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Artigo N.º 13025 - Como escapei de ser sequestrada pelo grupo islâmico Boko Haram. “Orando em voz baixa para que não percebessem que éramos cristãs”.
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Postado em: 27/02/15 às 12:52:13 por: James
Categoria: Destaque
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Como escapei de ser sequestrada pelo grupo islâmico Boko Haram. “Orando em voz baixa para que não percebessem que éramos cristãs”.

Era a noite de 14 para 15 de abril de 2014. Todas as 300 garotas do colégio público de Chibok, no nordeste da Nigéria, estavam dormindo. Algumas sonhando e outras tantas viajando em seus planos. Mas aquela seria, para muitas, uma noite que jamais terminou e, pior, passou a ser esquecida do restante da comunidade internacional. Perto das 11h30 da noite, homens armados do Boko Haram invadiram a escola, foram até o alojamento onde estavam as garotas e as sequestraram.

Quase um ano depois, uma delas conta a história daquele momento dramático. Em entrevista exclusiva ao Estado, uma dessas estudantes sequestradas revela detalhes da tensão vivida para conseguir escapar naquele noite. Desde então, sua identidade continua sendo camuflada para evitar que ela ou sua família sejam assassinados.

Hoje, ela é apenas conhecida como Saa e, apesar das dificuldades, tenta reconstruir sua vida. Um ano depois e vivendo nos Estados Unidos graças a uma bolsa de estudos, Saa viu sua vida mudar radicalmente. Mudanças que ela tentou assimilar: no lugar de roupas largas de um vilarejo nigeriano, veste um jeans estreito, um óculos de sol de marca e botas de couro. Usa uma peruca e não passa mais de dois minutos sem mexer em seu smartphone. Questionada sobre seus planos e sonhos, a resposta se assemelha à de qualquer outra garota de sua idade, marcada por um ar de inocência no sorriso aos 18 anos de idade.

Saa poderia ser uma garota de qualquer parte do mundo se não fosse por sua história. “Aquela noite ainda não terminou”, disse. “O mundo não pode nos abandonar nas mãos do Boko Haram”.  A nigeriana esteve em Genebra nesta semana para reuniões na ONU, onde concedeu entrevista ao Estado.

 

A seguir, os principais trechos da conversa:

O que aconteceu naquela noite de 14 de abril?

Eram 11h30 da noite. Estávamos nos alojamentos da escola. Muitas das minhas amigas estavam dormindo. Outras escrevendo em seus diários.  Mas as luzes já estavam apagadas. De repente, ouvimos tiros vindos de fora. Primeiro achamos que era o Exército da Nigéria. Eu rapidamente liguei para meu pai com o celular que estava ao lado da minha cama e pedi que ele rezasse por nós. Descemos todas para uma espécie de lobby do alojamento e ouvimos motos chegando. Pensávamos que eram os professores que estavam se aproximando para nos dizer algo. Eles dormiam em um prédio ao lado. Mas à medida que as motos se aproximavam, víamos que não eram eles. Eram homens armados e vestidos com uniformes. Os professores haviam fugido.

O que eles queriam?

A primeira coisa que nos perguntaram foi: “Onde estão os meninos?”. Respondemos que os meninos não dormiam na escola. Apenas as garotas. Eles nos ameaçaram matar se não contássemos a verdade. Insistimos que aquela era a verdade. Então eles mudaram de assunto e passaram a perguntar onde é que a escola guardava seus alimentos. Duas amigas minhas mostraram a eles.

E o que eles fizeram?

Empacotaram toda a comida, colocaram em caminhões e nos colocaram do lado de fora do prédio. Ficamos com muito medo. Eles vieram até nossos alojamentos e mandaram todas sair imediatamente. Não tivemos nem sequer de pegar roupas ou nada. Logo depois, colocaram fogo na escola e no alojamento. Tudo foi queimado. Eu e minhas amigas ficamos de mãos dadas enquanto tudo aquilo ocorria, rezando em voz baixa para que eles não percebessem que éramos cristãs.

Vocês sabiam que eram do Boko Haram?

No início não. Sabíamos que eram radicais islâmicos. Mas só entendemos quando um dos homens que segurava uma arma contra nossas cabeça disse que eram os responsáveis pelo sequestro de 35 garotas da cidade de Konduga em 2013. Entendemos que estávamos nas mãos do Boko Haram.

E o que eles diziam a vocês?

A ordem era de que não gritássemos ou fizéssemos qualquer tipo de escândalo ou todas seriam assassinadas. Mesmo assim, como estávamos perto de um bosque, algumas meninas aproveitaram a ocasião para se jogar pelos arbustos e fugir.

Como eles as levaram?

Depois de embarcar toda a comida, ele mandaram nós entrarmos em um outro caminhão. E diziam que só tínhamos duas opções: entrar ou morrer. Mas o caminhão era tão alto que os homens tiveram de puxar para perto um carro para que pudéssemos subir primeiro no carro para montar no caminhão. Dentro, não havia espaço para todas e cada uma sentava no colo das demais. 

Ser cristã ou muçulmana era um critério?

Na escola, 90% da escola eram cristãs. Lembro-me que, depois de todas entrarem no caminhão, três meninas não conseguiram subir. Um dos homens armados chegou a elas e perguntou: cristãs ou muçulmanas? Uma delas disse que era muçulmana. Outra, que era muito amiga minha, era cristã. Mas ela disse a eles que era muçulmana e eu fiquei pensando o que Deus pensaria dela naquele momento. A terceira disse que era cristã. O homem então disse que mataria as três. Mas foi impedido no último minuto por um outro, que parecia ser o chefe. Ele apenas disse a eles que corressem para suas casas e que, se olhassem para trás, seriam mortas.

Como era dentro do caminhão?

A única coisa que eu escutava era as minhas amigas chorarem baixo e meu coração bater. Foi assustador. Ninguém sabia para onde estavam nos levando.

Como você fugiu?

Decidi que eu deveria saltar do caminhão. Eu disse a minhas colegas: vou pular. Quem vem? Algumas me diziam: não faça isso. Outras choravam e uma delas, minha amiga Leme, disse que me acompanhava. Era muito alto e outros homens armados circulavam em motos. Mas eu pensei: “Prefiro morrer a ficar nas mãos do Boko Haram”. Pulamos e corremos para a floresta. Um grupo de homens nos perseguiu pela floresta, mas não conseguiram nos achar. Quando tudo ficou em silêncio e o caminhão seguiu viagem, me dei conta que Leme tinha quebrado sua perna ao pular e não conseguia caminhar. Eu tentei carregá-las. Mas não consegui. A única opção era mesmo ficar ali, na floresta, e esperar o dia amanhecer.

Como saíram dali?

Acho que eram 6h da manhã quando fui buscar ajuda. Encontrei um pastor que estava com uns animais e sua bicicleta, e expliquei a história. Mas ele ficou com muito medo. Me disse que era muçulmano e não queria problemas com o Boko Haram. Insisti tanto que ele aceitou colocar Leme na bicicleta e nos transportar até nossa cidade. Foi ali que conseguimos ver nossos país que, naquela hora, já sabiam de tudo.

Como aquela noite mudou a sua vida?

Mudou inteiramente. Aquela noite ainda não acabou. Hoje eu estou nos EUA, com uma bolsa, terminando a escola. Mas por meses acordava pela noite gritando de medo. Claro que estou feliz e me sentindo mais segura nos EUA. Mas o Boko Haram continua, e famílias continuam sendo mortas. Eu estou nos EUA, mas minhas amigas continuam sequestradas. Minha família teve de abandonar sua casa e sair da região. Muita gente que eu conheço morreu e vilarejos inteiros foram destruídos.

Como você avalia a reação da comunidade internacional diante do sequestro e da ameaça do Boko Haram?

Parece que o mundo se esqueceu de nós. Os pedidos de ajuda já vinham sendo feitos há muito tempo e mesmo antes do nosso sequestro. Quando o sequestro ocorreu, houve um apelo em todo o mundo e foi muito comovedor. Mas hoje vejo que o mundo já não dá a mesma atenção. Por isso, peço que nos ajudem a relatar as atrocidades para que esse grupo seja combatido. As pessoas continuam morrendo, e o mundo não pode nos abandonar nas mãos do Boko Haram.

Quais eram os seus planos quando a escola terminasse?

Eu queria, um dia, estudar para ser médica. Ainda quero voltar um dia para Chibok e ajudar minha região a se desenvolver. Só não sei quando.

 


Fonte: Jornal O Estado de São Paulo



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