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Artigo N.º 6159 - Acabou-se o que era doce?
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Postado em: 09/09/10 às 15:54:39 por: James
Categoria: Marisa Bueloni
Link: http://www.espacojames.com.br/?cat=123&id=6159
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(Marisa Bueloni)

Alguns amigos queridos, quase que sem o saber, estão sempre me inspirando. Sou fã deles e delas, leio seus textos e poemas, pego carona no sonho de cada um, no rastro de estrelas e pedaços de luar que vão deixando atrás de si. Pego na rabeira, me segurando para não cair na brecada da vida.

O que seria de nós sem a influência bendita do que lemos, do que vemos e ouvimos? Uma frase solta, entreouvida no supermercado, ou de alguém no carro ao lado, em plena espera do farol, é matéria prima para uma crônica do cotidiano. Abençoado momento de inspiração. 

Postei um comentário para um texto de um amigo querido. Ele dá um “Bom Dia” diário no site que mantém já há um bom tempo na internet (www.aprovincia.com). Tento responder a esta saudação maravilhosa, porque, em geral, ela vem recheada de boas reflexões, pensamentos e lembranças que ninguém, em sã consciência, deve perder.

E ao postar meu comentário, fazendo reverberar a pergunta “acabou-se o que era doce?”, também caí nas recordações. Ah, meu bom Pai do céu e da terra, por que é que temos de olhar sempre para o passado – embora ele esteja ali, naquele lindo quarteirão, onde ainda existe a nossa casa ancestral? Quem não se lembra da casa onde morou quando criança? O portãozinho rente à rua, a trepadeira agarrada às paredes do terracinho sombreado?

Quem não teve um quarto com uma janela maravilhosa dando para a magnífica visão do Paraíso? Ou seja, uma nesga do quintal do vizinho, aquele, onde se podia enxergar a copa das árvores, os pés de frutas – lá, onde segundo o poeta, toda maçã nascia, todo balão caía?

No meu comentário, dialogo com meu amigo querido: acabou-se o que era doce? Acabaram-se as serenatas... Cadê a turma de violão em punho, pelas madrugadas, o sereno da noite e a voz que saía maviosa do peito apaixonado? A namorada lá dentro da casa tinha por obrigação acender uma luz externa, para indicar que estava ouvindo e a-do-ran-do!

Uma vez, meu pai, muito bravo com uma de minhas irmãs, pois não gostava do rapaz, não a deixava acender a luz. “Mas, pai, é falta de educação ficar de luz apagada com a serenata lá fora...”. Ela acendia, meu pai apagava. Eu era pequena, ainda não estava na idade de ganhar serenatas (depois ganhei muitas) e achava graça naquela briga deliciosa, minha mãe andando pela casa de camisola, sonolenta, sem saber se ia contra ou a favor. E o olhar de sofrimento da minha irmã!... E a música romântica lá fora, cantada pelo rapaz. Que madrugada mais linda.

Estas coisas maravilhosas somem da nossa frente como um sopro de fumaça... Ficamos perdidos, tateando aqui e ali, buscando o intangível... Quem conseguia pegar no sono novamente, depois de uma cena daquelas? Puro sonho. Este tempo existiu de fato ou a gente apenas sonhou, meu amigo querido?

Lembro de uma valsa maravilhosa, “Rapaziada do Brás”, na voz inconfundível de Carlos Galhardo. Sim, os ternos madrigais, imagens de um passado que não volta mais. Não volta mesmo. Ah, a descida pela rua Governador, rumo à faculdade que ficava bem no centro. Alguém sabe o que isso significava? A calçada era de ouro puro, os quarteirões haviam sido desenhados para os meus pés, um prefeito inteligente cuidava disso e a felicidade existia. A alma vivia pegando fogo, o coração ia aos pulos. Um anjo andava do meu lado. Eu podia pegar na mão dele, se quisesse.

Por quê? De onde vinha tudo aquilo? O ímpeto e a paixão devoradora dentro do peito? Sim, a juventude saía pelos poros e tudo o que se desejava era sonhar. Mas também viver o sonho, caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento. Não lembro se eu tinha algum sonho muito especial. Ser cantora? Impossível, meus pais não iriam permitir. Estudar fora de minha cidade, cursar jornalismo em São Paulo? Nem pensar. O jeito foi me contentar com as duas faculdades em minha cidade mesmo e, mais tarde, depois de casada, o curso de jornalismo.

Acabou-se o que era doce? Acabou-se?... Acho que não. Escrevo em sua homenagem, porque você completou gloriosos 70 anos de vida e participei desta festa que foi memorável, sob todos os aspectos. Quem esteve lá entendeu a sua proposta: a reunião destes pedaços de sonhos que somos todos nós, alguns bem ao seu lado, nesta trajetória chamada VIDA.

Acabou-se o que era doce? Claro que não! Vou morrer afirmando que não. O que era doce não vai acabar nunca – porque está dentro dos nossos corações para sempre. Ninguém nos arrebatará esta doçura delicadíssima. Para pessoas como você, com esta paixão dentro do peito, este doce de sonho é infinito e o acompanhará nos próximos anos, no seu “Bom Dia” inflamado, apaixonado, irritado e que nos cutuca para pensar, refletir... e sonhar.

Felicidades, meu amigo. Deus o abençoe. A crisálida, enfim, se tornou a borboleta que agora vai descobrir a beleza. Esta beleza que habita os esconderijos, as alturas, os abismos, o sagrado, o intocável. Essa beleza que nos é tão cara e convidativa. Queremos estar com ela, ser parceiros dela, pelo menos em alguns dadivosos momentos de enlevo.

Felicidades, ó vida. Tu mereces uma felicitação pelo que fazes conosco, candidatos ao pó. Pois é nisto que nos tornaremos um dia. Meras cinzas – sinal de que uma fogueira poderosa nos consumia o tempo todo. Que essa poeira de estrelas a que somos destinados nos reúna a todos num Banquete – o mais belo e o mais eterno -, onde a luz jamais se apaga.

E lá, certamente, o que é doce não terá fim...


Marisa Bueloni mora em Piracicaba. É formada em Pedagogia Orientação Educacional – marisabueloni@ig.com.br



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