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Artigo N.º 3945 - As Visões de Fanny Moisseiva - O Inferno - Parte 1
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Postado em: 30/12/09 às 07:34:53 por: James
Categoria: Sonhos e Visões
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Espacojames: As Visões de Fanny Moisseiva - Em 1928, aconteceu um fato extraordinário com uma russa de nome Fanny Moisseiva, que sendo hospitalizada foi dada por morta. Ela só não foi enterrada, porque um médico amigo percebeu que a temperatura do corpo dela não baixava. E assim ela permaneceu por nove dias em profundo sono letárgico. Durante este tempo, ela foi levada a visitar, o Céu, o Purgatório, o Inferno, e ainda teve a visão do Fim do Mundo, da Vinda Gloriosa de Jesus e do Juízo Universal, e deles faz a descrição.


Continuamos com a disposição de apresentar o leitor os escritos de Fanny Moisseieva, resultantes de suas visões havidas durante o sonho letárgico de nove dias pelo qual ela passou. Aqui apresentamos o inferno com toda a sua horripilancia. Muitas pessoas, santos e profetas, também leigos, já tiveram pela graça de Deus estas visões de horror. Cada um a descreve de seu modo, uns num ambiente mais amplo, outros em mais restritos, o certo é que o inferno inteiro é uma câmara de horrores, com bilhões de departamentos de tortura.

As visões de Fanny são mais uma tentativa de dar ao leitor uma idéia do que significa aquele lugar. Cada homem pagará de acordo com o volume e a intensidade de seus pecados e com seus atos de maldade, ninguém menos, ninguém mais do que deve. Há muitos milhares de níveis de sofrimento, porque a Justiça Eterna de Deus, até ali se faz presente e é obedecida em seus limites. Ou seja: o poder de Deus é tão imenso, que até mesmo naquele Lugar onde nunca mais se poderá saber Dele, ainda assim ali se cumpre a vontade Eterna do Criador. Eis porque ela vai descrever o tormento de alguns grandes pecadores, e como servirão de repasto ao inferno. Ao longo do texto iremos fazendo alguns comentários, explicando os números de ordem.

Fanny Moisseieva

MEU SONO LETÁRGICO DE NOVE DIAS

PARTE IV – O INFERNO

Advertências da autora

Há homens que dizem: se Deus é verdadeiramente misericordioso, não pode martirizar as almas humanas no inferno, quanto mais eternamente. Talvez, querido leitor, você mesmo terá pronunciado estas amargas palavras muitas vezes, ou bem teve tal pensamento, sem pensar que Deus havia descido do Céu à terra precisamente para redimir os homens do inferno. Ele havia descido para aliviar-nos o caminho até o luminoso reino dos Céus e armar-nos do sinal da Cruz contra Satanás.

Mas a isto se pode contrapor: “– Porém, por quê, então, o Senhor permite a existência de Satanás e por que Ele o criou?” Deve se lembrar que Satanás tinha sido criado como anjo puro e que só mais tarde se afastou de Deus com todos os seus sequazes. Sendo um espírito incorpóreo, ele, por isto só é imortal, conseqüentemente eterno.

Assim é o homem. Nasce um menino puro, sem pecados (Sim com o pecado original), porém mais tarde se afasta tantas vezes de Deus, não reconhece Sua Vontade, rebela-se contra Ele e atua mal. Tal homem, depois de sua morte inevitável, certamente vai ao inferno, como havia dito Nosso Senhor: “Ao fogo eterno, preparado para o diabo e para seus anjos” (São Mateus 25, 41). Entretanto, não obstante estas santas palavras, há homens que decididamente refutam a doutrina do inferno, contrariamente aos ensinamentos de Jesus Cristo, o qual prevenia os homens para que não fossem parar neste lugar de martírio.

Segundo alguns sábios, este martírio não seria eterno; entretanto, deve-se advertir que na Epístola aos Hebreus (1, 8) diz-se: “Pelos séculos dos séculos, o cetro de seu reino é um cetro de retidão”. As mesmas palavras estão no Apocalipse (20, 10), onde se diz claramente: “e serão atormentados dia e noite pelos séculos dos séculos”.

O inferno é terrível! É terrível porque já significa a separação eterna de Deus e esta separação não é a simples inconsciência, muito mais é o sofrimento físico neste lugar: “... onde seu verme não morre e o fogo não se apaga.” (São Marcos 9, 48) No Evangelho de São Mateus (8, 12), diz-se: “ali haverá pranto e ranger de dentes.” Também o Santo Evangelho ensina:E além de tudo isto, entre nós e vocês há um grande abismo, de maneira que aqueles que queiram passar daqui para vocês não podem nem daí passar para nós” (São Lucas 16, 26).

Serve de exemplo para todos os pecadores a sorte de um rico que ouvia tudo e, encontrando-se no inferno, ouvia chegar desde o paraíso as palavras de Abraão: “estava em plena consciência, mas atormentado terrivelmente” (São Lucas 16, 19-23). Não há escrito sagrado no qual se mencione qualquer transformação no inferno depois da ressurreição de Cristo.

Capítulo I

Desta vez fomos separados do planeta rígido e gélido, de novo voamos para cima. Dirigimo-nos para um novo planeta, todo reluzente, e à medida que nos aproximávamos, encontrávamos uma atmosfera cada vez mais incandescente. Evidentemente, uma força desconhecida, que emanava do próprio planeta, produzia este fenômeno.

Não sei porque, mas eu sentia uma estranha turvação na alma, à medida que diminuía a distancia que nos separava dele; a vivísima luz que dele emanava me cegava os olhos e todo o corpo sentia um calor insuportável. Finalmente, chegamos ao alto de uma montanha que se erguia sobre todo o planeta. Desde este topo, podia-se alcançar um amplo horizonte. À direita e à esquerda, entre cadeias de montes, via-se vulcões ativos, que lançavam fogo em grande quantidade. Nuvens de  fumaça negra e torrentes de fogo saíam de suas crateras, como de gigantescas bocas abertas e envolviam tudo com uma neblina espessa, com pedras candentes e a lava que saíam das entranhas da terra. Canais sinuosos de metal fundido desciam lentamente, com uma cintilação estranha, desde os cumes dos vulcões até os vales.

Tudo ao redor estava imerso na escuridão. Por algumas horas apareceu o disco de um astro, semelhante ao nosso sol, mas que aparecia coberto por um denso véu, emanava uma luz fraca, crepuscular; passado este breve período, caía de novo a longa e triste noite, durante a qual se viam saltar aqui e ali as pequenas luzes errantes de chama maléfica, as quais apareciam com intermitência extraordinária, sempre crescente e depois desapareciam completamente.

Cada vez eu me sentia mais angustiada e triste. Não consegui descobrir nenhuma vegetação, exceto alguns arbustos sem folhas de uma cor cinzenta e de uma forma estranha trepando aqui e ali pelas planícies e os vales. Virando-me para trás pude descobrir algum rio. Suas águas lodosas seguiam lentamente, como apáticas. Por toda parte reinava a desolação e a escuridão. E tudo me parecia deserto, mas meu companheiro, de repente estendeu-me o braço, indicando-me um dos profundos precipícios e disse: “– Olha!”

Fixando a vista naquela direção, vi algumas figuras que se moviam rapidamente em meio a luzes imperceptíveis. Desde a altura onde eu observava tudo, pareciam-me pequenas como formigas. Começamos a descer, sempre nos aproximando àquele precipício, e quando estávamos próximos paramos diante de uma rocha escarpada.

“– Todos estes são pecadores”, disse meu companheiro. “– Agora você ficará só entre eles, sem mim, mas se acontecer qualquer coisa a você, mesmo que você se assuste, não deve rezar, porque aqui é severamente castigado quem dirige uma oração a Deus. Eu não estou certo disso, mas creio que lhe acontecerá algo também se você rezasse. Não esqueça que este é o reino dos espíritos do mal. Não deve rezar nunca, porque a oração deste reino não chega a Deus.”

“– Por quê? Por que nunca?” Eu não consigo compreender como é possível que a oração possa ter obstáculos.” E o companheiro me respondeu: “– O obstáculo consiste na graça de Deus que não chega até as almas dos pecadores. Assim como os homens não podem falar à distância sem o rádio, assim também a oração sem a graça do Espírito Santo não pode chegar a Deus.” E desapareceu. Então, ainda mais de perto, eu vi como os pecadores dançavam loucamente uma dança selvagem; dançavam desesperadamente e parecia que sua dança não devesse nunca ter fim. Os demônios arrastavam homens, mulheres e idosos aos lugares mais abertos para atormentá-los ali e quando estes, esgotados, caíam ao chão proferindo horríveis imprecações eram agarrados pelos pés e atirados a um turbilhão.

Deixei aquele desfiladeiro e comecei a descer até a planície. Mas aqui vi um tórrido e vastíssimo deserto e aqui também a terrível dança dos miseráveis pecadores, que não parava um instante enquanto eles derramavam lágrimas dilacerantes. Observando-os mais atentamente, vi que junto a eles dançavam também espíritos malignos rindo selvagemente sem nunca se cansar. Eles obrigavam as infelizes almas a girar cada vez mais velozmente, gritando sem interrupção: “– Alegres, todos alegres!” Alguns, dando saltos, se elevavam sobre a multidão dos pecadores e gozavam com a visão da gente nua e martirizada, com os cabelos revoltos, sem lavar nem pentear há séculos, nos quais havia cravados espinhos.

Que terríveis e poderosos eram aqueles espíritos malignos! Faziam os pecadores se desesperar. Atando-os com ramos espinhosos e fazendo-os dar voltas assim sobre as areias ardentes, cuspindo-lhes nos olhos, agarrando-os pelos cabelos, abrindo-lhes a boca à força até rasgá-la, golpeando-lhes violentamente com pedras, cegando-lhes e fazendo-lhes caminhar, depois destas e outras torturas inauditas, com aquele sofrimento, por precipícios cujo fundo estava cheio de pedras afiadas como navalhas. E enquanto eles caminhavam, os demônios montavam ao pescoço de cada pecador, pegando-os pelos cabelos e guiando-os assim pelo doloroso caminho. Se alguém conseguia soltar-se do espírito maligno, imediatamente lhe pegava outro e os sofrimentos recomeçavam, ainda mais penosos e intoleráveis.

Alguma vez também, aqueles demônios horríveis mostravam ao pecador os rostos de seus parentes e de outras pessoas queridas que se encontrava sofrendo junto a ele no inferno, ou começavam a analisar o passado terrestre de suas vítimas, mas limitadamente aos pecadores e às más ações. Faziam o pecador ter as visões de todos os seus pecados terrestres pelos quais haviam sido condenados, de modo que a estância infernal se tornava ainda mais intolerável.

Eu proseguia meu caminho, deixando atrás o horrível, tórrido infinito deserto e os pecadores dançantes ao som das risadas sarcásticas dos demônios. E cheguei logo a um vale cheio de pedras onde, de vez em quando, passava um formidável furacão que levantava nuvens de poeira e lançava ao ar as próprias pedras. Os espíritos infernais perseguiam aqui a uma multidão de seres cujos semblantes conservavam já bem pouco da natureza humana: estavam extremamente magros e seus braços pendiam inertes; todo seu aspecto denotava sofrimentos inimagináveis. Torturados pela sede, arrastavam-se com dificuldade, em silêncio, com a boca cheia de poeira. Ao redor reinava um cheiro horrível e nuvens de fumaça negra envolviam tudo. Entre estes pecadores, alguns lutavam violentamente a pesar de saberem dos terríveis castigos que os esperavam; porém eram já indiferentes a tudo porque estavam habituados a ser atormentados continuamente e porque haviam compreendido que, ali no inferno, já não podiam ter esperança alguma, assim já não reclamavam mais.

Não podendo suportar mais aquele terrível furacão de poeira, segui adiante, caminhei longo tempo e, finalmente, deparei-me à beira de um charco lodoso. E pareceu-me que nele chafurdavam seres de aspecto repugnante. Vi depois como os pecadores, torturados pela sede, corriam até aquele tanque pestilento e bebiam daquela água fétida. Dava-me horror olhar aqueles pecadores tão continuamente torturados e sempre rodeados dos demônios, furiosos, perversos e trapaceiros. Com grande medo e quase parando a cada passo, avancei até as rochas que se perfilavam à distância e decidi esperar sobre elas o retorno do meu companheiro. Ali escolhi um lugar, o mais tranqüilo, e cansada das impressões sofridas, sentei-me sobre as pedras.

De repente, um misterioso alvoroço sobressaltou-me. Vinha de um lugar pouco distante. Aguçando o ouvido, percebi suspiros profundos e penosos. Voltei-me e olhei: a poucos passos, aos pés de uma enorme rocha cinza, jaziam pecadores esgotados, tristemente com o olhar fixo na noite impenetrável. “– Sempre a noite, somente a noite, e nunca a luz! É possível que não chegue nunca o amanhecer?”, perguntou um deles, lembrando do sol e da primavera... e, ante sua mente, passaram as visões da vida vivida; também os outros começaram a lembrar o tempo passado na terra enquanto viviam, sentiam e amavam e cada um deles tentava aliviar, ainda que fosse um só minuto, com as lembranças da vida passada, sua alma sofredora. De suas conversas se deduzia que o passado estava sempre vivo neles, mas que os espíritos do mal não lhes permitiam sonhar nem esquecer os sofrimentos.

Rapidamente, de trás das rochas altas e escuras, apareceu um fogo vermelho e queimou terrivelmente as almas, chegadas aqui para descansar. No Inferno, não pode haver paz. E eu, estava desejosa de silêncio e queria fugir de todos aqueles horrores, decidi transportar-me a outro lugar.

Diante de mim se estendia uma planície. Encaminhei-me por ela, passando as trevas que por todos os lados me rodeavam. Os espíritos malignos observavam àqueles que passavam diante deles e perseguia-lhes selvagemente com açoites que levavam nas mãos. De vez em quando, da terra saíam línguas de fogo de todas as cores, que por um instante iluminavam sinistramente as silhuetas. E ouvi um canto, triste e melancólico, no qual tremiam as lágrimas e ouvia-se um sofrimento abafado e uma dor inconsolável.

Aproximando-me mais, vi sob a proteção de uma rocha os que cantavam com tanta tristeza. Suas faces eram de cor cinzenta e eles mesmos sem força, ofegantes, empurravam com seus braços esqueléticos uma enorme rocha de grande peso. Este trabalho seu era perfeitamente inútil em si mesmo e isto aumentava ainda mais seus sofrimentos. Sobre suas cabeças caíam nuvens ardentes, atravessadas de flechas de fogo e nuvens de fumaça, misturadas com faíscas. Eu me senti mais aterrorizada e senti um desejo enorme de sair o quanto antes daquele lugar tenebroso.

Enquanto isso ouvia um ruído que procedia do fundo da terra. Ante mim, abriu-se uma inclinada encosta, que comecei a descer com muito cuidado. No ar, sentia-se um intenso cheiro de enxofre e redemoinhos de poeira ardente tornavam difícil a respiração. A muralha cinza rochosa se elevava quase verticalmente sobre minha cabeça e, do alto, caíam como chuva faíscas incandescentes. O vento seco e turvo não refrescava nada e vi um espetáculo novo e horrível. Os miseráveis pecadores, arrastados pelos demônios, fugiam velozmente diante de nós com o ruído infernal que os perseguia e, gritando de terror, protegiam a cabeça enquanto alguns deles caíam por terra, esgotados pela sede, com o rosto na poeira. Estariam dispostos a suportar qualquer martírio, com tanto de obter uma gota de água, com a qual refrescar a boca queimada pelo terrível calor. Mas não há para eles nem sequer uma gota de água e isto continuamente aumentava seu sofrimento sem um final possível.

Os espíritos infernais os vigiavam e, ao cair um, estavam prontos para golpeá-lo cruelmente com seus pés achatados até que se levantava e recomeçava a corrida, docilmente. E eis aqui que, enquanto eu observava aquele espetáculo horripilante, apareceu diante de mim meu companheiro com sua voz maravilhosa e fascinante: “– Você teve medo?”, perguntou-me e eu, a sua pergunta, não soube responder outra coisa senão: “– É terrível!” E ele: “– Agora deixaremos este lugar e voaremos a outros planetas!”

Começamos a subir a uma velocidade ainda maior do que a do vôo anterior. O ar se tornou cada vez mais agoviante e o calor se tornou insuportável em certo momento. De longe apareceu um astro incandescente que foi pouco a pouco ficando maior. Sem interromper para nada nosso vôo, atravessamos uma zona iluminada por uma luz violácea, e cada vez sentíamos mais que nos queimava o fogo que emanava daquele gigantesco planeta. Dirigimo-nos até ele. Um pouco mais e o alcançaríamos. E pareceu-me que o céu oscilava e se agitava como se respirasse; o próprio planeta não me pareceu denso como nossa terra, e sim composto de gás denso, extremamente incandescente.

Contudo, quando descemos sobre o planeta, convenci-me que em parte minhas suposições estavam erradas: de fato, aqui e ali havia também terra firme sobre a qual vagavam luzes estranhas; do alto chovia uma estranha claridade Láctea, ao redor reinava a tristeza e do solo ardente saía um calor indizível que sufocava.

“– Nem sequer aqui existe a felicidade - disse meu companheiro. A felicidade aqui não existe. Os espíritos do mal trazem aqui as almas dos pecadores para fazer-lhes sofrer novas e mais refinadas torturas, mais dignas de seus pecados.”

Por todos os arredores reinava o caos e, entre o rumor dos elementos enfurecidos, ouvia-se um gemido triste semelhante ao lamento de muitas vozes. E apareceu diante dos meus olhos uma ladeira plana que descia até um lago, que parecia de estanho fundido. Por todos os arredores voavam insetos venenosos de aspecto repugnante, de cujas picadas os pecadores buscavam refúgio escapando pelas rochas ao redor. Alguns pecadores eram seguidos de demônios que, providos de poderosos açoites os açoitavam, entravam nas cavernas, mas em seguida se viam obrigados a sair delas e corriam maltratados e famintos em direção ao lago ardente, onde se precipitavam chorando e gritando: “–  Onde estás, ó morte? Ó morte, amiga desconhecida!”

Mas a morte não existe, só a vida existe, vida eterna de alegria para os homens piedosos, vida eterna de tormento para os pecadores. E aqueles miseráveis continuavam retorcendo desesperadamente as mãos, invocando em sua loucura a morte inexistente.

Capítulo II

Depois de ter observado tudo isto, começamos a descer. Aos pés da margem escarpada, descobrimos enormes cavernas, escavadas entre as rochas. Duas das mais amplas tinham a entrada obstruídas por penhascos, e delas saíam um ruído ensurdecedor, gritos selvagens, uivos bestiais e assobios estridentes. Que agitado era aquele recinto infernal! Aqui e ali, vi espalhados arbustos cobertos de espinhos, de lodo viscoso e tufo negro; também havia alguma árvore sem folhas. Sobre nossas cabeças passavam voando horríveis monstros, que contribuíam a tornar o panorama mais sinistro.

“– Hoje – disse-me o companheiro - Satanás celebra no inferno seu banquete anual. Guarde bem o que você vir”.

E vi como as entradas das cavernas começaram a abrir-se lentamente. Delas surgiam línguas de fogo. Alguns espíritos malignos entraram para tirar aos pecadores mais ferozes, conhecidos em todo o mundo.

“– Por um compreensível desejo de Satanás – explicou-me o companheiro – alguns pecadores esperam séculos e séculos antes de poderem participar nesta festa; outros pelo contrário são admitidos em seguida. Esta festa se celebra uma vez ao ano e precisamente no dia em que o Senhor expulsou os anjos maus. Naquele dia, Satanás, que foi anjo bom até ter a temeridade de rebelar-se contra Deus, volta a sentir com particular agudeza todo o horror de sua queda. Nesse dia, ele busca distrair-se como pode, organizando uma festa em seu tétrico reino. Mas nada pode aliviar seu afã e ele sofre naquele dia por ter recusado as alegrias do Paraíso e por não ter domado seu orgulho ante o Senhor.”

Logo, por uma desconhecida força foi lançada para fora da entrada da caverna uma bela mulher, com os braços estendidos para a frente e seu cabelo em chamas. Em seus olhos, de um azul-escuro, parecidos a safiras, ardia uma maldade inumana; seu cabelo, de um vermelho vivo, estava solto. Toda recolhida feito um novelo sobre si mesma, desenrolou-se como uma serpente e escondeu-se, com a cabeça inclinada, próximo à porta.

Entre as chamas, apareceu então outra mulher (1), de cabelo mais negro do que a noite, como dois enormes carvões brilhavam seus olhos. Lenta e majestosamente, dirigiu-se à outra mulher que, chorando e tremendo, havia se escondido em uma sinuosidade da rocha junto à entrada infernal e, colocando uma mão na cabeça, ficou imóvel naquela postura.

(1) Este mulher pode ser identificada como uma rainha da Rússia, mulher devassa e depravada, verdadeira Messalina, que era capaz de enfileirar 20 soldados por dia, todos os dias, para manter relações com ela. Chegava a fazer isso por até 36 horas ininterruptas, apenas para se considerar com mais furor uterino que as mais terríveis prostitutas dos arredores de Moscou. 

E desde a caverna vizinha saiu um velho alto, todo encurvado com uma grande barba branca e sobrancelhas espessas(2). Caminhava sem pressa, dirigindo-se até a parte oposta onde se encontravam as duas mulheres. Chegando a certo ponto, deteve-se. Sua aparição não despertou surpresa alguma entre os espíritos infernais, mas não se aproximaram dele. E ele, levantando a cabeça, olhou ao redor. Tudo nele mostrava uma forte determinação; seus olhos expressavam uma inteligência incomum, mas ao mesmo tempo uma tristeza resignada em uma profunda pena. Inclinou a cabeça no silêncio e a barba branca cobriu todo o seu peito.

Depois dele, arrastado pelas mãos por uma manada enfurecida de demônios e com sinais de golpes nas costas, apareceu um homem mais velho, de estatura baixa, era robusto, tinha a cabeça calva e grande (3). Os espíritos malignos o golpeavam furiosamente sobre o rosto, gritando-lhe nos ouvidos: “– Você que não acreditava em nada? Você que pensava que a vida só existia na terra e arruinava sua pátria, atormentava e matava seu próximo sem temor de um dia prestar contas disso! Agora verá que não é assim! O próprio Satanás inventará para você os sofrimentos mais atrozes; agora pelo contrário, te levarão a inclinar-se ante ele!”

(2)    Pelas descrições a seguir ele será indicado como o ateu Karl Marx.

(3)    Este é mais facilmente identificado com Lênin.

E ele, todo curvado sobre si mesmo e sem opor resistência alguma, apertava o passo detrás deles. Os demônios não o arrastaram até os pecadores que o haviam precedido, sim em direção à abertura de uma caverna situada em frente às outras. Naquele mesmo instante, do interior da caverna, elevou-se um terrível rumor, um espantoso grito misturado com risos selvagens e assobios estridentes. De vez em quando, entre todo aquele bulício, elevava-se um gemido longo e piedoso.

Eu olhei atentamente naquela direção, também os pecadores tinham o olhar fixo sobre aquela entrada. E dela saiu uma multidão de certos seres horríveis que se contorciam; pouco tinha de aparência humana, acuados pelos golpes. Assim se aproximaram ao pecador calvo e lançaram-no aos pés ao recém-chegado; este se levantou olhando ao seu redor com ar aturdido e sempre tremendo, pôs-se ao lado do homem calvo. Tinha a cara estreita, com cavidades e pômulos salientes, um nariz muito fino, era de estatura um pouco mais alta que a média.

O velho levantou a vista e o olhou com arrepios enquanto os dois pecadores, com indescritível desdém, voltaram-lhes as costas.

Naquele momento, escutei aproximar-se de cada lado um ruído, primeiro apenas perceptível, depois cada vez mais forte. O ruído mudou depois para um bater de asas. Uma multidão de espíritos horríveis voadores se aproximaram lentamente dos pecadores, e diante de mim se formou um emaranhado vivente que se levantou e logo se precipitou vertiginosamente para baixo, desaparecendo entre as trevas.

Diante das cavernas ficou tudo deserto, as horríveis portas estavam fechadas, já nem se via um pecador ou um demônio.

Caminhamos ainda mais, e de repente surgiu ante nós uma coluna alta de fogo, da qual nos aproximamos. Parecia-me que aquela coluna, como um farol luminoso, dissiparia também a lembrança dos horrores vistos, e que encontraríamos lugares mais pacíficos, porém eu esquecia que no inferno não pode haver paz nem tranqüilidade. E, de fato, a coluna de fogo dissipou minhas esperanças, não vimos paz nem felicidade, e sim um espetáculo ainda mais horrendo nos foi apresentado.

Quando estivemos perto, vi que o negro e horrível abismo estava agitado como por um violento temporal, nuvens acesas exalavam vapores de enxofre, e pouco depois nos encontramos entre as chamas de um lago de fogo onde se moviam sombras. Ó que grande era seu desespero, que grande e terrível seu tormento! Os demônios íam aos milhares daqui para lá entre elas, como se chegassem desde longe para contemplar avidamente as linhas sinuosas e retorcidas das imagens incorpóreas entre os rubros da chama púrpura. Mas nós, sem nos determos, passávamos voando mais longe, encontrando sempre novas sombras.

“– Agora – disse-me o companheiro - você deve ficar novamente só. Seja corajosa e não tenha medo ainda que lhe ocorresse algo incomprensible. No mais se qualquer perigo lhe ameaçar, eu virei sempre a tempo.” Dito isto, desapareceu.

Capítulo III

Observando as torturas dos pecadores que se encontravam entre as chamas e sentindo um calor quase insuportável, sentia-me assombrada que o fogo infernal não queimasse tudo e a todos. Era evidente que o fogo não podia destruir e queimar os pecadores que se encontravam entre as chamas, como tivera feito com homens comuns, ou mesmo o próprio fogo era de tal natureza que, ainda procurando tormentos inenarráveis, era impotente para destruir tudo.

Ao instante me chegou ao ouvido o eco de um coro montanhês. Escutei com maior atenção e pareceu-me que aquele canto vinha de algum lugar debaixo da terra. Diante de mim começava uma baixada. Em todos os arredores nas rochas havia fissuras muito profundas. A dois passos de distância não se via, porém abaixo brilhavam luzes e quanto mais descia mais se ouvia o canto de um coro que, ao julgar pelas vozes, devia ser muito numeroso, mas muito desafinado. E cada vez se faziam mais vivos os fogos. Finalmente, depois de uma descida que parecia não ter fim, encontrei-me em uma planicie imensa e completamente deserta, rodeada de montes que se erguiam assumindo as mais estranhas e fantásticas silhuetas que mente humana jamais tenha podido imaginar. Na base dos montes cresciam estranhíssimas plantas espinhosas, que agitavam os ramos como se fossem tentáculos. Pela esquerda apareceu um charco rodeado de uma zona de musgo negro, que se movia também, parecia suspirar.

Pouco depois cheguei a outro charco mais, não longe de mim observei um estreito feixe luminoso e, aproximando-me, descobri uma grande greta e uma nova baixada que conduzia à misteriosa luz. Segui por aquele novo caminho e comecei a descida por aquele abismo, cheio de mistérios e incertezas, e que parecia não ter fim.

À medida que caminhava, dava-me conta de que o sendeiro se convertia em um longo caminho ao final do qual havia uma porta que dava acesso a um lugar desconhecido para mim. Daí saía um oceano de luz ofuscante e ouvia-se ainda mais forte o canto que se fazia cada vez mais ressoante e que, de vez em quando, era interrompido por gritos ensurdecedores. Recorri depressa aquela zona e encontrei-me na entrada, onde fui cegada por inúmeras luzes.

Vi uma sala imensa na qual se entrava por milhares de portas. No meio havia uma grande extensão livre, semelhante à arena de um circo. No centro daquele espaço se levantava um magnífico trono, mas extremamente tétrico. Um teto negríssimo, em forma de cúpula, com reflexos metálicos, completava a uma grande altura, aquela sala. Ao redor do trono se moviam, sem fazer ruído algum, sombras negras de formas terríveis e horripilantes. Em todo os arredores havia um grande anfiteatro para os pecadores dos quais ali havia uma grande multidão. Parecia que todo o anfiteatro havia sido um grande formigueiro e de todas as partes se podia ver com toda claridade o trono que se elevava no centro da arena. Ao redor elevavam-se gigantescas colunas luminosas que iluminavam todo o ambiente com uma luz sinistra.

À esquerda do trono, meio caída por terra, estava uma belíssima mulher, e o negro do trono fazia um esplêndido contraste de cores com o vermelho-cobre de seu cabelo, excitante como a seda. Delicada e graciosíssima, assemelhava-se a uma estatueta saída das mãos de um escultor genial.

À direita do trono estava, pelo contrário, uma mulher de olhos negros e de porte soberbo; seu cabelo harmonizava perfeitamente com o trono escuro, enquanto que seus olhos ardentes brilhavam de ódio e de maldade e pareciam lançar chamas. Estava radiante em sua atitude altiva e em seu desprezo pelos milhares de olhos que estavam dirigidos a ela. E não se parecia nem sequer a uma estatueta qualquer, podia-se dizer que era a esfínge de uma mulher de sangue real, plasmada por um artista imortal. Eu reconheci sem esforço algum as mulheres que havia visto retiradas das cavernas para a festa de Satanás.

Quase toda a arena em frente do trono estava agitada com os pecadores. Não eram, entretanto, pecadores normais nem para eles estava reservado o anfiteatro, sim aqueles que haviam manchado sua existência terrestre com os pecados mais infames. Encontravam-se todos reunidos em um lugar, sem distinção de posição ou de fortuna. O pecado havia igualado a todos.

Vi também o repugnante velho calvo e seu discípulo, aquele de tipo polonês, uma verdadeira besta humana. Um pouco separado estava o velho grisalho cujo rosto denotava uma tristeza invencível e uma dor infinita, parecia que recordasse as palavras do Evangelho: “Porém quem escandalizar a um destes pequenos que crêem em mim, melhor seria que pendurasse uma pedra de moinho ao redor do pescoço e fosse atirado ao mar”, e parecia que só agora tivesse compreendido o significado daquelas palavras.

De repente, sentiu-se uma grande sacudida subterrânea, a terra tremeu, tudo balançou e as colunas iluminadas ainda mais resplandecentes. Depois se desencadeou um furacão, ao que seguiu um coro de lamentos e de gemidos. E entre numerosos aplausos dos demônios e entre gritos irracionais apareceu subitamente Satanás, todo envolto em nuvens de fumaça muito densa. Iluminado por uma luz sinistra, com o olhar fixo, perdido no espaço, riu forte e maldosamente e naquela risada havia algo terrível, de tal modo que todos os pecadores se voltaram para ele e olharam-no com terror, privados já de vontade, sem força e sem qualquer esperança de salvação. O trono de Satanás estava rodeado de uma multidão de espíritos malvados cujos olhares ferozes aterrorizavam. Entoaram seu canto infernal, em cada palavra do qual havia o eco de uma ameaça e en cada frase a promessa de novas e inenarráveis torturas. Este canto enchia as almas dos pecadores de terror sem limites, mas os demônios cantavam cada vez mais forte e Satanás parecia se satisfazer com este canto porque sorria maldosamente.

Diante do trono, entre as filas de pecadores, havia muitos que na terra tinham sido famosos por sua sabedoria e erudição, mas que no inferno já não havia necessidade de tudo isto, eles não se distinguiam em nada dos outros, e pelo contrário, como eles, tremiam ao escutar o canto infernal, ao mesmo tempo não perdiam de vista a Satanás.

Satanás parou de rir. Mas, parecia-se a um homem? Sim, ele se parecia e, ao mesmo tempo, era um ser completamente diferente, misterioso e insensível. Toda sua figura mostrava uma incrível auto-confiança e uma consciência da própria força, mas seu rosto não mostrava alegria. De gigantesca estatura, esbelto, bronzeado, tinha um nariz afilado entre dois grandes olhos negros e profundos, que brilhavam como fogos sob o arco das sobrancelhas oblíquas e estreitas. Severo e rogado, sentava-se silenciosamente em seu trono, sobre o qual luzia uma estrela vermelha de cinco pontas.

Mantinha-se imóvel, como esculpido em bronze, com suas duas asas abertas semelhantes a tecidos de veludo negro, que se separavam ameaçadoras por detrás das costas. Suas belas pálpebras curvadas escondiam a expressão precisa de seus olhos, mas seu rosto de perfil clássico escondia um pensamento atormentado. Parecia que naquele dia, aniversário daquele outro em que há milhares de anos atrás foi expulso por Deus, Satanás recordasse seu passado, quando também ele era um anjo bom alheio a todo mal. Seu rosto expresaba um secreto tormento enquanto uma ruga de longas datass lhe Francia a testa e as gigantescas asas negras abaixavam cada vez mais até dobrarem detrás dele, como ocorre com uma bandeira golpeada pela tempestade.

Então Satanás levantou as pálpebras e vi seu olhar ameaçador que continha em si um oceano de maldade e de ódio. A multidão de espectadores a fixou: que olhar era aquele! Quanta perfídia e quanto ódio! Assim se ergueu em toda sua estatura gigantesca, em toda sua misteriosa essência o príncipe do mal e do pecado.

Interrompemos aqui a narrativa por questão de espaço. O resto segue em outro texto. Não deixe de ler, a festa de Lucifer. Um horror!

Continua...


Fonte: www.recadosaarao.com.br



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