Marisa Bueloni

Temos de rezar todos os dias e fazer de cada momento uma oração. Não há outro modo de enfrentar um cotidiano marcado por tanta violência e por acontecimentos que nos assombram cada vez mais. Existe tanta tragédia em toda parte e nos sentimos impotentes diante da dor.

    A dor do próximo, às vezes, nos parece tão distante, porque a vemos pelas cenas da tevê. A dor da perda de pessoas amadas, vidas devastadas para sempre, convivendo com o medo, o infortúnio, o desamparo.  A perda dos bens materiais, da casa, do lugar amado onde se viveu a vida toda. De repente, a pessoa está só, sem os seus entes queridos, apenas com a roupa do corpo. Como dar apoio a esta dor?

    Há luto em muitos lugares da Terra. O tempo está de luto, fechado para o céu azul, pois uma onda de desastres  varre  as nações e se incumbe de causar a tristeza sem nome. O coração do homem está assustado com esta implacável seqüência de cataclismos, atingindo diferentes regiões do globo terrestre.  

    Faço deste humilde texto uma prece diária para se contrapor às amarguras destes tempos fatais. Juntar as mãos para pedir paz ao mundo e fazer de cada momento uma oração interior. Saber que as coisas mais belas da vida estão dentro do nosso próprio coração. A sensação de morte superada pelo frêmito da vida, o anúncio secreto de uma alegria nascitura, de paz benfazeja que dá alívio a todas as dores. 

    A oração também revigora e traz um novo ânimo ao espírito. Se a alma pede trégua, então é preciso orar com fé. Nestas horas, há algumas coisas das quais ninguém deveria abrir mão: a bondade, a ternura, o gesto amoroso, a gentileza, o sorriso, o abraço. Receber e dar. Dizer ao outro as palavras de ouro, que contêm perfume do céu; e ouvi-las também, vindas de quem as aprendeu na luta e na escola da vida. 

    Há algumas coisas simples e essenciais que iluminam nossa existência pequenina: uma gaveta bem arrumada, a cama feita, o chão limpo, a água na torneira, o café coado, o pão fresco, uma fruta, um alimento que se come pensando n´Aquele que o criou. Uma roupa que se veste com alegria, um vento que passa deixando saudades, um banho perfumado – são algumas maravilhas pequeninas às quais nem sempre damos o devido valor.  

    No momento da prece, um raio de sol penetra nossa alma, sobretudo se sabemos rezar pelos outros. Uma prece para quem chega, desejando que o novo ser encontre um mundo mais justo e mais humano; uma prece de réquiem para quem parte, desejando que tenha ido em paz. E aqui rendo uma homenagem aos que partiram recentemente para a Casa do Pai. A eles, o meu adeus emocionado. 

    Estas são algumas preces diárias, rezadas nas lembranças que a vida vai traçando, em cada passo do caminho. Os momentos tão vívidos, de um tempo que se foi, deixando um aperto no peito. Saudades dos professores de antigamente, quando a escola ainda era um lugar seguro. Quando havia um sentido para as coisas. Mas há algo pairando no ar, além dos sonhos: restos de esperanças, murmúrios de anjos, sinfonias inacabadas, com a sensação de algo prestes a chegar. E o que mais o coração permitir. Ou suportar.

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Marisa Bueloni é formada em pedagogia e orientação educacional. (marisabueloni@ig.com.br)