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Artigo N.º 6437 - Bom-tom e educação
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Visto: 3454
Postado em: 17/10/10 às 08:47:44 por: James
Categoria: Marisa Bueloni
Link: http://www.espacojames.com.br/?cat=123&id=6437
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(Marisa Bueloni)

Bons modos, educação, saber comportar-se, ainda que com simplicidade, nos mais diferentes lugares e situações sociais, é coisa que se aprende desde criança, dentro de casa. Lembro-me até hoje do primeiro concerto de piano a que fui convidada a assistir, menina ainda, e advertida para não tossir. Tossir em concerto de música era considerado uma extrema falta de educação e de respeito.

Pois, para meu espanto, durante a audição, houve tosses, pigarros, e até espirros. Aprende-se, desde cedo, que as regras e códigos da vida em sociedade também são infringidos. E o mundo não acaba por causa disso.

Não consegui guardar, até hoje, quem apresenta quem: se o mais velho é apresentado ao mais novo; se a mulher é apresentada ao homem; se a pessoa mais importante a menos ilustre. (Será que acertei?). Penso que para todas estas delicadas situações de apelo social, podemos lançar mão de saídas sempre simpáticas e naturais, quebrando o rigor e o formalismo de etiquetas nem sempre muito lógicas.

Houve um tempo em que falar alto na igreja era algo comparado a pecado mortal. Minha mãe não permitia conversa durante a missa, sobretudo enquanto o padre fazia o sermão do Evangelho. Cresci aprendendo que, no interior de uma igreja, nossa atitude deve ser de absoluto silêncio e respeito.

Terminada a missa, então sim, podíamos sorrir e conversar com nossos amigos e conhecidos, mesmo ainda dentro do templo. De forma comedida. Chego a pensar que o atual momento da liturgia, em que desejamos a paz de Cristo ao outro, deve ter sido criado em função de se descontrair um pouco o tom solene e pesado das antigas missas. Sem contar que é um gesto maravilhoso estender as mãos a quem está do nosso lado e sorrir para esta pessoa. Mas há quem retribua o gesto sem nenhum sorriso e sem mesmo olhar nos nossos olhos. Uma pena.

E tem ainda algo que me incomoda. Por exemplo, eu chego cedo para conseguir um bom lugar, na parte da igreja em que gosto de assistir à missa. Regularmente, depois da celebração começada, chegam os atrasados. Vem uma família inteira e quer se acomodar no banco onde estou. Sinto-me quase empurrada para fora, na ponta do banco. Uma vez, olhei para todos eles, tipo “fiquem à vontade”, me retirei e mudei de lugar. Ficaram com cara de tacho.

Bem, os costumes e os valores mudam. O que era considerado impensável há alguns anos acaba se tornando natural e aceito com os novos tempos. Na minha juventude, era uma afronta ir ao cinema de calça comprida. Este traje destinava-se aos piqueniques, aos passeios a sítios e chácaras, aos jogos de basquete do glorioso XV de Novembro e a bailes de carnaval. Daí em diante, todo o cuidado era pouco. Cinema, só de vestido ou saia, e sapato social.

Houve um tempo em que aos homens eram permitidas duas ou três cores para o vestuário: calça azul-marinho ou marrom e a camisa branca ou bege. Calça masculina branca era uma excentricidade, privilégio de artistas e cantores. Foi preciso anos de evolução mental para se alcançar a modernidade das cores. Ai do homem que se arriscasse numa camisa cor-de-rosa ou estampada...

E a calça masculina com zíper na vista? Uma invenção das Arábias! Coisa que existia nos grandes magazines da capital e demorou um pouco para chegar ao interior. E quando chegou causou certa estranheza... Huummm... A calça antiga era de botões na braguilha. E agora aparece esta novidade... Mas depois de assimilada e incorporada ao uso diário, ninguém mais se lembrava do velho modelo. E o zíper que nas calças femininas era na lateral, passou a ser na frente também.

Creio que a bênção maior de nossas vidas foi a calça jeans, naquele tempo conhecida como “calça rancheira” aqui no interior. Começou com a “calça Lee”, difícil de achar e, quando se achava, era o ouro do guarda-roupa. Ah, que delícia ir às aulas na faculdade de calça Lee, blusa canelada de gola roulê e sandálias de couro marrom. E os cabelos longos ao vento. Quem tinha uma calça Lee tinha tudo. Depois, surgiram outras marcas e hoje o jeans é uma democracia maravilhosa. Sem contar que deixa todo mundo lindo.

Sim, houve um tempo inacreditável. Tudo o que transgredisse as normas rigorosamente implícitas era mal-visto, colocado na conta da falta do bom-tom e de educação, podendo atingir a moral e a reputação das pessoas. Por exemplo: moça que namorasse firme ficava meio impedida de sair à noite ou passear com as amigas, se o namorado estivesse fora, viajando. O bom senso sugeria que ela ficasse em casa.

Em todo caso, glória das glórias era conseguir passar pelo porteiro do cinema e, aos 15, assistir ao filme proibido para 18 anos. A censura era levada a sério, muito adolescente era barrado na porta do cinema, sob o olhar reprovador do gerente. A boa educação mandava dar meia volta. E os filmes proibidos, comparados aos de hoje, eram pura inocência.

A carteira de estudante, que no cinema permitia pagar meia-entrada, era um capítulo à parte nesta história. Iniciado um namoro, era de bom-tom que a carteira de estudante da moça ficasse com o namorado. Rompido o romance, a ansiedade arrasava o coração no momento de se “devolver a carteirinha”. Eu passei por isso. E ao se devolvê-la, estava tudo acabado. Para ter certeza de que um namoro havia chegado ao fim, dizia-se: “acabou mesmo, ele já até devolveu a carteirinha dela”. Não era lindo?

Bom-tom e educação são duas joias preciosas que não podem nunca perder o brilho. Parece coisa do passado, de uma antiguidade risível. No entanto, como fazem falta no mundo de hoje! Quanta gente desconhece um mínimo de gentileza e de cuidado no trato com o outro. Por mais que os valores mudem, que tudo fique absurdamente descontraído e sem etiqueta alguma, como é bonito encontrar alguém que ainda se porta com elegância e educação.

Saber ser gentil, dizer “por favor”, “com licença” e “muito obrigado” – ah, que coisa boa! Sorrir, dar os parabéns, mandar um e-mail carinhoso, fazer um elogio, soprar um beijo de longe, acenar, dizer “eu gosto de você” – sou uma incansável batalhadora das gentilezas, das delicadezas e da boa educação.



Marisa Bueloni mora em Piracicaba. É formada em Pedagogia e Orientação Educacional (marisabueloni@ig.com.br)



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