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Artigo N.º 274 - Os cavaleiros do apocalipse começam a marchar sobre a Terra
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Postado em: 20/11/07 às 10:08:23 por: James
Categoria: Artigos
Link: http://www.espacojames.com.br/?cat=1&id=274
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"O quinto anjo tocou a sua trombeta, e vi uma estrela que do céu caíra sobre a terra; e foi-lhe dada a chave do poço do abismo. E abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço, como fumaça de uma grande fornalha; e com a fumaça do poço escureceram-se o sol e o ar. Da fumaça saíram gafanhotos sobre a terra; e foi-lhes dado poder, como o que têm os escorpiões da terra. Foi-lhes dito que não fizessem dano à erva da terra, nem a verdura alguma, nem a árvore alguma, mas somente aos homens que não têm na fronte o selo de Deus. Foi-lhes permitido, não que os matassem, mas que por cinco meses os atormentassem. E o seu tormento era semelhante ao tormento do escorpião, quando fere o homem. Naqueles dias os homens buscarão a morte, e de modo algum a acharão; e desejarão morrer, e a morte fugirá deles". (Livro do Apocalipse)

Furacões mais intensos. Tornados devastadores com maior frequência. Secas catastróficas. Inundações maciças. O mar subindo e inundando cidades e desaparecendo com ilhas e países. Dezenas de milhões morrendo de fome. Pragas atingindo áreas agrícolas. As calotas polares derretendo totalmente. Ondas de calor sufocantes. O mundo conhecerá dentro de instantes em Paris, na França, o Sumário para Formuladores de Políticas, o primeiro de uma série de documentos sobre o aquecimento global que será divulgada pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU. As conclusões que são antecipadas pela imprensa apontam para o período mais quente na Terra em 1.300 anos e que os efeitos do aquecimento global perdurariam por mil anos mesmo se os homens acabassem neste momento com todas as suas atividades poluidoras. O cenário que se desenha é, no mínimo, apocalítico. As circunstâncias que cercaram a redação final do documento, entretanto, colocam em dúvida a sua credibilidade.

Centenas de cientistas especialistas em clima e representantes de governos de todo o mundo trabalharam durante toda a semana a portas fechadas e, não raro, com cortinas cerradas em um prédio da ONU na capital francesa a fim de resumir os fatos em torno do aquecimento global divulgados nesta sexta-feira no Assesment Report 4 - Summary for Policy Makers. "Os cientistas não podem ser forçados a alterar os seus documentos e estudos, mas governos podem exigir modificações no Sumário para Formuladores de Política", revelou em entrevista ao jornal Herald Tribune o secretário-executivo da Convenção das Nações Unidas para Mudanças Climáticas. Os principais autores do relatório desta sexta-feira foram inundados nos últimos dias por telefonemas e e-mails de outros cientistas e experts interessados em defender suas posições, favoráveis ao indicativo menos ou mais catastrófico em relação ao aquecimento global. Com tradutores virando as noites para publicar os documentos em seis idiomas e representantes de governos pressionando para que as conclusões não conflitassem com os interesses dos seus países e governantes, rusgas estouraram nas salas fechadas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU. "Eles tentam destacar a existência de incertezas em certas questões", disse um cientista participante da reunião do IPCC em entrevista ao jornal na condição de anonimato. Na quarta-feira à noite, frustrados com as pressões dos Estados Unidos e da China para que a linguagem do documento fosse alterada, alguns pesquisadores enviaram e-mails descrevendo que "isso aqui está se tornando um processo impossível". Governos pressionavam para aumentar ou diminuir as projeções constantes do documento.

O documento mais importante do ano relacionado ao aquecimento global não é o AR4 desta sexta-feira, escrito por políticos e cientistas, mas sim o WG1, o relatório preparado exclusivamente por cientistas e que dá sustentação ao documento de hoje, cuja previsão de divulgação é maio deste ano. Somente pessoas ligadas ao IPCC da ONU têm acesso ao Relatório Working Group I entre este 2 de fevereiro e a sua divulgação daqui a três meses. Tal procedimento é descrito como incomum em relatórios de comissões. O código de procedimentos do IPCC (Seção 4) estabelece: "Mudanças (que não sejam gramaticais ou pequenas alterações editoriais) feitas após a aceitação do Grupo de Trabalho ou o Painel serão aquelas necessárias a garantir a consistência com o Sumário para Formuladores de Políticas ou o Capítulo Geral". Assim, o lapso de três meses até a divulgação do relatório (o mais importante e feito somente pelos cientistas) tem como objetivo permitir aos pesquisadores que adaptem o seu documento técnico ao Sumário para Formuladores de Políticas (que tem ingerência política). Tal fato coloca uma mancha no trabalho do IPCC e compromete a sua credibilidade. Agora, como o regramento do Painel de Mudanças Climáticas da ONU sugere que nenhuma vírgula poderia ser alterada do WG1 após o dia de hoje de forma a garantir "consistência" com o Relatório para Formuladores de Política, o risco é a existência de documentos partindo do mesmo órgão com conclusões distintas ou opostas.

Um pesquisador norte-americano favorável ao aquecimento global e com quem tivemos oportunidade de trocar idéias esta semana nos resumiu com sabedoria toda a complexidade envolvendo a questão. "Quando a política invade a ciência, três grupos se formam: os favoráveis, os contrários e a verdade". Diz o IPCC a verdade no seu primeiro relatório ? Você confiaria em documento cujas conclusões foram negociadas por governos ? "E abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço, como fumaça de uma grande fornalha; e com a fumaça do poço escureceram-se o sol e o ar". A fumaça dos interesses obscurece a razão científica, seja ela favorável ou contrária ao aquecimento global, e da terra brota o apocalipse da verdade !!

Publicado no Blog Direto da MetSul em 2 de fevereiro de 2007 pelo meteorologista Eugenio Hackbart



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