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Artigo N.º 3089 - Mártires - Visões da Beata Anna Catharina Emmerich
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Postado em: 16/09/09 às 19:48:54 por: James
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Glorificação de Jesus pelos Santos



Em honra de Nosso Salvador crucificado seguem aqui algumas informações da piedosa Serva de Deus, sobre alguns discípulos dos Apóstolos e algumas Virgens mártires da primeira era cristã, que por amor ao esposo celestial sacrificaram alegremente os bens da vida. Segundo o dito afirmado de Tertuliano: "O sangue dos mártires é a semente de que brotam novos cristãos", colaboraram os mártires de modo especial na propaganda do reino de Cristo. Por isso podemos considerar os santos cuja vida e martírio contamos nas páginas seguintes, como cooperadores na instituição da santa Igreja e que seguirão logo após os Apóstolos, no séquito triunfal do divino Portador da cruz. O leitor poderá reconhecer, ao mesmo tempo, que as visões da religiosa privilegiada de Dülmen fumam a maior parte das legendas desses santos.


1. O santo Papa Clemente. Morto em 101 D.C.. 

E altamente comovente o que a piedosa freira conta do santo Papa Clemente, cuja festa a Igreja celebra a 23 de Novembro.

“Não vi São Clemente junto com São Paulo, mas sim freqüentemente com Barnabé, também com Timóteo, Lucas e Pedro. Era romano: os avós porém, eram judeus, oriundos da região fronteira do Egito. Era casado mas recebeu uma iluminação do céu para viver em continência: a mulher  que, se bem me lembro, morreu também mártir, consentiu em fazer o mesmo. Foi o terceiro Papa, depois de Pedro.

Vi São Clemente como Papa, pouco antes da perseguição. Estava indizivelmente  magro e pálido; tinha quase um aspecto tão lastimoso como Nosso  Senhor na cruz: as faces abatidas, a boca contraída pela tristeza  por causa da cegueira e falsidade do mundo. Vi-o ensinar numa sala, sentado numa cadeira. Os ouvintes estavam muito diferentemente dispostos: alguns tristes e comovidos, outros apenas se fingiam tristes, escondiam a alegria de saber dos sofrimentos iminentes do Pontífice; outros ainda vacilavam nos sentimentos. Vi então entrar soldados roma¬nos,  prendendo São Clemente. Arrastando-o para fora, puseram-no num carro. Na  parte posterior desse carro havia um assento coberto, onde se sentava Clemente;  na parte anterior havia mais lugares, mas sem coberta. Seis soldados seguiram no carro com ele; outros acompanhavam o carro  dos dois lados. Os cavalos eram menores que os de hoje e esta¬vam  também atrelados de modo diverso; não havia tantas correias. Vi o santo viajando no carro dia e noite. Estava muito paciente e triste. Quando chegaram ao mar, foi embarcado no navio e o carro voltou.

Depois tive uma visão do país para onde foi levado. Era uma região pobre, deserta e estéril, onde havia muitas minas profundas. Tudo de um aspecto triste e sinistro. Clemente foi conduzido a uma casa, com duas salas, das quais uma se encostava no centro da outra; cada ala era cercada de arcadas; por uma dessas entrou Clemente e foi conduzido à parte da casa onde moravam os diretores; depois foi levado à outra onde se achavam os presos.

Vi São Clemente num deserto, pedindo água em oração. Então veio um raio de luz do céu, que se estendeu como um porta-voz e deste raio saiu um cordeirinho que, com um dos pés, entregou uma vara afiada embaixo como uma flecha. Na terra, embaixo, estava deitado outro cordeiro. Clemente tomou a vara e fincou-a na terra e imediatamente brotou água do orifício. Os dois cordeiros desapareceram no mesmo instante. Clemente tinha rezado ao Santíssimo Sacramento do Altar. Todos quantos bebiam dessa água, sentiam vivo desejo do Santíssimo Sacramento. Clemente converteu e batizou muitos.

Vi que foi lançado numa fossa cheia de víboras, perto do mar; depois fizeram enchê-la de água. Mas Clemente saiu por meio de uma escada. Vi  que o levaram ao mar alto, num barco e com uma âncora presa ao pescoço e o lançaram ao mar. No lugar onde o corpo tocou no fundo, formou-se na rocha um sepulcro que, ao reflexo do mar, se tomava visível. Os. cristãos formaram do rochedo uma capela em redor do sepulcro, a qual muitas vezes ficava coberta pelo mar."

2. Santo Inácio de Antioquia. l07 D.C

De Santo Inácio, bispo de Antioquia, conta-nos Anna Catharina  Emmerich, o seguinte:

"Vi Jesus, com os discípulos, diante de uma casa de uma pequena cidade, mandando um dos discípulos à casa em frente, para chamar uma mulher com o filhinho, a qual, vindo, lhe trouxe o filho, que podia três ou quatro anos. Tendo o menino chegado diante do Senhor, fechou-se o círculo dos Apóstolos, que se abrira para deixar o menino entrar. Jesus falou a respeito deste, impôs-lhe as mãos, abençoou-o e apertou-o ao  coração. Depois o reconduziram à mãe, que se tinha retirado. Esse menino não era outro senão o futuro Santo Inácio.

  Era um menino muito bom e ficou inteiramente mudado pela bênção de Jesus. Vi-o freqüentemente no lugar onde Jesus o abençoara e beijando o chão, dizia: "Aqui estava o varão santo." Vi-o, brincando com outros meninos, escolher apóstolos e discípulos e passear com eles, ensinando-lhes à moda infantil, imitando assim em tudo o Senhor. Vi-o também reunir os outros meninos no lugar da bênção, contando-lhes o que lhe acontecera e mandando que beijassem também o chão. Os pais viviam ainda, vi-os muito comovidos pelos modos do menino; conversaram-se depois e tomaram-se cristãos.

Mais tarde, já moço, juntou-se aos discípulos do Senhor, particularmente a João, a quem era afeiçoado e que o ordenou sacerdote. Quando João esteve pela primeira vez no exílio, acompanhou-o Inácio, que não o quis abandonar.

Morto Evódio, que era sucessor de Pedro em Antioquia, foi Inácio sagrado bispo dessa cidade, creio que por João ou por Pedro. Vi passar pela cidade um Imperador, a quem Inácio foi apresentado. O Imperador perguntou-lhe se era ele que, como um mau espírito, causava tantas discórdias. Inácio respondeu, perguntando-lhe como podia chamar de mau espírito ao portador de Deus, que trazia Jesus no coração? O Imperador perguntou-lhe então se sabia quem ele era e o santo replicou: que era o  primeiro enviado hoje pelo demônio. O Imperador condenou-o então à morte em Roma e Inácio agradeceu-lhe alegremente. Vi o preso conduzido a uma outra cidade, onde embarcou. Acompanhavam-no soldados, que o tratavam muito mal. Depois o vi desembarcar novamente e por onde passava lhe vinham ao encontro muitos bispos e cristãos, que o saudavam e lhe pediam a bênção. Em Smirna morava em casa do bispo Policarpo, que dantes tinha sido seu condiscípulo; estavam todos reunidos com alegria e Inácio exortava e consolava a todos. Escreveu também cartas ali. Ouvi que disse e também escreveu que rezassem por ele, para que as feras o mastigassem e os dentes das mesmas fossem como mós de moinho, que o triturassem, para ficar qual farinha de trigo, afim de se tornar um pão puro de Jesus Cristo, para o sacrifício.

Também os cristãos de Roma lhe vieram ao encontro, ajoelharam-se, chorando, diante dele e pediram-lhe a bênção. Inácio repetiu que queria ser triturado para o sacrifício do Senhor. A multidão dos cristãos formava como um cortejo triunfal. Vi que foi logo conduzido ao lugar do suplício, onde rogou a Deus que os leões o deixassem rezar ainda um pouco e depois o devorassem inteiramente; apenas o coração e alguns ossos deixassem, para que aumentassem ainda mais a glória de Cristo na terra. Por ocasião desta súplica, me foi feita uma exortação, a respeito da importância  e do valor das relíquias. Como pedira, assim sucedeu: os leões lançaram-se-lhe com grande fúria; mataram-no num instante, devorando-o rapidamente e lambendo-lhe o sangue; em breve não  restava mais que alguns ossos grandes e o coração. Vi que os leões foram retirados da arena, os espectadores também se retiraram; os cristãos porém, correram ao lugar, esforçando.-se para obter algo das relíquias.Todos olhavam para o coração, no qual se tinham formado as letras do nome de Jesus, como tinha sido escrito no título da cruz, em cor azul, pela dilatação de nervos e veias." A festa de Santo Inácio celebra-se a 1 de Fevereiro.

3. S. Dionísio Areopagita

Dionísio, apelidado. o. Areopagita, era filho de pais gentios, mas estudava muito, recomendando-se a um Deus mais perfeito. Avisado de noite por uma aparição, fugiu da casa paterna, atravessando a Palestina, onde ouviu muitas coisas sobre Jesus e depois estudou no Egito a astronomia.  Ali, observando o eclipse do sol por ocasião da morte de Jesus, disse: "Isso não é fenômeno. natural; ou está morrendo um Deus ou o mundo perece."

"Por muito tempo não podia compreender a idéia de um Deus Crucificado. Depois da conversão, viajou muito tempo com Paulo e esteve também com ele em  Éfeso , para ver Maria. O Papa S. Clemente enviou-o a Paris. Vi que consolava o.s companheiros no. cárcere e que Jesus lhe apareceu, dizendo.-lhe: "Segue magnanimamente o teu caminho. de martírio, que te leva a mim; olha que eu também percorro o meu caminho de dores em ti." Vi-lhe também o. martírio. Tomou a cabeça cortada. segurando-a com os braços cruzados sobre o peito e andou em volta do monte. Todos os carrascos fugiram; irradiava-se dele uma luz clara. Uma mulher sepultou-o. Era muito idoso, tinha muitas visões celestes e também Paulo lhe contou o que tinha visto em êxtase. Escreveu muitos e belos livros, dos quais ainda existe grande parte. O livro dos Sacramentos não acabou de escrever; fê-lo outro, em seu lugar." Em outra ocasião, conta Catharina Emmerich: "Vi o livro de Dionísio com muitas de ouro, mas tão estragado e maltratado, que me entristeceu na , de." A sua festa é celebrada a 9 de Outubro..

4. Santa Inês. (21 de Janeiro)

"Vi uma virgem jovem e graciosa, arrastada no meio de soldados, Vestia uma longa veste de lã, de cor parda; um véu cobria-lhe a cabeça, que o cabelo envolvia em tranças.

Os soldados arrastavam-na, segurando-a pelos lados do manto, de modo que a veste ficava muito distendida. Seguia muito povo, entre o qual também algumas mulheres. Levaram-na pela porta de um muro alto, através de um pátio quadrado, a um quarto. Empurrando a virgem para dentro, puxaram-na para todos os lados, arrancando-lhe o manto e o véu. Com sua mansidão e inocência era como um cordeiro nas mãos dos carrascos. Tomando o manto, abandonaram-na. Inês ficou em pé, num canto, no fundo do quarto, olhando para cima com as mãos postas, rezando tranqüilamente.

  Entraram primeiro dois ou três jovens. Avançando furiosos para ela, arrancaram-lhe o vestido do corpo. Nesse momento lhe caíram os longos cabelos e vi aparecer-lhe por cima, voando, um jovem resplandecente (um Anjo) e derramar-lhe em redor uma onda de luz, como uma veste. Os homens assustados deitaram a fugir. Então entrou correndo, um jovem impertinente, que a tinha perseguido com seu amor, rindo-se da covardia dos outros. Quis tocá-la, mas Inês segurou-lhe as mãos e empurrou-o para trás. Ele caiu, mas levantou-se no mesmo momento e arremessou-se furioso contra a virgem. Esta, porém, o atirou novamente para trás, até a porta do quarto, onde caiu por terra, imóvel. Inês, porém, tranqüila como dantes, rezava, resplandecente, na flor da mocidade; o rosto era-lhe como uma rosa luminosa. Aos gritos dos outros, acorreram alguns homens, entre os quais também um que parecia ser o pai do moço que jazia por terra. Estava indignado e furioso, falando em feitiçaria; ouvindo-a, porém, dizer que conseguiria restituir-lhe a vida, se a pedisse em nome de Jesus, acalmou-se e pediu-lhe que o fizesse. Então falou Inês ao morto e este se levantou e foi conduzido pelos outros para fora, ainda cambaleando.

  Passando algum tempo, vi de novo soldados, que entraram no quarto trazendo-lhe um vestido de cor parda, aberto nos lados e atado com um cordão e um véu ordinário, como os recebiam sempre os mártires. Vestiu-os, enrolou o cabelo em volta da cabeça e foi assim conduzida ao lugar do suplício. Era um pátio, cercado de muralhas grossas, nas quais havia cárceres e quartos. Podia-se subir por este muro e olhar para o largo; havia gente lá em cima. Foram levadas também outras pessoas ao suplício, vindas de uma cadeia situada não muito longe do lugar onde Inês fora maltratada; creio que eram um avô, os dois genros e os filhos destes; estavam amarrados uns aos outros com cordas. Quando chegaram diante do Juiz, que estava sentado num assento alto, de pedra, no pátio quadrado, foi Inês conduzida perante o magistrado, que a interrogou  e exortou amavelmente; depois interrogou e exortou também os outros. Estes tinham sido trazidos para serem interrogados e para assistirem ao martírio de Inês. As mulheres desses homens ainda eram pagãs. Depois de interrogados vários presos, um após outro, foi Inês conduzida  novamente ao juiz e assim por três vezes. Depois foi conduzida a um  posto, subindo três degraus e onde a quiseram amarrar; ela, porém, não o permitiu. Em roda havia um montão de lenha, que foi acesa. Vi, porém de novo, pairando sobre Inês uma figura, que derramou sobre torrente de luz, formando um escudo, pelo que as chamas da fogueira desviando-se, se lançaram contra os carrascos, ferindo vários deles. Ela, porém, ficou ilesa. Os carrascos tiraram-na e levaram-na novamente ao juiz.  Foi colocada sobre um cepo ou uma pedra; quiseram atar-lhes as mãos, mas não o quis; pousou-as no regaço. Vi uma figura resplandecente diante dela, segurando-lhe os braços. Então lhe pegou um dos carrascos no cabelo e decepou-lhe a cabeça, como tinham feito Cecília; a cabeça pendia-lhe ainda num dos ombros. Lançaram-lhe o corpo,  assim mesmo vestido, à fogueira. Vi durante o julgamento amigos da mártir, de longe e chorando. Parecia-me muitas vezes um milagre que tais amigos compassivos, que socorriam e consolavam os mártires, não fossem maltratados. O corpo e, creio, até o vestido, não se queimaram. Eu lhe tinha visto a alma sair do corpo, branca como a lua e subir ao céu.

  A execução teve lugar, se bem me lembro, antes do meio-dia e ainda durante o dia lhe tiraram os amigos o corpo da fogueira e sepultaram-no honrosamente. Muitas pessoas assistiram ao enterro; estavam todas veladas, talvez para não serem conhecidas. Creio que vi o jovem curado por ela, no lugar do suplício; ainda não se convertera. Vi, fora da visão, ao  meu lado, a aparição de Santa Inês, luminosa e resplandecente, com a palma na mão. O esplendor que a cercava, era de cor vermelha no centro e por fora se tomava azul. Consolou-me alegremente nas minhas veementes dores, dizendo: "Sofrer com Jesus, sofrer em Jesus é doce".

5. Santa Ágata. (5 de Fevereiro)

"Os pais de Ágata moravam em Palermo; a mãe era ocultamente cristã, o pai era pagão. Vi que a mãe lhe ensinava às escondidas a doutrina cristã. Tinha duas alas. Desde os primeiros anos da infância, alimentava grande intimidade com Jesus. Vi-a muitas vezes sentada no jardim e junto dela um menino belíssimo e resplandecente, com quem falava e brincava. Preparava-lhe um assento cômodo na relva e de mãos postas o ouvia pensativa. Brincavam com flores e pauzinhos. O menino parecia crescer junto com ela. Vinha vê-la também mais tarde, quando mais crescido, à proporção que ela crescia, mas quando estava sozinha.

Vi como Ágata se tornou maravilhosamente pura e forte de coração; cooperava sempre com a graça, negando consentimento mesmo às menores impurezas e imperfeições e castigava-se a si mesma pelas últimas. Ao deitar-se, à noite, estava o Anjo da guarda muitas vezes ao lado, lembrando-lhe o que tinha esquecido e ela corria a fazê-lo. Era uma oração ou esmola ou qualquer coisa referente ao amor, pureza, humildade, obediência, misericórdia, vigilância contra o pecado. Desde criança, se esgueirava muitas vezes furtivamente, com esmolas e alimentos para os pobres. Era uma alma belíssima e muito querida de Jesus, mas em contínua luta. Vi-a açoitar-se e beliscar-se, para punir a concupiscência e as menores faltas. Com todas essas severidades, permanecia entretanto sempre franca, corajosa e desembaraçada.

Quando tinha cerca de oito ou nove anos, vi-a levada com algumas outras meninas, num carro, a Catânea. Ia por vontade do pai, que queria que recebesse uma educação livre pagã. Foi entregue a uma mulher impertinente, que tinha ainda cinco filhas em casa. Estas faziam todo o esforço possível para desviar Ágata da virtude. Vi-as passearem com ela em belos jardins, mostrando-lhe lindos vestidos e jóias; mas a menina conservava-se sempre a mesma, sem manifestar nenhum interesse por tais coisas. Vi o menino celeste ainda muitas vezes junto dela e a menina tornava-se cada vez mais séria e firme. Era muito bonita, não muito alta, mas de formas perfeitas. Tinha o cabelo preto, grandes olhos escuros, o nariz de forma bonita, o rosto de um belo oval; tinha um gênio suave, mas firme, manifestando em todo o seu ser uma admirável fortaleza da alma. Vi que a mãe morreu de tristeza e saudade, durante a ausência da filha.

Em casa da mulher vi como Ágata combatia com coragem e fiel perseverança a sua natureza, resistindo a todas as tentações. Quintiano, que condenou mais tarde ao martírio, vinha freqüentemente a esta casa. Não gostava da esposa, era um homem repugnante, de um gênio baixo e orgulhoso, andava a espreitar em toda a cidade, para depois atormentar ou intrigar as pessoas. Vi-o com aquela mulher e olhando às vezes para Ágata, como se olha uma menina bonita; não a tratava, porém, de modo inconveniente. Vi então ao lado de Ágata o Esposo celeste, visível só para ela. Mostrava-lhe os instrumentos do martírio, creio mesmo que brincavam com estes.

Mais tarde a vi novamente na cidade natal após a morte do pai. Tinha cerca de treze anos. Confessava em público a fé cristã e vivia com gente boa. Ví que foi tirada de casa por homens enviados por Quintiano; veio de novo  para a casa daquela mulher, onde tinha novamente aparições do Esposo celeste. Vi também como a mulher tentava de todos os modos seduzir Ágata, com lisonjas, prazeres e divertimentos; ouvi como  Ágata uma vez lhe respondeu conforme a doutrina do Esposo divino; quando a mulher quis seduzí-la com palavras para uma licenciosidade, respondeu-lhe: "O teu corpo e sangue são criaturas de Deus, como a serpente também o é; mas o que fala em ti é o demônio." Vi as freqüentes visitas de Quintiano à casa dessa mulher e conheci-lhe muito também dois amigos.

Depois vi Ágata ser lançada no cárcere, interrogada e açoitada. Cortaram-lhe os seios. Vi muitas vezes nos martírios o instrumento com que o fizeram e com o qual arrancavam grandes pedaços de carne dos corpos dos santos. Mas estes sentiam um auxílio milagroso de Jesus, que muitas vezes vejo refrigerá-los. Assim não desfaleciam, quando outros teriam caído desmaiados.

Vi Ágata depois no cárcere, onde lhe apareceu um ancião. dizendo que viera curar-lhe os seios. A donzela respondeu, agradecendo, que nunca usara remédios terrenos e que tinha o seu Senhor Jesus Cristo, que a poderia curar, se quisesse. Disse-lhe o ancião: "Sou cris­tão e já muito velho, não tenhas medo de mim." Ágata, porém, responde "As minhas feridas não têm nada que ofenda a castidade. Jesus curar-me-á, se for sua vontade; Ele criou o mundo e pode também criar os meus seios." Então vi o ancião sorrir, dizendo: "Pois sou o servo dEle, eis que os teus seios já estão curados" - e então desapareceu.

Ágata foi conduzida mais uma vez ao martírio. Num quarto abobadado  havia fogões, sob os quais faziam fogo; tinham o feitio de caixotes profundos e nos lados interiores havia muitas pontas agudas e cortantes. Estavam ali muitos desses caixões, um ao lado do outro. As vezes eram diversos homens que neles eram torturados. Podia-se passar por entre os caixões, sob os quais ardia o fogo e assim eram assados vivos os que neles estavam deitados sobre cacos cortantes. Quando Santa Ágata foi lançada num tal caixão, tremeu a terra, um muro desabou matando os dois amigos de Quintiano. O povo amotinou-se, ameaçando Quintiano, que fugiu. A santa Virgem foi levada novamente ao cárcere onde morreu. Quanto a Quintiano, morreu afogado num rio, quando estava fazendo uma viagem para confiscar os bens de Ágata. Vi também, numa época posterior, que um monte vomitava fogo e que o povo fugia  diante da massa ardente, para o sepulcro de Ágata, opondo a tampa do sepulcro ao fogo, que se extinguiu."

Santa Ágata, Santa Petronila e Santa Tecla foram as três virgens mártires mais heróicas, segundo diz a piedosa vidente. Santa Petrolina, era enteada de São Pedro, contribuiu muito para a propagação do Reino de Cristo; comemora-se-lhe a festa no dia 31 de Maio. Santa Tecla era discípula de S. Paulo; celebra-se-lhe a festa a 23 de Setembro.

 

6. Santa Dorotéa (6 de Fevereiro)

    "Vi uma cidade importante, situada numa região montanhosa, (Cesaréia, na Capadócia) e no jardim de uma casa de estilo romano, vi brincando três meninas, de 5 a 8 anos. Seguravam-se umas às outras pelas mãos, ora dançando em roda, ora parando, cantavam e colhiam flores. Depois de ter brincado por algum tempo, vi as duas meninas mais velhas separarem-se da mais nova, afastando-se com as flores, que depois desfolharam. A pequena parecia afligir-se muito, vendo as outras se afastarem para o outro lado do jardim. Vi que a menina abandonada ficou com uma profunda dor no coração, da qual eu compartilhava. O rosto empalideceu-lhe e ao mesmo tempo o vestidinho se lhe tornou branco como a neve e ela caiu como morta no chão. Então ouvi uma voz no coração: "Esta é Dorotéa." Vi no mesmo instante se lhe aproximar a aparição de um menino resplandecente, que tinha na mão um ramalhete de flores, levantou-a e conduzindo-a ao outro lado do jardim, entregou-lhe o ramalhete e desapareceu. A menina ficou muito contente e correndo para as duas outras, mostrou-lhes as flores, contando quem lhas tinha dado. Estas se admiraram muito, abraçaram a pequena, parecendo arrepender-se da ofensa, de modo que a paz se restabeleceu entre elas. A vista disso, nasceu no meu coração o desejo de receber também mais uma vez tais flores, para me confortar. Apareceu-me então de repente Dorotéa, como virgem, exortando-me com belas palavras a fazer uma boa preparação para a Santa Comunhão e disse-me: "Como é que desejas tanto as flores, recebendo tantas vezes a flor das flores?" Explicou-me também a significação daquela visão das meninas, que se referia à apostasia e conversão das duas meninas mais velhas.

Depois tive uma visão da morte da mártir. Vi-a, com as duas irmãs, num cárcere e vi que tinham uma questão. As duas irmãs negavam-se a morrer  por Cristo e foram postas em liberdade. Depois vi Dorotéa diante do juiz, que a mandou levar às duas apóstatas, na esperança de fazê-Ia seguir-lhe o exemplo e ser seduzida pelas palavras das pecadoras. Mas ao contrário, Dorotéa fê-Ias voltar à fé cristã. Foi então amarrada a um poste. Rasgaram-lhe a carne com ganchos, queimaram-lhe os lados com fachos e afinal foi degolada. A vista disto, vi converter-se um jovem (Teófilo), que a tinha escarnecido no caminho do suplício e a quem ela respondera algumas palavras. Vi diante dele a aparição de um menino resplandecente, trazendo flores e frutas. O moço arrependeu-se e confessou abertamente a fé cristã; sofreu também o martírio e foi decapitado. Junto com Dorotéa, foram muitos outros torturados e queimados."

7. Santa Apolônia (9 de Fevereiro)

"A cidade em que Apolônia sofreu o martírio, estava situada sobre uma ponta de terra. Os numerosos ramos pelos quais o Nilo se derrama no mar, não ficam muito longe dali. É uma cidade vasta e bela (Alexandria), na qual se achava a casa paterna de Apolônia, cercada de pátios e jardins, num largo elevado.

Presenciou-lhe o martírio uma viúva idosa, de estatura alta. Os pais eram pagãos; ela, porém, já fora instruída desde criança na doutrina cristã e batizada pela ama, que era uma cristã oculta. Depois de crescida, foi casada pelos pais com um pagão, com quem vivia na casa paterna. Tinha muito que sofrer e a vida matrimonial era-lhe uma penitência penosa. Via-se prostrada por terra, banhada em lágrimas, rezando e cobrindo a cabeça de cinza. O marido era um homem alto e magro e muito pálido; morreu muito antes dela. Apolônia viveu ainda cerca de trinta anos após a morte do esposo, como viúva sem filhos.(26) Fazia muitas obras de misericórdia aos pobres cristãos e era a consolação e esperança de todos os necessitados. A ama sofreu também o martírio, um pouco antes dela. Foi por ocasião de um tumulto, em que foram saqueadas as casas dos cristãos e destruídas pelo fogo, sendo mortos também muitos cristãos. Vi Apolônia mais tarde, presa em casa, por ordem do Juiz, conduzida ao tribunal e depois lançada no cárcere. Vi que foi conduzida repetidas vezes para diante do juiz, sendo cruelmente maltratada, por causa das palavras severas e decididas com que confessava a fé cristã. Era um espetáculo que feria o coração e eu não podia deixar de chorar amargamente, ao passo que podia ver outros martírios, muito maiores, com grande calma. Talvez fosse a idade e o aspecto venerável da mártir o que me comovia. Davam-lhe pancadas com maças, batiam-lhe no rosto e na cabeça com pedras. Esmagaram-lhe o nariz, o sangue corria-lhe da cabeça, as faces e a boca estavam rasgadas, os dentes tinham-lhe saltado fora, com as pancadas. Vestia a veste branca, com os lados abertos, com a qual tantas '..: tenho visto os mártires. Por baixo tinha uma camisa de lã.

(26) Por isso foi também chamada "virgem", porque mais tarde esqueceram que fora casada.

Estava sentada num assento de pedra sem encosto, as mãos amarradas atrás na pedra e também os pés atados. Tinham-lhe arrancado o véu, o longo cabelo pendia-lhe solto em redor da cabeça. O rosto estava todo desfigurado e coberto de sangue. Um dos carrascos segurava-a por detrás, puxando-lhe a cabeça, outro lhe abria a boca ferida, introduzindo-lhe à força na mesma um pedaço de chumbo. Depois lhe arrancou o carrasco um dente após outro com um grosso tenaz, quebrando-lhe ainda pedaços da mandíbula. Durante essa tortura, em que Apolônia sofreu até  cair desmaiada, vi que Anjos, almas de santos mártires e também a  aparição de Jesus a consolavam e confortavam e que implorou e recebeu  a graça de tomar-se protetora contra dores de dentes, de cabeça e do rosto. Como não deixava de louvar a Jesus e desprezar os sacrifícios dos ídolos, mandou o juiz que fosse conduzida à fogueira e se não mudasse de convicção, lançada ao fogo. Vi que não podia mais andar sozinha; estava já semi-morta. Dois carrascos levantaram-na pelos braços e arrastaram-na a um lugar elevado e plano, onde ardia uma fogueira numa fossa. Diante da fogueira, parecia pedir uma coisa. Não podia mais levantar a cabeça. Os pagãos julgaram que quisesse negar Jesus ou que  vacilasse na fé e soltaram-na. Ela, porém, caiu por terra moribunda. Rezou, mas de repente se levantou e deitou-se nas chamas. Durante todas as torturas vi muita gente pobre, à qual Apolônia socorrera, durante tantos anos: torciam as mãos, choravam e lamentavam. Por si mesma não teria podido lançar-se no fogo, recebeu a força e inspiração de Deus. Vi que não foi consumida pelo fogo, mas assada. Depois que morreu, os pagãos abandonaram o lugar. Os cristãos aproximaram-se ocultamente, tiraram o corpo sagrado e sepultaram-no num lugar abobadado."

8.Cecília (22 de Novembro)

"A casa paterna de Cecília estava situada num lado de Roma. Tinha o mesmo feito da casa de Santa Inês, com pátios, arcadas e um chafariz. Os pais não os vi muitas vezes. Vi Cecília, muito bonita, meiga e viva, de faces vermelhas e rosto delicado, quase como Maria. Vi-a brincar com outras crianças nos pátios. Quase sempre estava com ela um Anjo, na figura de um menino gracioso; falava-lhe e o via, mas as outras crianças não o viam. Proibira-lhe de falar dele. Muitas vezes eu via junto dela crianças, à cuja aproximação o Anjo se afastava. Tinha cerca de sete anos. Vi-a também sozinha no quarto e o Anjo ao lado, ensinando-a a um instrumento de música, colocando-lhe os dedos nas cordas ou segurando uma folha de papel. Ora tinha uma caixa encordoada sobre os  joelhos e o Anjo pairava-lhe em frente, segurando um rolo de pergaminho, para o qual ela olhava; ora tinha um instrumento parecido com o  violino, encostado ao ombro e ao pescoço; com a mão direita tangia as cordas e cantava para dentro do instrumento, que tinha uma abertura coberta como de uma pele. Produzia um som suavíssimo. Vi também muitas vezes com ela um menino, de nome Valériano e o irmão mais velho, como também um homem vestido de um longo manto branco, morava perto e julgo ser aio do menino que brincava com Cecília e parecia ser educado com ela e destinado a ela.

Vi, porém, uma ama de Cecília, que era cristã e por intermédio da qual travou conhecimento com o Papa Urbano. Vi Cecília e as companheiras encherem muitas vezes de víveres e frutas as dobras das vestes, que arregaçavam depois do lado e cobriam com os mantos. Assim carregadas, saiam juntas furtivamente pela porta, para que ninguém notasse coisa alguma. Vi o Anjo de Cecília acompanhá-la sempre, o que era um quadro muito gracioso. Vi as crianças irem a um edifício, cercado de grandes torres, muros e diques. Dentro desses muros e em subterrâneos abobadados, viviam cristãos encarcerados. Não me lembro com certeza se estavam encarcerados ou apenas escondidos; parecia-me, porém, que os pobres que moravam nas estradas, eram guardas ou cuidavam do esconderijo. Lá vi as crianças repartindo entre os pobres o que tinham trazido; faziam-no furtivamente. Vi que Cecília prendia as saias às pernas por meio de uma fita e assim deslizava pelo íngreme aterro abaixo. Ali a deixavam entrar nos subterrâneos e uma vez a fizeram penetrar, por uma abertura redonda, num subterrâneo, onde um homem a levou a Santo Urbano. Vi que este lhe ensinava, lendo rolos e que ela levava e também trazia tais rolos de escritura, sob o manto. Tenho também uma  lembrança vaga de que foi batizada lá embaixo. Vi uma vez Valériano, já moço, com o preceptor, entre as moças que brincavam; quis abraças Cecília durante o brinquedo, mas esta o repeliu. O jovem queixou-se ao preceptor, que o contou aos pais da donzela. Não sei o que disseram, mas castigaram Cecília, proibindo-lhe de sair do quarto. Lá vi sempre o Anjo com ela, ensinando-a a tocar o instrumento e a cantar.

Finalmente tive também uma visão dos esponsais de Cecília. Vi os pais de ambos e muitos outros homens, mulheres, meninos e meninas numa sala, onde se viam belas estátuas. Cecília e Valériano estavam adornados de grinaldas e vestes festivas, de cor. Havia também uma mesa baixa, carregada de iguarias. O Anjo ficava sempre entre Cecília e o noivo. Depois os vi a sós num quarto. Cecília disse que era sempre acompanhada por um Anjo e como Valériano quisesse vê-lo, respondeu que não o podia sem ser batizado. Quando o mandou procurar Santo Urbano, já seguira com o esposo para outra casa."

Em outra ocasião conta Catharina Emmerich: "Vi a Santa sentada num quarto muito simples, quadrangular. Tinha sobre os joelhos uma caixa triangular, da altura de algumas polegadas, encordoada, na qual tocava com  ambas as mãos; erguia os olhos e sobre ela se via um esplendor e pairavam entes luminosos, como Anjos ou crianças bem-aventuradas,  cuja presença Cecília parecia sentir. Vi-lhe também ao lado um Jovem sumamente puro e delicado; era mais alto do que ela, mas sujeitava-se-lhe humilde, obedecendo-lhe às ordens. Creio que era Valériano, pois mais tarde o vi amarrado com outro (Tibúrcio) a um poste, flagelado com açoites e decapitado. Não se realizou este martírio na praça grande do suplício, mas num lugar mais deserto. Vi também o martírio de Santa Cecília, num pátio circular, diante da casa. A casa era quadrangular, com terraço sobre o qual se podia passear; nos quatro cantos havia quatro esferas de alvenaria e no centro, creio que uma estátua. No pátio tinham colocado uma caldeira grande, aquecida por uma forte fogueira e na qual vi sentada a virgem, com os braços estendidos, vestida de branco, resplandecente e alegre. Um Anjo, irradiando uma luz vermelha, estendia-lhe a mão, outro segurava-lhe uma coroa de flores sobre a cabeça. Tendo uma lembrança obscura de ter visto um animal cornudo, que parecia uma vaca brava, mas não como as vacas de nosso tempo; foi conduzido pela porta do pátio e através deste a um buraco escuro. Cecília foi depois tirada da caldeira e três vezes golpeada no pescoço, com uma espada curta e larga. Mas não vi senão a espada. Vi-a também viva ainda, apesar de ferida e falar com um sacerdote velho, que eu já tinha visto antes, em casa da mártir. Mais tarde vi a casa transformada em Igreja; vi lá conservadas muitas relíquias, inclusive o corpo da Santa, do qual, porém, de um lado, tinham sido tiradas muitas partes. Havia Missa nessa Igreja."

Santa Cecília apareceu na sua festa de 1819 à piedosa serva de Deus, para a consolar na perseguição que contra ela se levantara.

"Pedi a Santa Cecília que me consolasse e no mesmo momento tive a aparição. Era comovente. A cabeça, separada por uma larga ferida do pescoço, estava inclinada sobre o ombro esquerdo. Não era alta, tinha cabelos e olhos pretos, cútis branca, era bela e delicada. Vestia uma veste branca, mas não branqueada, com grandes e grossos florões dourados, com a qual provavelmente foi martirizada. Disse-me mais ou menos o seguinte: "Tem paciência. As tuas faltas Deus as perdoará, se te arrependeres. Não fiques tão abatida por ter dito a verdade aos teus perseguidores. Quem é inocente, pode falar com toda a franqueza os inimigos. Também falei com severidade aos meus inimigos e quando me falaram da flor da mocidade e das flores de ouro do meu vestido. respondi-lhes que as estimava tão pouco como o pó de que eram feitos os seus ídolos e que queria ouro em troca desse lodo. Vê, com esta ferida vivi três dias e gozei do consolo do servo de Jesus Cristo. Trouxe-te a paciência, a menina de verde roupagem; ama-a, que ela te auxiliará"

9. Santa Catarina de Alexandria. (25 de Novembro)

"O pai de Santa Catarina chamava-se Costa. Era descendente de  estirpe real; pois um dos seus antepassados era Hazael, que fora ungido rei da Síria por Elias, por ordem de Deus. Do lado materno descendia Catarina da família de Mercúria, sacerdotisa pagã, convertida por Jesus na ilha de Salamina.

Catarina era filha única de Costa. Tinha, como a mãe, cabelo loiro-claro, era muito viva e corajosa, tendo sempre alguma coisa que sofrer ou disputar. Tinha uma ama e desde muito cedo recebeu mestres masculinos. Via-a fazer brinquedos de cortiça para crianças pobres. Já mais crescida, escrevia muito sobre lousas e rolos, dando-os depois a outras meninas, para as copiar. Vi também que se dava muito com a ama de Santa Bárbara, que era cristã ocultamente. Catarina possuía em alto grau o dom de profecia dos antepassados de sua mãe e aquela profecia a respeito do grande profeta foi-lhe mostrada também numa visão, quando tinha apenas seis anos. Contou-a durante o jantar aos pais, que não ignoravam a história de Mercúria. O pai, homem muito severo e reservado, encerrou-a por castigo num subterrâneo. Vi que ali os ratinhos e outros animais se lhe mostravam muito familiares, brincando diante dela. Havia uma luz em redor de Catarina. Desejava de toda a sua alma o Salvador dos homens, pedindo que a tocasse também e tinha muitas visões e iluminações. Desde aquele tempo nutria um ódio invencível contra todos os ídolos; escondia, enterrava ou quebrava todas pequenas estátuas de falsos deuses, que podia apanhar e por isso e por motivo dos discursos estranhos e profundos que proferia contra a idolatria, era muitas vezes encerrada no cárcere do pai. Contudo era também instruída em todas as ciências; vi que andando, escrevia na areia e nas paredes do palácio e que as companheiras a imitavam.

Quando tinha cerca de oito anos, partiu com o pai para Alexandria, onde o futuro noivo a conheceu. O pai voltou com ela a Chipre. Ali não havia mais judeus, mas de vez em quando se encontravam um escravo judeu e poucos cristãos ocultos. Catarina foi instruída interiormente por Deus e rezava com ardente desejo do Batismo, que recebeu aos dez anos. Foi quando o bispo de Dióspoli mandou, às ocultas, três sacerdotes a Chipre, para consolar os cristãos. Recebeu uma ordem interna de mandar batizar também Catarina, que estava então novamente no cárcere, onde tinha por guarda um cristão disfarçado. Este a levou de noite à reunião secreta dos cristãos, num subterrâneo fora da cidade, onde ela foi repetida vezes e lá, junto com outros, foi instruída na fé e batizada  pelos sacerdotes. Vi que o batizante lhe derramou sobre a cabeça água de uma taça.  Catarina recebeu, com o batismo, uma inefável sabedoria. Falava de coisas maravilhosas, mas ainda ocultava a fé cristã, como todos os cristãos faziam. Como, porém, o pai não lhe suportasse mais aversão pela idolatria, as palavras e profecias, levou-a a Pafos, mandando encerrá-la num cárcere, julgando que ali não poderia travar relações com pessoas da mesma convicção religiosa. Contudo Catarina era tão bela e inteligente que o pai a amava ternamente. As criadas e guardas eram mudadas freqüentemente, porque havia entre elas muitas vezes ocultas cristãs.  Já dantes gozara da aparição de Jesus, o Esposo celeste, no qual sempre pensava e de outro esposo não queria saber. De Pafos voltou novamente para casa e o pai quis dá-Ia em matrimônio a um jovem de nome Maximiliano, descendente de uma antiga família real e sobrinho do governador de Alexandria, que não tinha filhos e o fizera seu herdeiro.  Mas Catarina não o queria absolutamente. Antes deste noivado, quando tinha doze anos, lhe morrera a mãe nos braços. Catarina confessou a mãe que era cristã e instruiu-a, induzindo-a a receber o batismo. Vi que Catarina derramou água de uma taça de ouro, com um ramo, sobre a cabeça, testa, boca e peito da mãe.

Havia sempre muito tráfego entre Alexandria e Chipre e o pai mandou Catarina à casa de parentes, esperando que afinal se afeiçoasse ao noivo. Tinha naquele tempo treze anos. Em Alexandria morava com o pai do noivo, numa vasta casa, com várias salas. O noivo morava também lá, mas separado dela; estava como desvairado de amor e mágoa. Ela, porém, falava sempre do outro noivo, a quem amava; por isso pensaram em mudar-lhe os sentimentos pela sedução. Mandavam também homens sábios e doutos, para a desviar da fé cristã, mas Catarina confundia a todos.

Naquele tempo era Teonas Patriarca de Alexandria, o qual conseguiu com grande brandura, que os cristãos não fossem perseguidos pelos pagãos. Mas eram sempre muito oprimidos e tinham de suportar tudo calados e de evitar qualquer campanha contra a idolatria. Nessas circunstâncias se formou uma perniciosa convivência tolerante com os gentios, causando grande indiferença entre os cristãos e por isso dispôs Deus que Catarina despertasse muitos da frouxidão, pelas suas luzes e seu ardente zelo. Vi Catarina em casa de Teonas. Este lhe deu o Santíssimo Sacramento, que ela levou para casa, transportando-o numa cápsula de ouro sobre o peito. Não recebeu o Preciosíssimo Sangue. Vi naquele tempo em Alexandria muitos pobres homens presos com a aparência de eremitas, que eram horrivelmente torturados nos trabalhos pesados de construções, transportando ou carregando pedras. Creio que eram judeus convertidos à fé cristã, que tinham formado uma colonia ao pé do monte Sinai, sendo depois presos e levados a Alexandria.  Vestiam vestes de cor parda, tecidas de cordas da grossura de um dedo e um pano pardo na cabeça, que pendia sobre os ombros. Vi que também receberam o Santíssimo Sacramento às escondidas.

Catarina voltou também uma vez a Chipre, quando o noivo fez uma viagem de Alexandria à Pérsia e ela esperava ficar livre dele. O pai estava muito enfadado de a ver ainda solteira. Teve de voltar para Alexandria e lá insistiram ainda mais para que se casasse. Mais tarde a levou o pai ainda uma vez à Salamina, onde foi solenemente recebida por moças pagãs e levada a muitos divertimentos e festas; mas não conseguiram mudar-lhe a decisão.

De volta a Alexandria, insistiam ainda mais em lhe tirar a fé. Vi uma grande festa pagã. Catarina foi obrigada pelos parentes pagãos a ir ao templo pagão; mas não se deixou induzir a sacrificar aos ídolos. Ao contrário, quando estavam os pagãos no meio das esplêndidas cerimônias do sacrifício, avançou Catarina, inspirada de zelo sobrenatural para os que sacrificavam e derrubando os altares de incenso e os vasos, começou a pregar em alta voz contra o pecado abominável da idolatria. Levantou-se grande tumulto, apoderaram-se dela, declarando-a louca; repreenderam-na no átrio do templo, mas a jovem começou a falar ainda com mais veemência. Então a prenderam, mas a caminho do cárcere chamou todos os cristãos para se reunirem a ela e darem o sangue Aquele que os salvara com seu Sangue divino. Foi encarcerada, açoitada com escorpiões e lançada às feras. Eu pensava comigo que não era permitido procurar assim à força o martírio. Mas há exceções desta regra e instrumentos da vocação de Deus. Catarina tinha sido sempre impelida à idolatria e ao odioso matrimônio; logo depois da morte da mãe, o pai a  levara muitas vezes às indecentes festas de Vênus; lá, porém, nunca abrira os olhos. Em Alexandria afrouxara o zelo dos cristãos.

Agradava muito aos gentios que o patriaca Teonas consolasse os maltratados escravos cristãos e os exortasse a servirem fielmente aos cruéis senhores; mostravam-se tão amigos de Teonas, que muitos cristãos fracos na fé pensavam que a idolatria não fosse condenável.  Por isso Deus mandou esta virgem de espírito forte, corajosa e inspirada, para converter pelas palavras, pelo exemplo e o martírio muitos  que , sem isto, teriam perecido.  Cuidara sempre tão pouco de ocultar a fé, que visitava os escravos e operários cristãos, nas praças públicas, consolando-os e exortando-os à perseverança na fé; pois sabia quantos se tornavam indiferentes, pela tolerância e apostatava da fé.  Vira também tais apostatas no templo, tomando parte nos sacrifícios; por isso lhe era tão veemente a dor e indignação. As feras, às quais foi lançada depois da flagelação, lambiam-lhe as feridas, que saravam de repente, por milagre quando foi novamente levada ao cárcere.  Chegou o pai de Salamina tirando-a do cárcere, levou-a de novo para a casa do noivo. Ali empregaram todos os meios de tentação, para a induzir à apostasia. Mas as moças pagãs, que a deviam persuadir à idolatria, eram convertidas por ela para Cristo e também os filósofos que vieram disputar com ela, aderiram-lhe. O pai ficou furioso, atribuiu tudo à feitiçaria e mandou açoitar Catarina de novo e lançá-la no cárcere. A mulher do tirano (Maximino) visitou-a no cárcere e converteu-se, junto com um oficial (Porfírio). Quando entraram no cárcere, um Anjo pôs-lhe uma coroa sobre a cabeça e outro lhe ofereceu uma palma. Não sei se a mulher o viu.

Catarina foi então levada ao circo e colocada sobre um estrado, entre rodas largas, munidas de pontas de ferros cortantes, como relhas de arado. Quando quiseram fazer girar as rodas, foram quebradas pelos raios lançados no meio dos pagãos, dos quais cerca de trinta ficaram feridos ou mortos. Desencadeou-se uma violenta tempestade, com saraivada; ela, porém, ficou sentada tranqüilamente, com os braços estendidos, entre os destroços das rodas. Conduziram-na novamente ao cárcere  e por vários dias tentaram persuadí-la à idolatria. Alguns homens quiseram violá-la, mas Catarina repeliu-os com a mão e eles ficaram rígidos como estátuas e sem força para se mover. Outros se atiraram sobre ela, mas a donzela afastou-os, mostrando-lhes os que se tinham tomado como petrificados. Tomavam tudo por feitiçaria e Catarina foi de novo conduzida ao lugar do suplício. Ajoelhou-se diante de um cepo, volvendo a cabeça um pouco para o lado e assim foi degolada, com um ferro das rodas destruídas. Correu tanta quantidade de sangue, que todos se admiraram; esguichava com força e tomou-se finalmente claro como água. A cabeça caiu por terra. Atiraram o corpo sobre uma fogueira, mas as chamas arremessaram-se contra os carrascos; o corpo ficou envolto, numa nuvem de fumaça. Tiraram-no então e lançaram-no a algumas feras esfomeadas, para que o despedaçassem. Mas estas não o tocaram e no dia seguinte os carrascos atiraram o corpo da santa virgem numa fossa cheia de excrementos, debaixo de sabugueiros. Na noite seguinte vi nesse lugar dois Anjos, em vestes sacerdotais, que envolveram o corpo resplandecente numa coberta de entrecasca e o levaram, voando.

  Os dois Anjos transportaram o corpo da virgem para o cume inacessível do monte Sinai. Vi a superfície do cimo, era pouco extensa, tamanho de uma pequena casa; constava de uma rocha de diversas cores, na qual se achavam impressas formas de plantas. Colocaram cabeça e corpo de bruços sobre a rocha, que parecia mole como cera, pois o corpo se lhe imprimiu inteiro, como numa forma. Vi que os lados superiores das mãos estavam perfeitamente desenhados na pedra. Os Anjos colocaram sobre a pedra, que se elevava um pouco acima do solo, coberta brilhante. O santo corpo ficou nesse lugar, durante vários séculos, inteiramente oculto, até que foi mostrado por Deus, numa visão, a um eremita, perto do monte Horeb.

  Ali viviam vários eremitas, sob a direção de um abade. O eremita revelou ao abade a visão, que várias vezes tivera e verificou-se que ainda outro dos confrades tinha tido a mesma visão. O abade ordenou-lhes, sob obediência, que trouxessem o santo corpo, o que de modo natural era impossível; pois o cume era inteiramente inacessível, inclinado e fendido. Vi-os abrirem numa noite caminho, para o qual precisa de vários dias; estavam num estado sobrenatural. Era noite escura, em redor lhes brilhava uma luz. Vi que ambos foram levados por Anjos ao cume escarpado; vi os Anjos abrirem o sepulcro, entregando a um a cabeça, ao outro o corpo envolto, que já se tomara pequeno e leve e carregando as relíquias assim nos braços, foram levados novamente para baixo pelos Anjos, que os seguravam pelos braços. Vi ao pé do Sinai a capela onde descansa o corpo sagrado: é construída sobre doze colunas. Os monges pareciam ser gregos. Vestiam hábito de uma fazenda grossa, que ali mesmo fabricavam. Vi as relíquias de Santa Catarina num pequeno caixão. Mas restava apenas o alvíssimo crânio e um braço inteiro; mais não vi. Tudo está em ruína.

  Vi também no monte, ao lado da sacristia, um pequeno subterrâneo cujas paredes contém, em cavidades, santas relíquias, que na maior parte estão envoltas em pano de lã ou seda e bem conservadas. Há entre elas também restos de profetas, que antigamente viveram ao pé do monte e que já eram venerados nas grutas do monte pelos Essenos. Vi ali também ossos de Jacó, de José e da família, que os israelitas trouxeram consigo quando saíram do Egito. Essas santas relíquias pareciam ser desconhecidas; mas são às vezes veneradas por piedosos monges. A Igreja encosta-se ao lado do monte que dá para Arábia. Mas de tal modo,que se lhe pode ainda passar por detrás.

Catarina tinha dezesseis anos, quando morreu mártir, no ano 299. Das numerosas virgens que a acompanharam chorando, ao lugar do suplício, apostataram algumas mais tarde; a mulher do tirano, porém, e o oficial sofreram com firmeza a morte e o martírio".




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