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Artigo N.º 12705 - Uma pastor reformado, um luterano e uma batista participam do Sínodo da Família no Vaticano.
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Postado em: 16/10/14 às 09:39:06 por: James
Categoria: Destaque
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Valérie Duval Poujol, teóloga batista e presidente da Comissão Ecumênica da Federação Protestante Francesa, participa dele como delegada fraterna e representa a Aliança Mundial Batista. Esta entrevista foi realizada antes da sua partida.

Valérie Duval Poujol


Poujol leciona ciências bíblicas no Instituto Católico de Paris. Com o marido, Samuel Duval, participou da criação de uma comunidade da Federação Batista em Salinelles. Presidente da Comissão Ecumênica da Federação Protestante Francesa, é membro do Comitê Misto Católico-Batista da França e do Comitê Misto Internacional Metodista-Batista.
A senhora está se preparando para uma viagem a Roma e passará 15 dias no Vaticano no Sínodo Extraordinário sobre a família. Pode nos dizer como é que uma protestante batista vai se encontrar justamente lá?

A Igreja Católica apreciava a presença de delegados fraternos para este Sínodo e enviou um convite para a Aliança Mundial Batista, que depois me solicitou. É verdade que na França as Igrejas Batistas são relativamente pouco conhecidas, uma denominação minoritária dentro da pequena minoria protestante francesa. Mas, em nível mundial, ela representa uma família extensa, em pleno crescimento, com mais de 42 milhões de fiéis. Como batistas, nós somos, ao mesmo tempo, uma Igreja histórica nascida da Reforma e uma Igreja evangélica e confessante. Eu serei um dos oito delegados fraternos de outras Igrejas, e é uma grande honra para mim estar presente no Sínodo em nome daqueles cristãos batistas que testemunham Jesus Cristo em mais de 21 países em todo o mundo. A aceitação do convite dirigido à Aliança Mundial Batista também é fruto do diálogo teológico entre as nossas duas Igrejas. No seu tempo, por ocasião do Concílio Vaticano II, a Aliança Mundial Batista tinha rejeitado o convite para participar dele. Hoje, graças ao diálogo, as nossas relações são marcadas por muito mais confiança.

Qual é o papel dos delegados fraternos? Vocês tem o direito de intervir?

Acho muito bonito o termo “delegado fraterno”, é uma mudança em relação ao período do Vaticano II, quando os convidados de outras Igrejas eram “observadores”, e a mudança assume uma dimensão ainda maior no quadro de um Sínodo sobre a família: não nos esqueçamos dos laços de fraternidade espiritual que nos unem entre cristãos… Os delegados fraternos são bem mais do que observadores. Somos encorajados a participar em tudo: nos discursos, nas discussões e na elaboração nos grupos de trabalho. Também nos é concedido o espaço para uma breve intervenção, o mesmo tempo dos presidentes das Conferências Episcopais nacionais. Acho isso verdadeiramente notável.

Na sua opinião, o que está em jogo nesse Sínodo para a Igreja Católica?

É verdade que, na França e também em outros países ocidentais, a mídia coloca no primeiro lugar as discussões e as decisões relativas ao acesso à Eucaristia das pessoas católicas divorciadas e novamente casadas. Quando recebi e li o documento preparatório para o Sínodo, o Instrumentum laboris, me dei conta de que os temas abordados são muito mais amplos do que apenas esse problema: a contracepção, a poligamia, o abuso de menores, o machismo, a homossexualidade… Isso mostra a novidade do método de trabalho deste Sínodo, parece-me. Partiu-se dos testemunhos da base, para depois refletir juntos sobre o evangelho da família no contexto da evangelização. É importante enfatizar que é a perspectiva da evangelização que serve de prisma para os trabalhos.

Este Sínodo, que de algum modo prepara o “ordinário” do ano que vem, portanto, é inovador na metodologia, porque manifesta um maior desejo de colegialidade e de proximidade com a realidade. O documento de trabalho mostra, ao mesmo tempo, toda a riqueza e a ambiguidade de um evangelho da família que busca encontrar um caminho entre dogma e pastoral, entre o que a Igreja Católica diz e o que os pastores e os bispos encontram in loco. Estou impressionada com esse grande esforço de colegialidade entre os defensores de uma atualização (uma reforma) e os defensores do status quo para permanecer com o ensino tradicional. Acho que o desafio deste Sínodo será formular um evangelho da família, uma evangelização baseada na família, que possa mostrar que se leva em conta as sociedades que vivem mudanças muito profundas. Também será preciso encontrar um modo para superar a tensão entre aqueles que afirmam que se deve simplesmente explicar melhor a doutrina da Igreja e aqueles que desejam mudanças no conteúdo e na aplicação da doutrina.

Como se preparar para isso? Não vai ser muito fácil ser quase a única protestante nessa assembleia…

É incrível perceber que o meu papel é bastante singular. Há outros dois delegados fraternos protestantes, um pastor reformado da Nigéria e um pastor luterano da África do Sul, além de um delegado anglicano, dois delegados ortodoxos e dois delegados ortodoxos orientais. Mas, entre os oito convidados fraternos, sou a única mulher, a única leiga e a única mãe. Até agora, na minha preparação, perguntei aos meus amigos, à minha Igreja, para me apoiarem com a oração, para me ajudarem a me preparar espiritualmente. Para poder ser não espectadora, mas protagonista ativa nesse papel.

Também estudei a fundo o documento preparatório, encontrei os colegas católicos para ter todos os esclarecimentos necessários em relação à sua tradição e para verificar que compreendi bem os termos. Fiquei muito impressionada, por exemplo, com o fato de que a mariologia não parece ter um papel muito grande no documento de trabalho, ao contrário do que, como batista, eu poderia imaginar em um documento católico. Nesse papel, estou em uma situação de “tradução”, de busca de entender melhor a outra Igreja, mas estou, ao mesmo tempo, consciente da mensagem que se quer transmitir depois à própria Igreja. E a leitura do Instrumentum laboris também me interpela, eu tento interrogar também a minha tradição específica neste período de preparação.

Na sua comunidade e também por ocasião de um culto na televisão, a senhora rezou pelo Sínodo. Como isso foi acolhido na sua Igreja?

Quando eu fiz essa proposta, houve um certo “ranger de dentes”. Às vezes, é difícil para os evangélicos orarem diretamente pela Igreja Católica ou pelo papa. Mas, ao mesmo tempo, os evangélicos e os outros cristãos sentiram que, desde a sua eleição, o Papa Francisco pediu com muita humildade aos cristãos que rezem por ele. Então, propor que se ore pelo Sínodo durante um culto transmitido pela televisão era uma espécie de agressão. Mesmo que eu não seja católica, estou envolvida com o que acontece nas outras Igrejas, estou envolvida com o Sínodo. E essa oração também vem de uma convicção bíblica de que somos chamados a suportar os fardos uns dos outros, como diz a carta aos Gálatas (Gl 5).

Em nível nacional, a senhora faz parte do Comitê Misto Batista-Católico. Pode nos dizer algo sobre os trabalhos teológicos desse grupo?

Os Comitês Mistos são um lugar de trabalho entre teólogos das nossas diversas tradições. Em 2009, esse Comitê Católico-Batista, por exemplo, publicou um documento sobre o lugar de Maria na teologia e na espiritualidade cristã. As nossas relações na França podem servir de exemplo para as relações entre batistas e católicos em outros lugares. Está sendo feita uma tradução ao inglês do documento sobre Maria. Atualmente, juntos, estamos estudando os problemas da ética. Frequentemente, diz-se que católicos e evangélicos têm posições bastante próximas sobre determinados problemas, referentes a temas como o aborto ou o matrimônio, por exemplo. Mas, durante os nossos encontros, percebemos que ainda era preciso ir além das aparências e que, para compreender melhor as diferenças e as semelhanças entre as nossas duas tradições, era preciso explicitar o fato de que os nossos processos de discernimento, isto é, o modo pelo qual chegamos a tomar uma posição ética, são muito diferentes. Esse trabalho está em andamento. Em uma época em que os problemas éticos se tornam, muito rapidamente, elementos de divisão, estamos convencidos de que as nossas reflexões sobre esses processos de discernimento podem ser úteis muito além das nossas duas confissões na França.

Em nível internacional, a senhora é membro de outro comitê misto entre batistas e metodistas. Pode nos dizer algo a mais sobre essas relações e sobre os trabalhos?

É a primeira experiência nesse sentido. Nunca houve diálogo teológico em nível internacional entre metodistas e batistas, apesar das inúmeras colaborações em muitos países. Esse diálogo está previsto para cinco anos, com uma sessão anual: a primeira foi nos Estados Unidos, a próxima nos levará para a Singapura. Queremos ver os nossos pontos comuns e as nossas divergências – por exemplo, não temos a mesma teologia batismal nas nossas duas tradições. Mas o objetivo principal do nosso diálogo seria ver como podemos avançar mais juntos na missão. As nossas conversas têm como título “A fé em ação no amor”. Como preparação para o nosso próximo encontro em Singapura, estudamos como em certos países as nossas duas tradições participam juntas da Igreja unida. Nesses países, conseguem-se superar certas questões eclesiológicas e teológicas com a vontade de servir a missão do evangelho e testemunhar Jesus Cristo juntos. É apaixonante para mim descobrir contextos tão diferentes do nosso contexto francês, em que a maioria das Igrejas Metodistas se uniram à Igreja Reformada Francesa em 1938, e dar-me conta disso na minha Igreja.

A senhora é teóloga e apaixonada pela leitura e pelo ensino da Bíblia. O que a leitura e o ensino da Bíblia oferecem para as relações ecumênicas?

A Bíblia não é uma contribuição, mas o fundamento de toda a minha motivação para participar desse trabalho ecumênico. Ela me serve de bússola – para o meu caminho com Deus, mas também, como diz o Grupo de Dombes [grupo de diálogo ecumênico de teólogos católicos e protestantes francófonos], para a conversão das nossas Igrejas. A Palavra de Deus permite que nos confrontemos com o chamado exigente de Deus para a nossa vida e para a vida das nossas instituições. A Bíblia, ao mesmo tempo, é o meu copo de água, o meu constante retorno à fonte, nas relações com os outros cristãos da minha tradição e de outras tradições. A Bíblia não pertence apenas aos protestantes. Desde o Vaticano II, os católicos leem muito mais a Bíblia. Essa realidade faz desaparecer certos estereótipos. Em todo o caso, estou feliz com estes próximos 15 dias. Realmente espero que, com a minha presença no Sínodo, reforce-se de algum modo o ecumenismo, o nosso conhecimento recíproco e, em longo prazo, o nosso reconhecimento recíproco.

Jane Stranz, publicada no sítio Protestants.org


Fonte: http://blog.comshalom.org/carmadelio



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