dizer a Deus: não Vos obedecerei; pouco se me dá da vossa lei; rio-me das vossas ameaças!
 
– Vejo, Senhor, como o pecado é um monstruoso ultraja à vossa divina majestade.
 
– Pois bem, mede, se podes a grandeza dêsse ultraje.
 
– Compreendo, Senhor, que êsse ultraje é infinito, porque vai contra a majestade infinita.
 
– Não se exige então um castigo infinito? quanto à intensidade, sendo a criatura limitada, requer a justiça que seja infinito ao menos quanto à duração: portanto, é a mesma justiça divina que exige o terrível sempre e o terrível nunca. Os próprios condenados serão obrigados a prestar homenagens, mau grado seu, a esta justiça e exclamar em meio aos tormentos: “Vós sois justo, Senhor, e retos os vossos juízos.” (
1)
 
Mas, replicam os incrédulos, Deus é tão misericordioso que não castigará eternamente um pecado mortal só, o qual às vezes dura um instante. Que proporção há entre a breve duração da culpa e a eternidade da pena?
 
A isto responderemos, que a misericórdia não é nada contrária à justiça, a qual exige seja eternamente castigado o pecado de uma pessoa que tenha morrido impenitente; visto que o pecado de tal pessoa é de certo modo eterno, segundo a sua voluntária disposição presente, querendo morrer no pecado: o que merece uma pena eterna. Até a justiça humana, imagem da justiça divina, castiga por vezes a falta passageira com a pena, a seu modo, eterna, como é o exílio perpétuo; de modo que, se o exilado vivesse sempre, para sempre seria banido da sua pátria. E por que a divina justiça não poderá banir eternamente da pátria celeste um pecador impenitente, que por si mesmo se exclui dessa pátria, morrendo voluntàriamente na impenitência final? De resto, eterno é o prêmio que Deus prepara a quem o serve, e por isso eterno deve ser também o castigo para aqueles que se rebelam contra sua santa lei.
 
Afinal, quem somos nós que ousamos levantar a fronte e pedir a Deus a razão de seus justos decretos?
 
 
CAPÍTULO III
 
 
Testemunhas de Além-túmulo
 
 
Em sua infinita misericórdia, Deus, depois de haver revelado o dogma do inferno, tem permitido, de onde em onde, que alguma alma venha da eternidade para confirmar-nos a existência daquele lugar de penas. Tais aparições são mais frequentes do que comumente se crê; e quando são atestadas por pessoas idôneas e fidedignas, tornam-se fatos inegáveis, que se admitem como todos os outros fatos da história. Apresso-me, porém, a declarar que não entendo trazer êsses fatos como argumento principal e básico com que se demonstre e se estabeleça o dogma do inferno, porque êste nos é demonstrado pela palavra infalível de Deus; narro tais aparições sòmente para confirmar e elucidar essa verdade, e como argumento de salutar meditação.
 
Monsenhor Ségur, no seu áureo opúsculo sôbre o inferno narra três fatos, cada qual mais autêntico, acontecidos não faz muito tempo.
 
*
*            *
 
O primeiro, diz ele, sucedeu quase em minha família, pouco antes da terrível campanha de 1812, na Rússia. Meu avô materno, o Conde Rostopkine, governador militar de Moscou, era intimamente relacionado com o general Conde Orloff, tão valoroso quanto ímpio.
 
Um dia, após a ceia, o conde Orloff e um seu amigo, o general V…, volteriano como êle, puseram-se a ridicularizar a religião e sobretudo o inferno:
 
– Mas…, disse Orloff, e se houvesse alguma coisa além do túmulo?
 
– Neste caso…, diz o general V…, o primeiro que morrer virá avisar o outro; de acôrdo?
 
– Pois não, responde Orloff.
 
E ambos prometeram seriamente não faltar à palavra.
 
Algumas semanas após, desencadeou-se um daquelas guerras que Napoleão sabia suscitar; o exército russo foi chamado às armas, e o general V… recebeu ordem de partir incontinenti para um pôsto de comando.
 
Duas ou três semanas depois da partida de Moscou, quando meu avô se levantara, bem cedo, viu abrir-se bruscamente a porto do quarto e entrar o conde Orloff, com roupa de dormir, de chinelos, cabelo em desalinho, olhos esbugalhados, pálido como cera.
 
– Oh! Orloff vós aqui a esta hora? Neste traje? Que aconteceu?
 
– Meu caro, responde Orloff, eu perco a cabeça; vi o general V…
 
– Oh! Ele já voltou?
 
– Não, continua Orloff, atirando-se a um divã, não, não voltou, e é isto que me espanta.
 
Meu avô nada compreendia e procurava acalmá-lo.
 
– Contai-me, então, lhe disse, o que aconteceu e o que significa tudo isto.
 
Fazendo grande sefôrço para se acalmar, o conde Orloff contou o seguinte:
 
– Meu caro Rostopckine, não faz muito, o general V… e eu, juramos que o primeiro que morresse, viria avisar o outro se há de fato alguma coisa além do túmulo. Ora, pela madrugada, enquanto estava tranqüilo na cama, acordado, sem pensar no amigo nem no juramento, abre-se de repente o cortinado do meu leito e vejo, a dois passos de mim, o general V… de pé, desfigurado, com a mão direita no peito, e me fala: “Existe um inferno, e eu lá estou…” e desapareceu. Na mesma hora corri até cá; eu perco a cabeça! Que coisa estranha! não sei o que pensar!
 
Meu avô tranqüilizou-o como pôde: falou-lhe de alucinação, fantasia… que êle talvez estivesse dormindo… que às vêzes dão-se casos extraordinários, inexplicáveis… E procurava persuadí-lo com outros meios termos, que apesar de nada valerem, servem para consolar os céticos. Mandou preparar o coche e acompanhou o conde à sua casa.
 
Dez ou doze dias depois deste estranho acontecimento, um estafeta do exército comunicava ao meu avô, entre outras coisas, a morte do general V…
 
Naquela madrugada em que o conde Orloff o tinha visto e ouvido, o infeliz general, saindo a estudar a posição do inimigo, foi varado por uma bala e caiu morto.
 
“Existe um inferno, e eu lá estou…”
 
Eis as palavras de um que veio do outro mundo!
 
 
*
*          *
 
O segundo fato é referido pelo mesmo autor, que o tem por indubitável, como o precedente […]
 
 
(………segue na parte 2………)






1 Justus es, Domine, et rectum judícium tuum. (Salmo 118).


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