Postado em: 12/06/18 às 00:06:04 por: James
Categoria: Professor Felipe Aquino
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Jamais o mundo viu ou verá um acontecimento como este: o Filho de Deus humanado é crucificado e agoniza durante três horas numa cruz. Três longas horas de dores indizíveis, sofrimentos inenarráveis na pior forma de suplício que o império romano impunha a seus opositores, bandidos, malfeitores…
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Foi o drama de um Deus crucificado por amor ao homem, criatura moldada à sua “imagem e semelhança” (Gen 1,26). “Deus amou a tal ponto o mundo que deu o Seu Filho único para que todo o que Nele crer tenha a vida eterna” (Jo 3,16). “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele quem nos amou e enviou-nos seu Filho como vítima de expiação por nossos pecados” (1Jo 4,10). “Deus demonstra seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando éramos ainda pecadores” (Rm 5,8).
Um mistério insondável de amor e de dor que projeta luz sobre o quanto cada um de nós é importante para Deus. Cristo não mediu esforços para resgatar cada um de nós para Deus… foi até as últimas consequências. São João expressou isto como ninguém: “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 15,1).
No seio da Trindade o Verbo se ofereceu para realizar o sacrifício de nossa salvação. A Carta aos hebreus explica: “Eis por que, ao entrar no mundo, Cristo diz: Não quiseste sacrifício nem oblação, mas me formaste um corpo. Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não te agradam. Então eu disse: Eis que venho (porque é de mim que está escrito no rolo do livro), venho, ó Deus, para fazer a tua vontade (Sl 39,7ss)… Eis que venho para fazer a tua vontade. Foi em virtude desta vontade de Deus que temos sido santificados uma vez para sempre, pela oblação do corpo de Jesus Cristo” (Hb 10,5-10).
A dívida dos pecados dos homens, sendo, de certo modo infinita, exigia um sofrimento redentor também infinito para reparar a ofensa contra a Majestade infinita de Deus. Então, o sofrimento de Deus feito homem, infinito, triunfou do pecado. O resgate de cada um de nós foi pago. Pelo sofrimento de Jesus, Homem e Deus, a humanidade honrou a Deus incomparavelmente mais do que o ofendera e poderá ainda ofender. O homem, resgatado agora pelo Filho do Homem, pode voltar para os braços de Deus. A justiça divina foi satisfeita.
O projeto salvador de Deus realizou-se “uma vez por todas” (Hb 9,26) pela morte redentora de seu Filho, Jesus Cristo. “Não era preciso que Cristo sofresse tudo isso e entrasse em sua glória?” (Lc 24,26), Jesus pergunta aos discípulos de Emaús.
A Igreja nunca esqueceu que foram os pecadores como tais os autores de todos os sofrimentos de Cristo, pois são os nossos pecados que atingem o próprio Cristo. São culpados desta falta horrível os que continuam a reincidir em pecados. Diz a cara aos hebreus que os que mergulham nas desordens e no mal “de sua parte crucificam de novo o Filho de Deus e o expõem as injúrias” (Hb 6,6). São Francisco de Assis disse que: “Os demônios, então, não foram eles que o crucificaram; és tu que com eles o crucificaste e continuas a crucificá-lo, deleitando-te nos vícios e nos pecados”.
O Catecismo da Igreja ensina que a morte violenta de Jesus não foi o resultado do acaso um conjunto infeliz de circunstâncias. Ela faz parte do mistério do projeto de Deus, como explica São Pedro aos judeus de Jerusalém já em seu primeiro discurso de Pentecostes: “Ele foi entregue segundo o desígnio determinado e a presciência de Deus” (At 2,23). Mas esta linguagem bíblica não significa que os que “entregaram Jesus” tenham sido apenas executores passivos de um roteiro escrito de antemão por Deus” (n.599).
Deus estabeleceu seu projeto eterno de salvação incluindo nele a resposta livre de cada homem à sua graça. Deus permitiu os atos violentos dos inimigos de Cristo a fim de realizar seu projeto de salvação.
“Cristo morreu por nossos pecados segundo as Escrituras” (1 Cor 15,3). A morte redentora de Jesus cumpre a profecia do Servo Sofredor: “Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos… ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniquidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas… Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador. Ele não abriu a boca. Por um iníquo julgamento foi arrebatado. Quem pensou em defender sua causa, quando foi suprimido da terra dos vivos, morto pelo pecado de meu povo?” (Is 53,4-8).
São Pedro explicou bem: “Fostes resgatados da vida fútil que herdastes de vossos pais, pelo sangue precioso de Cristo, como de um cordeiro sem defeitos e sem mácula, conhecido antes da fundação do mundo, mas manifestado, no fim dos tempos, por causa de vós” (1Pd 1,18-20).
Os pecados dos homens, depois do pecado original, são punidos pela morte (Rm 5, 12; 1 Cor 15,56). “Aquele que não conhecera o pecado, Deus o fez pecado por causa de nós, a fim de que, por ele, nos tornemos justiça de Deus” (2Cor 5,21).
Tendo-o tornado solidário de nós, pecadores, “Deus não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós” (Rm 8,32), a fim de que fôssemos “reconciliados com Ele pela morte de seu Filho” (Rm 5,10).
Jesus tinha plena convicção desta missão que assumiu. “Pai, salva-me desta hora. Mas foi precisamente para esta hora que eu vim” (Jo 12,27). “Deixarei eu de beber o cálice que o Pai me deu?” (Jo 18,11). Ele é o “Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo” (Jo 1,29). “Como pela desobediência de um só homem todos se tornaram pecadores, assim, pela obediência de um só, todos se tornarão justos” (Rm 5,19).
Jesus é o novo Adão, que por sua obediência, humildade e imolação de si mesmo, cancelou o documento de dívida que o demônio tinha contra nós. “É Ele que nos perdoou todos os pecados, cancelando o documento escrito contra nós, cujas prescrições nos condenavam. Aboliu-o definitivamente, ao encravá-lo na cruz. Espolio os principados e potestades, e os expôs ao ridículo, triunfando deles pela cruz” (Cl 2,14-15). É do lenho da cruz que pendeu a salvação do mundo!
Prof. Felipe Aquino