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Artigo N.º 3349 - NÃO AOS ELOGIOS
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Postado em: 13/10/09 às 19:34:02 por: James
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12/10/2009 21:53:35


Tem causado espanto alguns elogios rasgados de setores do Vaticano a Obama, e também o fazer vistas grossas a tantos presidentes terríveis que por aí vemos. Este artigo nos faz ver que nem todos os bispos e cardeais concordam com estes elogios, mas também faz ver a outra parte: o que fazem de efetivo contra isso? Obama merece um requiem, não um louvor!


Por Sandro Magister – www.Chiesa


 

Em um artigo-bomba publicado em Roma, Charles J. Chaput, bispo de Denver, critica o presidente americano e os homens da Igreja que o exaltam, encabeçados por Cottier, cardeal da Cúria. Porém, a Secretaria de Estado do Vaticano também está na mira.


 

ROMA, 8 de outubro de 2009 – “Sempre defenderei com veemência o direito dos bispos de me criticarem”, havia garantido Barack Obama às vésperas da audiência que teve com Bento XVI, no último dia 10 de julho.


 

De fato, são oitenta os bispos católicos dos Estados Unidos que estão em flagrante desacordo com ele sobre questões cruciais, em primeiro lugar, a defesa da vida. Entre eles está o Cardeal Francis George, Presidente da Conferência Episcopal e Arcebispo de Chicago, a cidade de Obama.


 

Igualmente, o bispo de Denver, Charles J. Chaput, de 65 anos, originário de uma tribo nativa americana, franciscano da ordem dos capuchinhos, há um ano autor de um livro que já diz muito pelo título: “Render unto Caesar. Serving the Nation by Living Our Catholic Beliefs in Political Life” (Dai a César: servindo à nação ao viver nossas crenças católicas na vida política). É justo dar a César o que ele espera, mas se serve a nação vivendo a própria fé católica na vida pública.


 

Chaput não gosta da forma com que Roma, no Vaticano, dissimula as críticas da Igreja americana a Obama. Ele não gostou, particularmente, dos elogios desenfreados feitos ao presidente americano no último mês de julho – que coincidiram com o encontro de Obama com o Papa – por parte de um venerável cardeal da Cúria, o suíço Georges Cottier, teólogo da Casa Pontifícia, com um ensaio na revista “30 Dias”.


 

“30 Dias” é uma revista de geopolítica eclesiástica muito lida na Cúria Romana. A revista é dirigida pelo mais “curial” dos políticos católicos italianos de longa data, o senador vitalício Giulio Andreotti. A publicação chega a todas as dioceses do mundo em seis idiomas e reflete plenamente as políticas realistas da diplomacia vaticana.


 

Depois de ter lido o entusiasmado artigo do Cardeal Cottier – entusiasmado, sobretudo, com o discurso pronunciado por Obama na Universidade católica de Notre Dame – e depois de ter lido também um editorial anterior de “L’Osservatore Romano”, igualmente bastante elogioso para com os primeiros cem dias do governo do presidente americano, incluindo “o apoio à maternidade”, Chaput considerou que era seu dever refutá-los.


 

Tomou papel e lápis e respondeu palavra por palavra: a Obama, ao cardeal Cottier e à Secretaria de Estado do Vaticano. E não o fez em um diário dos Estados Unidos, mas sim em um diário impresso em Roma, para que o Vaticano o visse.


 

A sua réplica foi publicada em 6 de outubro no “il Foglio”, o diário de opinião dirigido por Giuliano Ferrara, um não católico, mas muito atento ao rol público das religiões, e de simpatias decididamente “ratzingerianas”.


 

O artigo do bispo de Denver ocupou toda a terceira página, com o título: “O machado do bispo pele vermelha. Charles J. Chaput contra Notre Dame e o ilustre cardeal seduzido pelo abortista Obama”.


 

O texto está reproduzido abaixo, com o título original.


 

No mesmo 6 de outubro, na primeira página, “il Foglio” publicou também uma entrevista com o cardeal George, presente nestes dias em Roma para apresentar um novo livro de sua autoria, sob o título “The Difference God Makes. A Catholic Vision of Faith, Communion, and Culture” [A diferença que Deus faz. Uma visão católica sobre a fé, a comunhão e a cultura].


 

Na entrevista, entre outras coisas, disse o cardeal:


 

“Hoje, a maior dificuldade que temos como Igreja é a de comunicar à sociedade que existe uma hierarquia de valores. Tomemos a questão do aborto e da vida em geral. A voz da Igreja é ouvida nos Estados Unidos, mas também é muito combatida. E as críticas à Igreja ocorrem por um motivo: porque nossa sociedade considera que o individualismo e a liberdade de escolha são os valores mais importantes que devemos proteger. Hoje, o livre arbítrio vale mais que a vida”.


 

E também:


 

“A moral da Igreja sobre certos temas jamais mudou. É verdade que L’Osservatore Romano pode ter escrito uma dúzia de linhas favoráveis a Obama e que algum cardeal pode ter falado com entusiasmo da atual administração americana, mas, além das manifestações jornalísticas, permanece de pé a máxima que a Igreja não pode trair a si mesma”.


 

A política, a moral e um presidente. Uma visão americana.


 

Por Charles J. Chaput


 

Um dos pontos fortes da Igreja é a sua perspectiva global. Neste sentido, o recente ensaio publicado pelo cardeal Georges Cottier sobre o presidente Barack Obama (“A política, a moral e o pecado original”, em “30 Dias”, n° 5, 2009) ofereceu uma valiosa contribuição ao debate católico sobre o novo presidente americano. Nossa fé nos une mais além dos limites. O que acontece em uma nação pode exercer um impacto importante em muitas outras. A opinião mundial sobre os líderes dos Estados Unidos não só é apropriada, mas também deve ser bem recebida.


 

Não obstante, o mundo não vive e não vota nos Estados Unidos, porém, os americanos sim. As realidades pastorais de cada país são melhores conhecidas pelos bispos locais que guiam o seu povo. Assim, quanto ao tema dos líderes americanos, as reflexões de um bispo americano, certamente, podem despertar um interesse significativo, uma vez que elas podem aprofundar um juízo positivo do cardeal, ao oferecer uma perspectiva diferente.


 

Devo advertir que aqui falo somente a título pessoal. Não falo em nome dos bispos americanos entendidos como um organismo, nem em nome de qualquer outro bispo. E nem sequer pretendo me referir ao discurso do presidente Obama ao mundo islâmico, que o cardeal Cottier menciona em seu ensaio. Para poder fazer isso seria necessário redigir outro artigo.


 

Pelo contrário, me concentrarei no discurso de formatura pronunciado pelo presidente na Universidade de Notre Dame, e nas observações do cardeal Cottier a este respeito. Esta decisão se dá por dois motivos.


 

Primeiro, os membros de minha diocese pertencem à comunidade nacional de Notre Dame, como estudantes, formandos e padres. Cada bispo tem um papel decisivo na fé das pessoas confiadas a seus cuidados, e Notre Dame tem sido sempre muito mais que uma simples universidade católica: é um ícone da experiência católica americana.


 

Segundo, quando o bispo local de Notre Dame se declara em desacordo com um determinado orador, e outros oitenta bispos e trezentos mil leigos respaldam abertamente o bispo, toda pessoa razoável deve deduzir que existe um problema concreto com relação a este orador, ou ao menos com relação a seu discurso específico. As pessoas razoáveis podem ademais optar por divergir do juízo dos pastores católicos mais diretamente envolvidos na controvérsia.


 

O ensaio do cardeal Cottier, de maneira infeliz e inconsciente, subestima a gravidade do que aconteceu em Notre Dame. E de uma maneira por demais apelativa, passa por cima da concordância do pensamento de Obama com a doutrina católica.


 

Há vários pontos importantes a serem realçados.


 

Primeiro, o desacordo sobre a intervenção do presidente Obama na Universidade de Notre Dame não tem nada a ver com a questão de ser ele um homem bom ou mau.


 

Indubitavelmente, ele é um homem de grandes dotes. Possui um ótimo instinto moral e político e demonstra uma devoção admirável por sua própria família. Estas são coisas que contam, mas, desgraçadamente, contam também estas outras: o ponto de vista do presidente sobre questões decisivas de bioética – incluindo o aborto, porém sem a este se limitar – difere radicalmente da doutrina católica. É precisamente por isso que Obama pôde contar durante muitos anos com o apoio de poderosas organizações favoráveis ao “direito ao aborto”. Em alguns círculos religiosos fala-se de simpática do presidente pela doutrina social católica, mas a defesa do fato é uma exigência de justiça social. Não existe nenhuma “justiça social” se os membros mais jovens e indefesos da espécie humana podem ser assassinados legalmente. Certamente, os bons programas para os pobres são vitais, mas estes não podem servir para justificar esta violação fundamental dos direitos humanos.


 

Segundo, em algum outro momento e em outras circunstâncias, a controvérsia em Notre Dama poderia ter desaparecido facilmente se a universidade tivesse pedido simplesmente ao presidente que proferisse uma conferência pública. Mas no momento em que os bispos americanos já haviam expressado uma forte preocupação com políticas abortistas da nova administração, a Universidade de Notre Dame fez do discurso de Obama o acontecimento culminante da cerimônia para a entrega dos títulos de licenciatura e também lhe entregou um doutorado “honoris causa” em Direito, isso apesar das inquietantes posições do presidente a respeito da lei sobre o aborto e outras questões sociais a ela vinculadas.


 

A verdadeira causa das preocupações católicas sobre a intervenção de Obama em Notre Dame foi sua própria posição abertamente negativa acerca do tema do aborto e outras questões controversas. Com sua iniciativa, a Universidade de Notre Dame ignorou e violou as linhas mestras expressas pelos bispos americanos no documento “Catholics in Political Life” [Católicos na Vida Política], publicado em 2004. Neste documento, os bispos exortavam as instituições católicas a não conceder honras públicas a funcionários de governo que estivessem em desacordo com a doutrina da Igreja em questões de importância primordial.


 

Deste modo, o áspero debate que na primavera passada causou danos os ambientes católicos americanos a propósito da condecoração outorgada a Barack Obama pela Universidade de Notre Dame não foi em absoluto sobre políticas partidárias. Pelo contrário, remetia a questões essenciais da fé, à identidade e ao testemunho católicos – impulsionadas pelos pontos de vista de Obama –, que o cardeal Cottier pode ter compreendido mal, ao escrever fora do contexto americano.


 

Terceiro, o cardeal ressalta justamente os pontos de contato entre a procura, freqüentemente acentuada por Obama, de um “terreno político comum” e a promoção católica do “bem comum”. Estes dois objetivos (buscar um terreno político comum e promover o bem comum) podem freqüentemente coincidir, mas não são a mesma coisa, podem ser muito diferentes na prática. As chamadas políticas de “terreno comum” sobre o aborto podem na realidade minar até a raiz o bem comum, porque implicam uma falsa unidade: estabelecem uma plataforma de acordo público demasiado estreita e débil para sustentar o peso de um autêntico consenso moral. O bem comum não poderá jamais ser promovido por aquele que tolera o assassinato dos mais débeis, começando pelas crianças que ainda não nasceram.


 

Quarto, o cardeal Cottier recorda justamente aos próprios leitores o respeito recíproco e o espírito de colaboração requeridos pelo princípio de cidadania em uma democracia pluralista. Mas o pluralismo não é um fim em si mesmo, tampouco é uma desculpa para a inércia. Como reconheceu o mesmo Obama em seu discurso na Universidade de Notre Dame, a vida e a solidez da democracia dependem da convicção com a qual o povo está disposto a combater publicamente por aquilo em que crê, de forma pacífica e legal, mas com vigor e sem lamentação.


 

Infelizmente, o presidente também proporcionou uma curiosa observação, precisamente, que “a grande ironia da fé é que implica necessariamente a presença da dúvida… Mas esta dúvida não nos deve afastar de nossa fé, mas, pelo contrário, deve nos tornar mais humildes”. Em certo sentido, obviamente, isso é certo: deste lado da eternidade, a dúvida faz parte da condição humana. Mas a dúvida é a ausência de algo, não é um valor positivo. Se impedir os crentes de agir sobre as bases das exigências da fé, a dúvida se converte em uma debilidade fatal.


 

O costume da dúvida se adapta com demasiada facilidade a uma espécie de “incredulidade batizada”: um cristianismo que é um pouco mais que uma vaga lealdade tribal e um vocabulário espiritual conveniente. Muitíssimas vezes, na recente experiência americana, o pluralismo e a dúvida se converteram num álibi para a inércia e a letargia política a moral dos católicos. Talvez a Europa seja diferente. Mas parece-me que o atual momento histórico (que compartilham os católicos americanos e europeus) não se parece em nada com as circunstâncias sociais que tiveram de afrontar os antigos legisladores cristãos mencionados pelo cardeal. Estes homens tiveram a fé e também o zelo necessários (temperados pela paciência e pela inteligência) para encarnar explicitamente na cultura o conteúdo moral de sua fé. Em outras palavras, edificaram uma civilização esculpida pelo credo cristão. O que está acontecendo hoje é algo completamente diferente.


 

O ensaio do cardeal Cottier é um autêntico testemunho de seu próprio espírito generoso. Fiquei chocado particularmente por seus elogios ao “humilde realismo” do presidente Obama. Espero que ele tenha razão. Os católicos americanos desejam que ele tenha razão. A humildade e o realismo são o terreno sobre o qual pode crescer uma política fundada no bom sentido, modesta, à medida do homem e moral. Ficamos na expectativa para ver se o presidente Obama pode proporcionar uma liderança desse tipo. Temos o dever de rezar por ele, para que possa fazê-lo e o faça.


Fonte: www.recadosaarao.com.br



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