Espacojames

Aparições
Listar Itens dessa Categoria





NOSSA SENHORA DA ORAÇÃO - ILE-BOUCHARD, FRANÇA (1947)
Artigo visto 2155 vezes


“Rezai pela França que nestes dias está em grande perigo”. A Santíssima Virgem às quatro crianças em Ile-Bouchard no dia 9 de dezembro de 1947.Inicia-se a Guerra Fria logo após o final da conferência de Yalta, em 11 de fevereiro de 1945. A partir de então, o futuro mapa da Europa fora demarcando por áreas de influência da URSS, EUA e Grã-Bretanha —

países que arrogaram para si o direito de moldar a realidade mundial para as décadas seguintes. Stalin, particularmente, acreditava que, depois de alguns anos, a Europa já não seria defendida militarmente pelos americanos e cairia em suas mãos como um fruto maduro.

Assim, os acontecimentos na França em 1947 se inserem em um contexto mais amplo: Todos estão de acordo que aquele ano esteve dominado pela radicalização da situação internacional e o começo da verdadeira guerra fria. Hoje temos a prova de que nos dias 22 a 27 de setembro de 1947 houve uma reunião secreta na Polônia dos representantes dos nove partidos comunistas europeus: soviético, búlgaro, húngaro, polonês, romeno, tchecoslovaco, iugoslavo, além do francês e o italiano.

Era um novo assumir as rédeas do poder pelo partido comunista russo, com a finalidade de intensificar a luta contra o capitalismo. Estavam assim chamados para entrar no sistema e começar a luta.

O ano terrível da França
O ano de 1947 caracterizou-se como um dos mais duros da história contemporânea da França. Alguns historiadores o denominaram "l'année terrible" ("o ano terrível"). A guerra terminara, deixando um país parcialmente destruído. A reconstrução não havia começado. O déficit da balança comercial duplicara de 1945 a 1947. A situação era crítica, o moral da nação estava em baixa.

A nova política do Partido Comunista Francês articulava uma decisiva guinada, motivada pelas pretensões do “messianismo” vermelho em expandir-se pela Europa.

Durante os primeiros meses de 1947, os parlamentares comunistas se opuseram abertamente à política do governo em muitas áreas. Em 2 de outubro, Maurice Thorez, secretário geral do PCF (Partido Comunista Francês), declarou que chegara o momento de “impor um governo democrático, no qual a classe operária e seu partido teriam um papel de liderança”.

Greves explodiram por todas as partes. Rapidamente se chegou a 3 milhões de grevistas. Vias férreas foram bloqueadas. A situação econômica e social se deteriorou ainda mais. Mas o ponto mais importante ainda foi a violência do conflito. Pode-se citar alguns exemplos: foram atacadas as centrais telefônicas de Montmartre e Marcadet em Paris, assim como Béziers; em 29 de outubro uma verdadeira batalha organizada entre a polícia e os militantes comunistas nas ruas de Paris; o descarrilamento provocado do trem expresso Paris-Tourcoing em 3 de dezembro causou 21 mortos. Durante este período houve pelo menos 106 condenações penais por sabotagem.

A atmosfera era a de um conflito decisivo. Os ânimos estavam exaltados até as cúpulas dos líderes.

A França se via prestes a sucumbir ao processo de estalinização da Europa.

Providente e invisível intervenção
Contudo, em poucas horas, por uma providente e misteriosa intervenção, toda aquela atmosfera de apreensão e violência passa, repentinamente, para uma sensação de calma e paz civil.

Exatamente às 20 horas do dia 9 de dezembro de 1947, o general Maurice Catoire escreveu em seu diário: “Às 20h (esta terça-feira, 9 de dezembro de 1947), o rádio anuncia a capitulação da Comissão Nacional de Greve e a ordem é dada a todos, toda a França deverá continuar a trabalhar normalmente”. Benoît Frachon, secretário-geral da CGT (CGT - Confederação Geral do Trabalho), teve influência suficiente para convencer seus companheiros para cessar o conflito abruptamente.

O que ninguém sequer imaginava é que exatamente na véspera daquele dia decisivo, a Santíssima Virgem manifestara-Se a quatro meninas que, por solicitação de uma das freiras que administrava sua escola, entraram para recitar o Terço na pequena igreja de Saint Gilles. A intenção da infantil súplica ao Céu: a paz na França. 

Um reduto onde as pessoas tinham preservado sua Fé
Na região de Touraine, distrito da cidade de Chinon, a 16 quilômetros até o leste e a 42 quilômetros a sudoeste de Tours, se encontra uma pequena ilha do rio Viena, onde talvez desde o século X erigiu-se a fortaleza de um poderoso senhor feudal: “Bouchard”. Este deu seu nome, em 1832, a um novo distrito que reúne duas aglomerações urbanas localizadas sobre cada uma das margens do rio: Saint Gilles ao norte e Saint Maurice ao sul. Duas aglomerações que desde muito e até o momento mantém uma certa rivalidade entre si.

A superfície do conjunto é reduzida: 280 hectares. A seu redor há uma rica campina com prados, campos e vinha que dão um excelente vinho tinto.

A pequena cidade distrito tem 1.255 habitantes, que são comerciantes, artesãos, pequenos móveis de aluguel, jornaleiros, campesinos. A população é amável. Terça-feira é o único dia de animação, uma vez que tem lugar a feira ou o mercado.

Sob uma aparente indiferença religiosa, que se esconde detrás do respeito humano, a fé desta gente perdura. Não somente se batiza a todas as crianças, mas também quase todos os moribundos recebem os últimos sacramentos. Todavia as pessoas rezam. Duas escolas religiosas agrupam 75 alunos.

A igreja de Saint Gilles
A igreja de Saint Gilles está classificada como monumento histórico.

A nave colateral norte, que se situa ao largo do caminho que vai de Chinon a Saint-Maure, e seu magnífico porte, datam do século XI. É a parte mais antiga e inclui a nave da Santa Virgem.

Ao final do século XIX se concluíram as abóbadas e as capelas interiores se anexaram à parede.

A nave principal que sucede à nave primitiva é do século XII, asim como o pórtico ocidental e a torre do campanário. Esta última sofreu muito devido as obras de 1880, já que também a recobriram com abóbadas de ladrilho. Mas apesar disto as janelas românticas permanecem intactas.
Quatro meninas escolhidas pela Santíssima Virgem
 
Jacqueline Aubry, 12 anos, nasceu em 28 de setembro de 1935. É alta e com uns olhos negros cheios de franqueza. Tem cabelos negros. E um bom coração. É expansiva e suas reações são vivas. Em casa ajuda a sua mãe com boa disposição e também habitualmente ajuda no comércio de seus pais.

Na escola às vezes é desajeitada e também faladora. É a terceira de seis filhos. Suas colegas a querem bem por sua vivacidade e por seu bom caráter. Usa óculos porque é míope.

Jeanne, 7 anos, sua irmã, chamada comumente Jeannette, nasceu em 9 de fevereiro de 1940. É ruiva e com olhos azuis, pálida, agitada e de um primeiro contato pouco social. Contrariamente às aparências é reflexiva e delicada em seus sentimentos; frequentemente e com pleno reconhecimento, seu rosto se torna hermético. É animada com as meninas de sua idade. Dificilmente faz leituras. Sente-se incomodada porque tem um defeito de pronúncia.

Seus pais, o senhor e a senhora Aubry têm uma pequena pastelaria na rua Gambetta. São crentes mas não praticantes.

Nicole Robin, 10 anos, pertence a uma família de proprietários rurais cujas terras estão na vila de Pont, sobre Panzoult. Nasceu em 15 de setembro de 1937. Tem cabelos castanhos e seu rosto é tranquilo, mas com um olhar atento. A menina é sensata, é boa estudante mas muito silenciosa. É prima de Jacqueline e de Jeannette. Respeita seus pais que também são crentes, mas não praticantes.

Laura Croizon, 8 anos, nasceu em 3 de abril de 1939 e mostra menos sua personalidade que as outras meninas. É a menor e seu aspecto é bem infantil. No entanto, está no curso básico. Mas no geral tem um rostinho sorridente, até se diria mimosa. Seus cabelos são castanhos. Tem fama de ser amável. Vive na rua Gambetta em frente a pastelaria Aubry. Em seu meio famíliar há somente um vago sentido de religiosidade.

As quatro meninas gozam de boa saúde. Todas em geral satisfazem as expectativas de seus pais e de seus mestres. Mas até este momento nada nelas há que chame uma atenção maior.

Segunda-feira 8 de dezembro
Na segunda-feira 8 de dezembro de 1947, em Ile-Bouchard, na rua Gambetta por volta de 12h50, Jacqueline, Jeannette e Nicole seguem para a escola.

Faz frio. Um frio seco. Um céu sem sol.

As duas irmãs vestem aventais negros e uma blusa marinheira de cor marrom com punhos negros. A calça de Jeannette chega aos tornozelos. A maior está usando sobre a cabeça uma trança em tecido marrom e um xale com extremidade creme, bordado com florzinhas vermelhas e ornado de verde, atado ao queixo. A menina menor leva um capuz azul marinho atado igualmente sob o queixo. Nicole leva sobre a cabeça um gorro de três peças tecido em lã azul marinho. Sobre seu avental com quadros azuis e brancos veste uma blusa marinheira em lã verde com listras vermelhas. As três calçam botinas de inverno.

Ao meio-dia almoçam juntas em casa dos Aubry.

Entrando pela rua da Liberdade, aproximadamente a vinte metros da casa e atendendo a proposta de Jacqueline, decidem entrar na igreja Saint Gilles, que fica um pouco acima, retirada para a esquerda. Com frequência as meninas entram para rezar, sobretudo a maior. Pela manhã, a religiosa que dirige a escola lhes havia pedido que rezassem pela França.

As aulas começam apenas às 13h30.

“Uma Senhora muito bela que estava em uma gruta e tinha à sua direita um anjo”
As meninas se persignam com a água benta que está próxima da grande pia em pedra, e depois de fazerem a genuflexão entram, não pela nave principal mas pela lateral. Páram diante da imagem de Santa Teresa do Menino Jesus, erigida contra a parede norte, detrás da antiga porta. De pé, rezam uma Salve Maria e logo se ajoelham sobre os primeros genuflexórios à sua direita, ao lado do evangeliário, diante do altar de onde se ergue a imagem de Nossa Senhora da Vitória. Jeannette está na ponta do corredor perto do órgão e Nicole entre as duas.

Como a festa da Imaculada Conceição havia sido celebrada com menos solenidade nos anos anteriores, o altar está decorado sobriamente. Sobre o retábulo, a cada lado do tabernáculo vazio há ramos de flores de papel: lírios brancos e rosas. Sobre o piso, à direita e à esquerda, há dois vasos com lírios.

As meninas fazem o sinal da cruz e imediatamente começam a rezar uma dezena do Rosário, sem anunciar nenhum mistério, seguida por um Glória ao Pai e pela invocação “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”.

Jeannette é a única das meninas que tem consigo o Rosário. As outras duas contam as Ave-Marias com os dedos.

“Então, escreverá mais tarde Jacqueline, à minha esquerda, entre o vitral e o altar, vi de repente uma grande luz intensa, mas que não ofuscava, em meio da qual apareceu uma Senhora muito bela que estava em uma gruta e tinha à sua direita um anjo”. [Este vitral mostra a aparição de Nossa Senhora de Lourdes. Sob a Virgem  há uma  medalhinha que representa a Anunciação]

— Empurrei Nicole com o cotovelo: “Olha ali!”

Nesse momento Nicole e Jeanette procuravam o estojo do Rosário da menor das meninas. As duas levantaram a cabeça: “Oh! Exclamam levando simultaneamente a mão à boca. Olham estupefatas. E logo Nicole diz:

“Que formosa Senhora!” — “Que anjo lindo!” disse Jeannette juntando as mãos e sentando-se no banco. “Oh que formoso anjo!”

Depois de alguns minutos, quatro ou cinco, segundo disseram, saem com grande pressa, assustadas, mas apesar de tudo olhando para trás para admirar a visão.

“Ela contudo permanecia ali”, dirá Jeannette, a partir do fundo da nave da Santa Virgem.

“Vamos lá ver”
As meninas estão na rua.

Comunicam a notícia a uma amiga, Monique Clément e a convidam a ver. “Não tenho tempo” responde Monique, que está indo comprar alguma coisa.
Ao dobrarem a rua encontram outras colegas de escola, as irmãs Sergine e Laura Croizon. Elas também estão com a roupa habitual dos escolares. Laura veste um avental cinza e uma blusa marinheira azul escura. Sobre a cabeça tem um capuz cruzado que cai sobre os ombros. O fundo é de cor creme escuro e está adornado com ramas de um vermelho escuro.

— “Sabes de uma coisa? Vimos uma senhora muito linda na igreja.”

— “Vamos lá ver.”

A Senhora sorri para todas elas
 
O grupo se precipita sobre o antigo pórtico romano, e se dirige imediatamente para a nave lateral

 

Desde o fundo da nave Jacqueline, Nicole e Jeannette já percebem o maravilhoso espetáculo. À altura da imagem de Santa Teresa do Menino Jesus, a pequena Laura, que corria de cabeça baixa, levantando então os olhos exclama: “Estou vendo a formosa Senhora e o anjo.”

As meninas se aproximam. Detêm-se “em bloco”, e permanecem de pé, diante da primeira fila de genuflexórios.

—“Estás vendo a formosa senhora?” diz Jacqueline a Sergine.

—“Não, eu não vejo nada.”

Nicole: “Mas olha no canto, ali na tua frente.”

Mas Sergine não verá.

A Senhora sorri para todas, segundo disseram as que A viam: especialmente a Jeanne, a mais jovem.

Felizes, mudas e sem se cansarem as meninas continuam olhando.

Tentando exprimir o inexprimível
Assim, é segundo seus testemunhos que as aparições podem ser descritas. Testemunhos que são mais ou menos explícitos e que se aclaram mutuamente uns aos outros, reforçando-se. Nós citamos suas próprias palavras. Juntamos os detalhes, ainda que as meninas não dissessem tudo neste primeiro dia, mas o fizeram após observarem melhor no transcurso da semana e inclusive mais tarde. As dimensões que não souberam dar senão por comparação, nós as expressamos em quantidades. As meninas não imaginaram esta análise minuciosa. Foi preciso fazer muitas perguntas, talvez com uma curiosidade exigente mas legítima.

Tudo é luz, “uma grande luz”, “viva”, “brilhante”, “reluzente”, embora não ofuscante. A senhora é “formosa”, “graciosa”, “elegante”. “Olhar juvenil”. Sua idade? “Dezesseis ou dezessete anos”. Seu tamanho? “Como a senhorita Vallée”, ou seja 1,63m. Seu rosto? “brillante”, “bonita”, “com características regulares,” “alongada”. Sua pele? “branca rosada”. Sua testa? “mediana” um pouco mais pálida que sua face. Seus olhos?” “azuis”. Suas sombrancelhas? “Como se fossem feitas de um único traço”. O nariz? “fino e longo”, perfilado. A boca? “pequena”, com lábios finos e apenas entreabertos”. O queixo? “arredondado”.

O sorriso discreto da Senhora tem algo do “sorriso de uma criança”
 
Todas as cores da terra lhes parecem de um pálido brilho frente aos matizes que viram

Este rosto se refere a uma alma. Sua beleza está repleta de “bondade”, de “doçura”, duas palavras que se repetem com frequência. Respira “a felicidade”. Seu sorriso discreto tem algo do “sorriso de uma criança”. Nesta etapa as meninas se defrontam com o inexprimível.

Sobre a cabeça leva um véu branco “que não é transparente”, de uma surpreendente brancura.

Todas as cores da terra lhes parecem de um pálido brilho frente aos matizes que viram. Sob o véu, na parte alta da testa entrevê-se “alguns cabelos loiros”. “Formam uma ponta” como se “começara uma risca". Caem “para frente” em largos cachos que vão aproximadamente “até os joelhos”. O véu da Senhora cobre suas orelhas, esconde os ombros e desce “suave”, amplamente aberto até a parte baixa do vestido. Está decorado com uma orla “ondulante”, com leves motivos bordados que as meninas puderam desenhar, sob pedido expresso. Trata-se de uma alternância da letra “S” sobreposta de seis centímetros, uma normal e outra invertida.

O vestido “brilhante” também é de uma “surpreendente brancura”. Alarga-se a partir da cintura, formando pregas sobre seus pés descalços que se percebem adiante. Umas faixas de ouro de dois centímetros de largura “brilham” e parecem contornar “o decote arredondado, justo no pescoço, assim como as mangas soltas que destacam claramente o punho”.

Presa à cintura leva uma cinta “azul celeste”, “um pouco escura”, com a largura aproximada de doze centímetros “atada ao lado esquerdo”. As duas partes estendidas se separam, baixando “mais ou menos” à altura dos joelhos. As meninas souberam reconstituí-la tal qual. Uma brisa, cujo vento não se sente, a faz “tremular” e “ondear” ligeiramente.

“Oh! Que lindas eram suas mãos!”
Em posição litúrgica habitual —daqui vem o gesto que fazem as meninas— a Senhora junta as duas mãos sobre seu peito; estas estão “ao centro, bem retas”. Os dedos são compridos e finos.

“Oh! Que lindas eram suas mãos!”

Pendurado em seu braço direito, a Senhora leva um comprido Rosário cuja armação e o crucifixo, que é “grande como o seu, irmã”, ambos são de ouro brilhante, com brancura “grandes contas”, “rugosas”, infladas, elas também são “muito brancas”, “de uma brancura surpreendente”, e “brilhantes”.

Ao redor dEla emana “uma luz de cor amarelo ouro”, imóvel, cuja cintilação aflora e transborda para todos os lados, ao começo da gruta, “salvo sob os pés”.

Apesar da dureza do limiar, essa gruta tem substancialmente a forma de um arco arredondado. Sua altura? Mais ou menos dois metros; Sua largura? “como esta porta aqui”. A porta mede sessenta e cinco centímetros. A Senhora se destaca ligeiramente do fundo áspero “dourado” que aparece atrás dEla. As meninas insistem muito na intensa luz que inunda a cavidade.

“Ó Maria concebida sem pecado...”
 


Os pés da Senhora repousam sobre uma “grande pedra” regular, de forma “retangular”, de uma cor “marrom escuro”, como a rocha. O marrom escuro claro “da imitação da madeira”, “algo assim como este aparador”. Na frente, sobre a superficie unida que apresenta uma espessura de mais ou menos quinze centímetros, há um tronco que leva cinco rosas muito juntas umas às outras, “de uma linda cor rosada”, mas bem escura, mas sem perfume. A maior ao centro é a “mais luminosa”, e tem um volume como o punho de Jacqueline. As outras, cujo tamanho se estreita progressivamente, seguem aproximadamente a curva de uma meia elipse. Cada extremidade da haste se curva marcadamente, e traz até o centro uma folha cuja ponta se apóia sobre a parte de cima da pedra. Ademais entre cada rosa há folhas. Mais adiante um desenho da grinalda será executado segundo suas indicações.

Abaixo, sobre a mesma rocha, encontramos esta invocação em duas linhas sensivelmente paralelas à curva formada pelas cinco rosas, cujas letras podem ter sete centímetros e são de um “ouro brilhante”, brilhante como as bordas do vestido e do véu:

“Ó MARIA CONCEBIDA SEM PECADO, ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS”

Um anjo contempla a Senhora com o joelho direito sobre o solo
A quarenta ou cinquenta centímetros até a direita da Senhora e a mais ou menos quinze centímetros mais abaixo dEla, um anjo contempla com o joelho direito sobre o solo e o busto erguido.

Seu “belo” e “fino rosto” de perfil acusa uns vinte anos. Os olhos são “azuis”, “mas bem grandes”, o nariz é perfilado, a boca é “pequena”. Uns cachos loiros lhe caem sobre os ombros e se repartem entre o peito e a espádua. Na frente cobre seu antebraço esquerdo cuja mão está posta em diagonal “sobre o coração” e o polegar está unido aos dedos. Tem a mão direita cerrada colhendo um buquê de lírios brancos. Três flores estão abertas, duas de perfil e a do centro está de frente, terminado por três botões. Este buquê reto que pode medir aproximadamente quarenta centímetros, leva algumas folhas e seu extremo aparece sob o punho cerrado. Um dia Jeannette mostrará um parecido mas sem o brilho. O anjo tem asas brancas do “calor da luz” e estão contornadas de dourado. As proporções são modestas: a parte alta arredondada não ultrapassa o pescoço; a ponta chega até o calcanhar direito, que se adivinha sob a roupa.

As asas são feitas de “plumas pequenas”, “muito finas”, “todas brilhantes” que vibram com a brisa imperceptível. Seu longo traje sem cinturão é de um “branco rosado”. O entalhe é arredondado, como o da Senhora; mas suas mangas são menos amplas que as dEla. As meninas fazem uma descrição admirativa do anjo. O movimento das finas plumas das asas todavia provoca nas pequenas algumas exclamações.

Permaneceram contemplando durante um quarto de hora
 
A história local registra que Joana d'Arc parou em Ile-Bouchard, antes de chegar a Chinon, em 6 de março de 1429. Ela atravessou o portal norte de Saint-Gilles, e orou diante do altar

O anjo se destaca sobre um fundo de luz, sem que apareça a rocha que está atrás dele; também há luz nele, luz que ilumina vivamente: a abóbada bastante estreita o domina, a pedra plana sobre a qual repousa e alguns blocos ao redor. Desta pedra até a abóbada haverá um metro com trinta centímetros mais ou menos. Sua altura ajoelhado será de um metro e dez centímetros aproximadamente.

A pedra que sustem os dois personagens não toca o solo: de modo que o evangeliário, o banquinho de madeira e o altar são em parte visíveis. O contorno é algo impreciso e assim se destaca das paredes da igreja. A base é mais ou menos retilínea, “a altura desta mesa aqui”, ou seja, sessenta e cinco centímetros por cima do piso; a parte alta é bem mais “arredondada”; do lado esquerdo está “lascado”; do lado direito está “mais lascado” ainda. Sua largura entre o montante do vitral e a estátua de Nossa Senhora da Vitória é de três metros e vinte e cinco centímetros.

Sua altura aproximada é de três metros e cinquenta centímetros. A Senhora se encontra quase em ângulo noroeste do coro, ligeiramente para direita, até o altar; os pés estão a um metro e quinze centímetros do piso. Sobre as pedras há uma rica gama de matizes em tons escuros. A partir da luz difundida pela Senhora e pelo anjo há uma viva claridade ao centro, e até a esquerda; claridade que se atenua para cima, apresentando sombras gradativamente marcadas para a direita, ou seja, o altar.

Para as meninas o todo forma um conjunto luminoso.

Permaneceram contemplando durante talvez um quarto de hora.

A Senhora reza o Rosário com elas
Ajoelharam-se e rezaram uma dezena de Ave-Marias, e três vezes fizeram a invocação: Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós.

A Senhora rezou com elas, correndo o polegar pelas contas brancas do Rosário, deixando o indicador imóvel. Não se escutava Sua voz. Seus lábios permaneceram mudos durante a Salve Rainha. E assim ocorrerá durante toda a semana. Tampouco se escutou a voz do anjo, cujos lábios se moviam durante as Ave-Marias, somente nas Ave.
Novamente Ela sorri a todas.

Logo, progressivamente “em uma espécie de poeira luminosa”, a aparição se desvanece.

—“Ela se foi. Talvez não volte mais”, disse Laura.

E Sergine, que não tinha visto nada, disse: “Vamos, vinde, que talvez seja o diabo!”

“Mamãe, vimos uma formosa Senhora!”
Imediatamente Jacqueline e Jeannette, seguidas por Nicole, dirigiram-se para a rua Gambetta para levar a boa nova até suas casas:

—Mamãe, vimos uma formosa Senhora!

A senhora Aubry não quis saber de escutar nada. Saíram de casa. No umbral da porta encontraram com uma vizinha, a senhorita Grandin, e voltaram para a pastelaria. Desta vez a senhora Aubry se irrita. Devem ir para a escola.

Sergine e Laura estão esperando em frente a igreja.

 
O relato das meninas, sempre interrogadas separadamente, são precisos e ditos com segurança, complementando-se mutuamente

“Eu não sou a única que vi mas somos quatro”
 
Jacqueline não se acovarda: “Eu não sou a única que vi mas somos quatro: Nicole Robin, Laura Croizon e minha irmãzinha Jeanne”

Jacqueline chega ao pátio da escola particular Saint Gilles, na rua Beauvais, onde suas colegas jogam, e aborda a sóror Maria do Menino Jesus: “Querida irmã, vimos a Santa Virgem!”

—“Então vistes a Santa Virgem? Não digas isso!” —“Sim, irmã, contesta Jeannette. —“E o que Ela disse?” —“Nada! Somente a vimos.”

“E não sentistes medo?” —“Um pouco, somente no começo mas depois não.” “E Ela era tão linda!”

E imediatamente se forma um tumulto para escutar a conversa.

Neste momento o senhor deão [o sacerdote], que havia vindo excepcionalmente nessa hora até a escola, saía da classe dos menores com a diretora. Jacqueline Cornu se aproxima e lhe diz:

“Houve aparições em Saint Gilles.” E cinco ou seis alunas vem apoiá-la dizendo: “Jacqueline Aubry viu a Santa Virgem!”

Tanto o cônego Ségelle, como sóror São Leão da Cruz, (chamada por todos os de Ile-Bouchard, sóror São Leão), zombam delas. As meninas se afastam, enquanto Jacqueline se atreve a aproximar-se: “Sim, senhor cura, eu vi uma formosa senhora na igreja” —“Estás louca” replica sóror São Leão. E o deão: “Vistes duplicado através de teus óculos”.

Mas Jacqueline não se acovarda: “Eu não sou a única que vi mas somos quatro: Nicole Robin, Laura Croizon e minha irmãzinha Jeanne.”

O sacerdote e a religiosa permanecem céticos, mas ainda assim intrigados: “É curioso”. Depois de um momento de reflexão convocam em separado as quatro supostas videntes, na mesma classe da qual saem: primeiro Jacqueline, logo Nicole, depois Jeannette e finalmente Laura.

As meninas falam com segurança
 
“Sim, senhor cura, eu vi uma formosa senhora na igreja”

Os breves relatos evidentemente concordam. As meninas falam com segurança. Inclusive Jeannette, que parece vencer sua excessiva timidez e o medo que tem de sóror São Leão.

A diretora lhe dizia com ironia, a propósito do cinturão azul, que uma Senhora tão bela deveria estar na moda com xale e luvas vermelhas e ela respondeu, batendo com um pé energicamente acompanhado com o antebraço: “Não é verdade”, “Azul! Azul! Azul!”. Laura, um pouco desconfortável em suas descrições começa a fazer comparações. E começa a dar detalhes sobre as asas do anjo; que “pareciam as asas que os missionários haviam colocado” nas meninas no ano anterior em Saint-Maurice. Com a diferença de que as do anjo estavam envolvidas de “amarelo”.

O velho deão por natureza gosta do que é positivo. Por outro lado, já tem 73 anos. Não dá muita importância a este assunto e se vai. Como é festa da Imaculada Conceição, ao passar diante de um grupo de escolares pelo pátio e sem a menor alusão à pretendida aparição, recomenda-lhes: “portem-se bem e queiram muito bem à Santa Virgem”.

Logo sai e diz: “Com certeza, amanhã não se falará mais nesta história”. “As meninas não tardarão em se delatarem”, diz a irmã.

Ouve-se o sinal para a entrada na classe.

“Querida irmã, se a senhora soubesse que bela era a Senhora!”
Jacqueline se aproxima novamente da diretora: “Querida irmã, se a senhora soubesse que bela era a Senhora!”. A diretora se impacienta ao sentir os olhares das maiores que se voltam para ela, e responde “Pois, se era formosa, eu em teu lugar teria permanecido na igreja”. E se vai.

A menina toma as palavras da irmã ao pé da letra e em vez de ficar para a repetição da música, sai levando com ela Nicole, Laura e Jeannette. As meninas chegam correndo à esquina da rua da Liberdade. Que má sorte! O senhor deão está ali, no meio da rua, conversando com o farmacêutico.

O grupinho muda o caminho com grande astúcia; segue pelas vielas e pela rua de Madagascar indo surgir na rua principal, um pouco além do deão, que por sorte está de costas.

E as meninas entram novamente na igreja. São 13h50.

“Dizei às crianças que rezem pela França, pois que necessita muito”
 
A Virgem tem um rosto sempre cheio de bondade porém marcado pela tristeza

Do centro da nave lateral as meninas percebem a Senhora, “Está nos esperando”, diz Laura.

Todas se aproximam do altar e ficam de pé, maravilhadas.

Nada mudou desde uma hora atrás! A mesma rocha com a Senhora e o anjo envoltos em luz.

Silenciosas, nem sequer pensam em rezar.

A Virgem tem um rosto sempre cheio de bondade porém marcado pela tristeza.

De repente Ela fala. Lentamente. Com uma voz suave, destacando cada palavra:

—“Dizei às crianças que rezem pela França, pois que necessita muito”.

Houve uma curta pausa depois de “França”.

“Senhora, és nossa mamãe do céu?”
Então Jacqueline diz a Laura e a Jeannette: “Pergunta-Lhe pois se Ela é nossa mamãe do céu?”

Laura começa e Jeannette a segue em tom natural de uma conversa:

“Senhora, és nossa mamãe do céu?”

A Senhora as olha e lhes sorri:

“Sim, eu sou vossa mamãe do céu”. Ao dizer as últimas palavras, Ela levanta os olhos.

Então Jacqueline se encoraja: “Quem é o anjo que te acompanha?”

“Eu sou o anjo Gabriel”
O anjo, voltando a cabeça para ela, diz, com uma voz mais forte que a Senhora, mas suave, difícil de definir, pois não tem nem a tonalidade de uma voz feminina, nem é de todo uma voz masculina, lentamente e sorrindo:

“Eu sou o anjo Gabriel”.

E logo volta a seu estado de contemplação. A partir deste momento sempre permanecerá de perfil.

 
O anjo, voltando a cabeça para ela, diz, com uma voz mais forte que a Senhora, mas suave, com uma voz difícil de definir: “Eu sou o anjo Gabriel”

“Dá-me tua mão para eu beijá-la”
 
As quatro, emocionadas, sentem o contato de Sua mão direita, tanto a suavidade da pele como o calor dos lábios da Senhora

Com o indicador direito levantado a altura do queixo, sob a face direita, lentamente a Senhora faz um gesto para que as meninas se aproximem. Logo, baixando o braço que havia levantado, estende-o até elas com a palma da mão adiante.

“Dá-me tua mão para eu beijá-la”.

As meninas já não sentem o menor temor. Jacqueline se aproxima primeiro e se levanta na ponta dos pés. A Senhora virou-lhe a mão colocando-a na horizontal. Sobre o indicador inclinado, a menina maior toca a visão com a extremidade de seus dedos. Muito lentamente, a Senhora cuja cabeça se inclina, leva os dedos da menina maior até Seus lábios. Suavemente, Ela lhe dá um beijo silencioso na segunda falange dos dedos indicador, médio e anular.

Agora é a vez de Nicole. A Senhora se inclina um pouco mais.

Laura e Jeannette são muito pequenas. Espontaneamente Jacqueline as levanta com seus braços e as ergue sem o menor esforço, uma por uma.

As quatro, emocionadas, sentem o contato de Sua mão direita, tanto a suavidade da pele como o calor dos lábios da Senhora.

A Virgem está presente em corpo e alma
A Virgem está presente em corpo e alma. As meninas ainda estão em pé, a Seus pés.

—“Regressai esta tarde às 5 horas e amanhã a 1 hora”.

Depois, a Senhora e o anjo desaparecem ao mesmo tempo, em uma nuvem de “poeira de prata” e outra vez elas fazem menção a uma “névoa brilhante”.

As meninas permanecem na igreja entre oito e dez minutos.

“Desta vez terá que acreditar em nós”
 
O velho cura Ségelle não acredita, embora ache a narrativa curiosa

Ao saírem da igreja, primeiro Jacqueline, logo Laura e Jeannette se dão conta que em seus dedos ficou um sinal ovalado e branco. É a marca do beijo. “Vamos depressa, disse a maior, nossa querida irmã desta vez terá que acreditar em nós”.

Desgraçadamente, quando já estavam bem próximas da escola, as marcas que haviam olhado com tanta atenção, se apagam uma após outra. Que decepção!

Na escola a recepção foi fria: reproches por ausência, perguntas irônicas: “Bom, que vistes? Plantas? Pedras?” Logo após a rápida exposição de Jacqueline e de Nicole ante as colegas: “Está bem! Mas agora dediquem-se a estudar porque estão atrasadas um quarto de hora.” Como era dia de exercício de redação, as duas “videntes” simplesmente se concentraram em sua obrigação.

No entanto, a diretora estava algo perturbada. Pela tarde pediu ajuda a sua adjunta sóror Maria do Menino Jesus que interrogasse as suas duas alunas. Até então não havia ousado se mostrar severa com Laura e Jeannette. Enquanto ela mesma faria isso até as 16h15, uma vez que houvessem terminado seu trabalho, fazendo com que Jacqueline e Nicole, em separado, escrevessem o relato dos eventos.

As duas pequeninas não se contradisseram oralmente. As grandes tampouco, apesar de suas narrativas simples e breves: vinte e três linhas da maior e dezesseis de sua prima.

“É verdade ou não é verdade”
16h.30: hora da saída. “Tu não ficas para a Adoração?” disse Jacqueline à sua prima. Mas Nicole, que vive a dois quilômetros e meio, acha que deve voltar ao seu lar. Ao longo do caminho passa na casa da senhora Aubry, que a escutará sem crer. Finalmente lhe aconselhará que regresse para sua casa. Quanto a sua filha mais nova, ninguém acreditará nela. A senhora Croizon por sua vez também irá manter Laura.

O relato de Sergine também não lhe convence: “É verdade ou não é verdade” respondeu simplesmente.

Um pouco mais tarde Laura irá até a pastelaria reunir-se com Jeannette. E as duas meninas falarão entre elas sobre a bela Senhora e sobre o anjo.

Jacqueline, que frequenta o estúdio depois da aula, irá então sozinha para a Adoração, as 5 horas da tarde.

Durante a festa da Imaculada Conceição, a missa foi celebrada no altar da Santa Virgem. É ali mesmo onde se deve dar a benção do Santíssimo Sacramento, depois do Rosário. Os fiéis se agrupam pela nave central. A menina se encontra ao lado do corredor e do evangeliário, próxima do pódium da capela de Santa Ana.

Faz sinal para que se aproximem
 
A Virgem lhe sorri. Com o indicador direito Ela faz sinal para aproximar-se

Durante a quinta dezena aparece a Senhora; Jacqueline não A viu chegar.

A Virgem lhe sorri. Com o indicador direito Ela faz sinal para aproximar-se.

Jacqueline, querendo implorar com o olhar permissão para poder seguir, volta a cabeça e busca a assistência de sóror São Leão. Percebe-a finalmente atrás, do lado do evangeliário. “Eu pensando que Ela ia dizer-me “sim”, continuei olhando, mas depois de um tempo me fez com os olhos um sinal de rejeição”.

Então a menina endireita a cabeça. A Senhora já não está mais ali.

Nesse momento, a campainha anunciava a chegada do Santíssimo Sacramento levado pelo senhor deão, que vinha do altar maior.

Depois da benção, enquanto o padre entoava “Ó Maria concebida sem pecado, rogai pela França”, a Senhora e o anjo reapareceram cheios de luz. Jacqueline lançou um novo olhar suplicante “para a querida irmã, que não parecia contente”.

“Querida Irmã, a Senhora está aqui. Ela nos está olhando. O que devo fazer?”
—“Então pensei que era melhor não lhe contar nada porque ela iria me repreender”.

—“Está aqui?”, “Tu a vês?” Disseram em voz baixa as meninas que estavam próximas; tem-se um registro com seus nomes. Jacqueline não respondeu.

Terminada a cerimônia, sóror São Leão fez sair os escolares, dando a ordem para irem imediatamente às suas casas. Logo, regressando até sua aluna que ficara ajoelhada em seu lugar:

“Quando alguém afirma ter visto a Santa Virgem, não fica virando a cabeça para os lados dentro da igreja”.

—“Querida Irmã, a Senhora está aqui. Ela nos está olhando. “O que devo fazer?”

—Mas onde Ela está?

—Vamos! Vê bem querida irmã, Ela está aqui” e com a mão Jacqueline mostrou o lírio.

A religiosa surpresa duvidava e enquanto conduzia a menina próxima do órgão rezou com ela uma “Salve Rainha”.

A menina tinha os olhos cravados no ângulo noroeste do coro. Ao final da segunda dezena, disse: “Querida irmã, a Santa Virgem se foi”.

A Senhora e o anjo se esfumaram em meio a nuvem de poeira de prata que se dissipou. Não se pronunciou palavra alguma.

Durante esse tempo, muitos meninos regressaram furtivamente ao fundo da igreja “para ver” o que acontecia.

“Amanhã fecharei a porta da igreja neste horário e assim ninguém poderá entrar”
 
O cura Ségelle decidiu fechar a igreja para impedir as meninas de entrarem

Para resguardar Jacqueline das perguntas de pessoas que estavam na praça, sóror São Leão a conduziu até a esquina da rua, e logo regressando a igreja foi até a sacristia ver o deão.

Ao vê-la, perguntou: “Então, alguma novidade? Este assunto está concluído. A noite está por cair. Amanhã tudo estará acabado!”

“Que nada! A coisa continua!” e a irmã lhe contou o que havia sucedido desde as 13h45.

Ao saber que a Senhora voltaria no dia seguinte a 1 hora da tarde, o cônego Ségelle reagiu vivamente: levantou os braços ao céu e disse: “Não permitiremos isso”. “Amanhã fecharei a porta da igreja neste horário e assim ninguém poderá entrar”.

A irmã, cujo ceticismo fraquejava, não aprovou a decisão. De qualquer forma, para sua tranquilidade, proibiria às crianças de irem a igreja às 13 horas.

“Vocês estão loucas!”
Em sua casa Jacqueline contou os fatos detalhadamente à sua mãe, e somente a ela. A senhora Aubry, que sabia que sua filha não mente, estava cada vez mais indignada. Em sua casa, Nicole contou a sua mãe —e também unicamente à sua mãe— sobre a aparição da Senhora. Ante as respostas que obteve: “Não é verdade!” “Vocês estão loucas!”, a pouco loquaz Nicole não insistiu.

Mais tarde o cônego Ségelle, que escrevia ao Vigário Geral de Tours, não julgou sequer útil reportar esses acontecimentos, aos quais dava muito pouca importância.

Terça-feira 9 de dezembro
 
Pela manhã sóror São Leão anunciou a proibição logo no início das aulas. Muitas alunas protestaram atrevendo-se a dizer: “que ela não tinha direito”, de proibir isto às videntes. Por outro lado, Jacqueline e Nicole estavam ausentes nesse momento devido a essa “armadilha” da própria irmã, que estava perturbada demais, deixando ao deão a responsabilidade de que encontrariam a porta da igreja fechada.
As 12h50 o cônego Ségelle pegou a chave da igreja e desceu para a nave central a passos decididos. Bruscamente, diante do púlpito mudou de idéia e deu meia volta. Mais não poderá justificar de maneira racional o motivo exato de sua mudança repentina.

Pouco depois, quando as quatro meninas chegaram à igreja, a porta estava aberta. Elas entraram. Mas as três amigas que as acompanhavam, Sergine Croizon, Armelle e Jacqueline Robin não se atreveram segui-las por questões de obediência. Esperaram lá fora. (Armelle e Jacqueline não são familiares de Nicole).

Jacqueline prometeu que intercederia à Senhora por elas.

Abriu-se uma “esfera muito brilhante”
O grupinho se dirigiu até o altar da Santa Virgem. Passando diante do altar as meninas se ajoelharam e rezaram umas Ave-Marias.

Repentinamente apareceu uma luz viva. Abriu-se uma “esfera muito brilhante” de oitenta centímetros de diâmetro. Uma “cortina de prata” se desdobrou em um instante e se estendeu entre o travessão do vitral e Nossa Senhora da Vitória, subindo ligeiramente até a estátua. Não havia uma única ruga na superficie lisa, cujos lados eram retos. A rocha luminosa da véspera estava com um relevo. Mesmo assim, a rocha havia mudado ligeiramente em direção à janela, bem próxima do ângulo do noroeste. Hoje o anjo está à esquerda da Virgem, mas na mesma atitude de contemplação respeitosa. No entanto, o lírio está em sua mão esquerda. Tem a mão direita posta sobre o peito; seu joelho esquerdo toca a pedra. Sobre sua cabeça o arco é mais alto e sobretudo mais largo que no dia anterior. Está mais avançado para o limiar. A cortina de prata faz fundo detrás dele. Nicole, a “melhor em desenho”, deixou um croqui infantil desta cena.

O conjunto deve ter as mesmas proporções que o da véspera. Abaixo se percebe em parte o banquinho com o lírio e o relevo do altar. O tabernáculo da direita não está oculto.

“Eu sou a Imaculada Conceição”
 
No lugar da invocação do dia anterior e sob as rosas há uma única linha curvada: "Eu sou a Imaculada Conceição"

Desta vez os cachos não caem sobre o vestido da Senhora. Tem o cabelo puxado para trás. Apenas se via algo “sobre os olhos, nas têmporas e atrás do pescoço”. O véu sobre a cabeça está “um pouco mais para frente”, deixando, apesar de tudo, “a testa alta”. Umas letras maiúsculas ordinárias de aproximadamente oito centímetros e de um ouro resplandecente estão dispostas em uma ligeira curva, menos acentuada que um semicírculo. Formam ao peito uma palavra que as meninas não sabem ler corretamente devido à Senhora ter as mãos juntas: MA… CAT. É um enigma para elas.

No lugar da invocação do dia anterior e sob as rosas há uma única linha curvada:

“EU SOU A IMACULADA CONCEIÇÃO”

As duas personagens celestiais irradiam as mesmas luzes vivas. Sobre o cinturão e sobre as asas sopra sempre uma brisa.

Assim se apresentará a aparição de agora em diante.

“Beijai a cruz do meu Rosário”
A Senhora olha para as quatro meninas com um sorriso que deixa entrever apenas o marfim de alguns dentes, um sorriso “doce como o de uma criança”.

As meninas a contemplam com admiração.

Depois Jacqueline a interroga: “Senhora, poderia fazer entrar minhas amigas?”

“Sim”. “Mas elas não me verão”.

Unicamente Jacqueline escuta as últimas palavras.

Imediatamente as quatro meninas vão até a porta. Nesse momento a senhora Trinson dirige-se até o portal. É uma vizinha dos Aubry e dos Croizon, a quem as escolares na praça não puderam deter. Jacqueline comunica a resposta da Virgem: “Vós podeis entrar. Mas não a vereis”.

Quando o grupo regressa, a Senhora já não está mais ali.

A partir das primeiras Ave-Marias, ela volta a aparecer. “Oh” ali está!”.

Como no dia anterior, sorridente, a Senhora faz com o indicador um gesto e diz:

“Beijai a cruz do meu Rosário”.

Depois de colocar a cruz de ouro sobre o côncavo da palma da mão até a ponta do dedo médio, Ela estende Sua mão direita.

Jacqueline se levanta na ponta dos pés e beija o Cristo de ouro que ressalta claramente sob a placa que leva a inscrição: “INRI”.

Depois dela, Nicole faz o mesmo.

“Rezai pela França que nestes dias está em grande perigo”
A maior, com os braços estendidos levanta a Laura e a Jeannette. Sua desenvoltura desconcertante surpreende a senhora Trinson, que a convidaria a repetir naquela tarde o mesmo gesto diante de seu marido. Jacqueline não poderá levantar do chão suas jovens companheiras senão com muita dificuldade. Outros tratarão de fazer a mesma experiência mais tarde. O resultado será o mesmo.

As quatro meninas estão agora de joelhos.

Com uma lentidão impressionante a Senhora faz então um amplo sinal da cruz.

As meninas a imitam. O anjo permanece imóvel.

E rezam dez Ave-Marias sem Pai-Nosso nem Glória, com a invocação “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”.

A Virgem se faz triste.

—“Vou dizer-vos um segredo que somente podereis divulgar dentro de três dias:
“Rezai pela França que nestes dias está em grande perigo”.

“Ide dizer ao senhor pároco que traga as crianças e o povo para rezar”
E depois de uma pausa:

—“Ide dizer ao senhor pároco que venha às 2 horas da tarde trazendo as crianças e o povo para rezar”.

Jacqueline olha para a senhora Trinson: “A Santa Virgem pede que a multidão venha rezar, mas como fazer isso?”

—“Não te preocupes, as meninas e eu começaremos o grupo”.

A voz suave da Senhora acrescenta:

“Rezai uma Salve Maria”.

As videntes e as assistentes rezam dez Ave-Marias, seguidas da invocação: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”.

A Senhora volta a sorrir.

—“Dizei ao senhor pároco que construa uma gruta o quanto antes possível, aqui onde estou; que ponha aí minha estátua e ao lado a do anjo. Quando estiver pronto eu mesma abençoarei”.

As palavras “aqui onde estou” foram articuladas com mais força.

—“Voltai às 2 da tarde e às 15h”.

Depois a Virgem e o anjo desapareceram como se tivessem fundido na parede e se fechou a cortina de prata.

—“Oh, que linda esfera!” exclamam as meninas.

A bola se desvanece.

Regressam para a igreja profundamente decepcionadas
As quatro meninas vão imediatamente ao presbitério, passando pela sacristia, para fazer chegar a ordem da Senhora. “Estávamos contentes e nos dizíamos: “Ele também A verá”. O deão está lendo seu breviário e escuta através da janela aberta —faz um lindo dia— de seu escritório do primeiro andar e vê o alegre grupo vindo pelo pequeno jardim. Mas não se deixa ver. As meninas entram na cozinha: “Senhorita Camila vimos a Santa Virgem”. E mencionam a hora que a Senhora conclamou o senhor deão e o povo: 2 horas da tarde.

A senhorita Camila sobe e transmite a mensagem. Ao escutar a hora da conclamação da Virgem, o deão se sobressalta e responde em um tom bastante breve: “As 2 horas da tarde? Este é o horário de aula… que elas vão à escola”.

Regressam para a igreja profundamente decepcionadas. Ali, a senhora Trinson as reconforta como pode: “Não é culpa vossa. Obedecei! A Santa Virgem não as castigará por isso. Regressai às cinco”.

Fazem uma última reza em comum e depois as sete meninas regressam para a escola.

“O senhor pároco não quer; eu não irei”
Ao chegar Jacqueline começa a chorar. Sóror Maria do Menino Jesus lhe pergunta a razão de seu choro. À resposta da menina, a irmã contesta: “A Santa Virgem está acima do sacerdote mas é a ele a quem devemos obedecer”. Mas Jacqueline responde chorando: “O senhor pároco não quer; eu não irei”. Nicole, Laura e Jeaenette ficam caladas.

Sóror São Leão está presente. Escuta o relato da aparição. Como é de esperar se põe ao lado do pastor e se recusa a reconstituir a palavra completa escrita sobre o peito da Senhora.

As colegas da escola que rodeiam as videntes são de outra opinião, contra o pároco.

Uma hora mais tarde, durante a aula, quando sóror São Leão enroscará seu Rosário no canto da primeira mesa e que as contas se espalham pelo solo, haverá muitas risadas, talvez sarcásticas.

E pela noite, de regresso, diante dos clientes da padaria da família, Annie Martineau dirá: “Bem-feito que isso aconteceu com ela”.

Apesar de tudo a tarde transcorre normalmente. As meninas já não parecem tristes e estudarão como de costume.

Na cidade, espalha-se a notícia dos acontecimentos. É dia de feira. A senhora Robin, que vem de Pont, descobre somente nesse momento a magnitude que o assunto tomou.

“Tu não viste a Santa Virgem, mas o diabo”
As 16h30 Jacqueline pergunta a Nicole como fez na véspera. Mas de maneira nenhuma Nicole virá as 5 da tarde. Ela tem medo da noite e mais ainda das broncas de sua mãe em caso de atraso. Voltará para sua casa. Irá triste. No caminho pensará na aparição. Ficaria muito feliz se pudesse ter ficado.

As outras três estão na igreja na primeira fila, próximas ao órgão. Não estão sós. Há umas vinte crianças e uns vinte adultos. Mas o senhor pároco não está presente, nem as irmãs.

As 5 da tarde, enquanto recitam a primeira dezena do Rosário, já que a Senhora é de uma rigorosa pontualidade, a bola aparece. A cortina se abre.

A Virgem e o anjo estão ali.

Jeannette se assusta e grita: “A Senhora vai me levar e não verei mais minha mamãe. Quero voltar para minha casa”. Então a caçula lembrava das palavras que sua madre exasperada lhe fez ao meio-dia —depois lamentará por isso— para dissuadi-la de retornar a igreja: “Tu não viste a Santa Virgem, mas o diabo. Se voltares à igreja as 5h, “a bela Senhora” como tu dizes te levará e não me verás mais”.

Jacqueline, que havia visto na igreja a seu irmão Jacques —de 14 anos— faz sinais para que leve sua irmã.

Jeannette se dirige para a nave lateral, escondendo seu rosto com o antebraço direito. Como arrependida! Em três ocasiões se volta rapidamente, olha e junta as mãos. Jacqueline e Laura afirmarão que a Santa Virgem a seguia com os olhos e lhe sorria.

“Cantai a Salve Maria, este cântico que gosto tanto”
 
“Cantai a Salve Maria, este cântico que gosto tanto”, diz a Senhora, fazendo sinais para que as meninas se aproximem


E enquanto cantam, estão agora ajoelhadas a Seus pés, a Senhora continua sorrindo para elas.

Segundo o costume da paróquia, as duas meninas acrescentam: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”, por três vezes.

“Senhora, deveremos retornar aqui? A Senhora virá também amanhã?” pergunta Jacqueline.

“Sim, regressarei todos os dias a 1 hora da tarde. Eu vos avisarei quando tudo deverá acabar”.

E muito lentamente, a Senhora abençoa a assistência. Como faz o sacerdote ao final da missa, ela traça ante si mesma o sinal da cruz. Depois volta calmamente sua mão direita rigorosamente vertical, em meio ao peito e a desliza baixando-a contra a esquerda que ficara imóvel, um pouco mais abaixo. Este último movimento choca as meninas, já que nunca viram o sacerdote realizá-lo.

Jacqueline e Laura se persignam.

Tudo se acaba! A gruta se desvanece. A cortina desaparece. A bola brilhante se desfaz como que fundindo na parede.

A aparição permaneceu durante dez minutos. Às 5h30 da tarde informam o deão. Imediatamente ele informa o arcebispo.

Quarta-feira 10 de dezembro
O senhor Aubry somente saberá da notícia esta manhã às 11h30 no café com seus zombeteiros companheiros. Emociona-se. Regressa para casa nervoso. Contrariado, vermelho de raiva contra sua esposa e suas duas filhas. Em sua cólera, dá um bofetão em Jacqueline. Depois do almoço, muito silenciosa e por conselho de sua mãe, foi até o quarto onde ele repousava. Ela o abraçou no pescoço e o beijou: “Oh, papai!”

O papai lamenta sua cólera: “Que foi que eu fiz? Que foi que eu fiz?” Pouco depois, volta a se acalmar. Sua esposa lhe conta tudo. Enquanto ele escuta, enxuga uma lágrima. Mas então as meninas já se foram. Logo a mãe lhe dará mais explicações.

Na igreja esperavam aproximadamente cento e cinquenta pessoas, entre elas a senhora Croizon. Muitas, desejosas de ter uma vidente perto delas, tomam as meninas pelo braço. Desta maneira as quatro meninas logo estão sentadas nas primeiras fileiras de bancos, em meio as pessoas, mas separadas umas das outras.

A Senhora fala novamente: “Beijai minha mão”
Repentina e simultaneamente se levantam: “Ali está Ela!”

Apareceu a bola brilhante. A cortina de prata se estende. A rocha, a Senhora e o anjo em um instante estão ali, diante de seus olhos, com uma viva luz.

As quatro meninas avançam e se ajoelham em diagonal sobre a grade do altar.

É a Senhora, quem sorridente diz:

“Cantai a Salve Maria.”

As vozes se elevam. São e serão sempre entonadas, frescas, vibrantes. A Virgem lhes sorri novamente.

Recitam as dez Ave-Marias. Seguem um Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. A Virgem se inclina. Logo vem a invocação: Ó Maria concebida sem pecado, dita pelas crianças.

Logo as chama com o indicador. A Senhora fala novamente:

“Beijai minha mão.”

O antebraço direito está um pouco alto. Os dedos estão baixos quase perpendiculares ao solo. As crianças reconstituem facilmente a postura.

“Eu não vim aqui para fazer milagres mas para pedir-vos que rezem pela França”
Jacqueline se aproxima e Lhe dá um beijo. Logo Nicole, Laura e Jeannette, uma vez mais são erguidas pela maior, com surpreendente facilidade. Muitas pessoas da assistência escutarão o ruído dos lábios. As meninas afirmarão que sentiram o doce calor de Sua mão.

Então Nicole faz uma pergunta inspirada na picante reflexão de sóror São Leão: “Fazer uma gruta! E com que material? A Senhora deveria nos ter ensinado como fazê-la.”

—“Com que faremos a gruta que a Senhora nos pediu ontem:”

—“Para começar, em papel.”

“Mas amanhã tu verás tudo mais claro e não mais usarás óculos”
A senhora Aubry interpela a Jacqueline. Quando sua filha maior se encontra próxima a ela, diante do altar, lhe diz: “Pede a Santa Virgem que faça um milagre para que todos creiam”.
Jacqueline volta a se ajoelhar e em voz alta diz:

—“Senhora, poderia fazer um milagre para que todos creiam?”

Com doçura e extrema delicadeza, como sempre, a Senhora responde:

“—Eu não vim aqui para fazer milagres mas para pedir-vos que rezem pela França.”
“Mas amanhã tu verás tudo mais claro e não mais usarás óculos.”
[No interrogatório que se seguiu, o sacerdote se surpreendeu do respeito da Virgem em Seu modo de tratamento para com Jacqueline.]
“Prometem-me que o guardareis?”
“Vou confiar-vos um segredo que não deveis dizer a ninguém.”
“Prometem-me que o guardareis?”

“Sim, nós prometemos.”

A Senhora torna-se circunspecta. E não sorri. Sua confidência é breve. Falou “suavemente” para usar da expressão de Jeannette.

As meninas escutam com as mãos juntas. O segredo é o mesmo para todas.

A Virgem finalmente, diz:

“Regressai amanhã no mesmo horário”.

—“Sim, prometemos”.

E desaparece. É mais ou menos 1h15.

A multidão escutou as palavras das crianças. Não escutou a Senhora, nem A escutará nunca.

“Pois então, me matareis”
Desta vez o deão escutou da sacristia. Inclusive se arriscou a dar uma olhadela através das frestas da porta. As religiosas o acompanham.

As meninas não falarão nunca o segredo que a Senhora lhes confiou. Pelo menos diante dos demais. Alguns tentaram arrancá-lo em vão.

Uma noite o senhor Aubry pediu à Jeannette, de maneira afetuosa, que dissesse a ele “seu papai”, “a quem ela deve obedecer” —“Ainda que eu quisesse dizê-lo não poderia; paremos por aqui”, respondeu a pequena, apertando a garganta.

Outros lhe ofereceram uma boneca, um bilhete de mil francos, uma bicicleta; mas não obtiveram nada.

Um dia, alguns ousaram dizer a Laura que diante de um fuzil carregado ela terminaria por ceder. A menina baixa a cabeça e simplesmente responde:

“Pois então, me matareis.”

“Podereis dizer ao senhor arcebispo? Não.

Ao papa? Não! — Mais tarde elas dirão que a Virgem sempre lhes indicou o que deviam fazer nesses momentos.

Quinta 11 de dezembro
Ao despertar Jacqueline recusa água morna com a qual todas as manhãs tem que despregar as pálpebras. Ela afirma que vê perfeitamente. O senhor Aubry quer verificar o que está dizendo. A mais de um metro de distância a menina lê um periódico que ele lhe apresenta. A experiência lhe parece conclusiva. Agora não tem mais dúvidas (1).

O assunto dará o que falar.

Desde então já se falava muito sobre os acontecimentos, tanto em Ile-Bouchard, como pelos arredores. Naturalmente as opiniões eram variadas.

“Eu como bem, durmo bem, não estou doente”
Nessa mesma manhã às 10h, enquanto Nicole voltava do catecismo foi interpelada: “Tua mãe deveria te curar”, disse-lhe com ironia uma mulher. Imperturbável a menina lhe respondeu: “Eu como bem, durmo bem, não estou doente.”

—“Então, porque tu vais rezar diante de um muro?” —“Não estou louca, responde a menina, se não houvesse nada, não iria rezar ante um muro”. E a menina continua em seu caminho.

Essa calma, essa segurança tranquila das “videntes” era muito desconcertante. A senhora Aubry temendo que suas filhas tivessem um sonho agitado, quis dormir próxima delas. Mas constatou em sua insônia, que Jacqueline e Jeannette dormiam profundamente. Como de costume, Nicole e Laura também dormiram tranquilas. As quatro meninas não perderam nada de sua simplicidade, nem em casa, nem na escola, nem na rua. Com as colegas, que de bom grado as defendiam, estudavam, jogavam, e em certas ocasiões até eram travessas. Desta aventura as meninas não tiraram nenhuma atitude vaidosa mas permaneceram discretas.

“Trata-se de uma comédia montada pelos sacerdotes”
Chama atenção, sobretudo, a surpreendente concordância dos inesperados relatos que não variavam. A maioria deles era de um temperamento muito diferente. Já não se dizia tanto como nos primeiros dias: “Estão loucas”, “estão tendo visões”, “é mentira”.

Ante os fatos ocorridos surgiram também algumas objeções ousadas: As conhecidas dúvidas do deão já não permitiam afirmar com tanta segurança: “Trata-se de uma comédia montada pelos sacerdotes”. E a ausência notória durante as aparições de sóror São Leão fazia que soasse grotesca a hipótese emitida de que a religiosa se escondesse detrás do altar para fazer esta representação.

Ainda restava a tese da influência de que algum bruxo exercia poder sobre as meninas: “As meninas são produto de um “trabalho”, afirmava-se; e aquela da alucinação; e aquelas das influências religiosas, “de lavagem cerebral”. Lavagem cerebral? Os pais cujos meninos frequentam a escola livre o negaram formalmente.

Ninguém mais zombava das “videntes”
Nas numerosas conversas ninguém se preocupou por obter relatos de uma precisão meticulosa. Se se tem em conta as notas que se tomaram pouco depois, vê-se que se mesclam facilmente por exemplo os fatos dos diferentes dias. Mas apesar de tudo o essencial foi respeitado.

Sem dúvida, alguns se apressaram rapidamente e não tiveram um controle rigoroso. Mas havia poucos. Se falava inclusive de devotos que já estavam explorando o assunto.

Muitos permaneceram prudentes. Sem que por isso tivessem a lendária prudência da Igreja.

Em relação ao que foi dito, em certas ocasiões houve falta de caridade: tanto os pais como as meninas tiveram que sofrer pelos comentários descorteses. Mas em geral se discutiu sem paixão.

Apesar de tudo as constatações se imporiam: ninguém mais zombava das “videntes”; e cada dia aumentavam as opiniões favoráveis.

“A que devemos a honra de que a Senhora venha à igreja de Saint Gilles?”
Também a cada dia aumentava o número de gente que ia até a igreja. Quando as quatro meninas chegaram a Saint Gilles naquela quinta-feira, pouco antes de 13 horas, já não mais havia genuflexórios livres. Tiveram que se acomodar perto do altar. Pelo menos duzentas pessoas ocupavam a nave da Santa Virgem.

O senhor Aubry deixando-se levar por um companheiro se encontrava entre a multidão. Também pela primeira vez estava ali o deão, ajoelhado sobre a grade superior do altar maior, do lado do evangeliário, voltado para as meninas. Detrás dele, sobre as grades do altar de São Lourenço, perto da sacristia, estava a superiora e as duas religiosas da paróquia.

Na véspera o deão tinha decidido, em acordo com sóror São Leão, que se fizessem perguntas à Senhora. Primeiro: “A que devemos a honra de que a Senhora venha à igreja de Saint Gilles?”

E em caso de não obterem nenhuma resposta, deveriam perguntar: “Acaso será em memória de Jeanne Delanoue? —Ela que tanto gostava da Senhora, e gostava de rezar em Notre Dame de Ardillers— quem veio pessoalmente a instalar suas religiosas aqui?” [Jeanne Delanoue foi a fundadora das Irmãs de Santa Ana da Providência de Saumur e foi beatificada em 9 de novembro de 1947].

Entregaram a Jacqueline o papel em que a religiosa havia escrito as duas perguntas que o deão havia ditado.

“Rezais pelos pecadores?”
Exatamente as 13 horas apareceram a Senhora e o anjo! Com uma luz mais viva que nos dias precedentes.

As meninas se aproximaram. Ajoelharam-se sobre o degrau do altar formando uma linha ligeiramente curva. Em ordem de esquerda para a direita estão: Laura, Jeannette, Nicole e Jacqueline.

—“Cantai a Salve Maria”, disse a Virgem sorridente.

As meninas cantam com todo o coração. Jacqueline se destaca um pouco de suas colegas pela entonação, como também sucede que se destaca em suas respostas.

—“Rezais pelos pecadores?”

—“Sim, Senhora.”

As meninas rezam dez Salve Rainha, seguidas da invocação: Ó Maria concebida sem pecado. As pessoas também rezam junto com elas. E como de costume o fazem também com elas a Senhora e o anjo, mas somente durante as Ave-Marias.

“Neste lugar há pessoas piedosas e porque Jeanne Delanoue passou por aqui”
Ao sinal do senhor deão, Jacqueline toma seu papel e lê: “A que devemos a honra de Sua visita à igreja Saint Gilles?”

—“É porque neste lugar há pessoas piedosas e porque Jeanne Delanoue passou por aqui” respondeu imediatamente a Senhora.

Jacqueline prossegue sua leitura, ainda que sua segunda pergunta seja inútil. “Acaso será em memória de Jeanne Delanoue. Ela vos queria muito bem, e gostava muito de rezar em Notre Dame de Ardillers?”

—“Sim, eu sei disso muito bem”, interrompeu a Virgem inclinando a cabeça.

—“E que veio pessoalmente instalar suas religiosas aqui” termina a menina.

—“Quantas irmãs estão aqui?” interroga a Senhora.

—“São três”, responde Jacqueline com uma voz forte.

—“Qual é o nome de sua fundadora?”

Toda a assistência escuta: “Jeanne Delanoue!” Jeannette que ignorava esta informação, reconhecerá que não respondeu com as outras meninas.

“O senhor cura irá construir a gruta?”
As meninas olham a Virgem cujos olhos estão postos sobre elas. Jacqueline é quem rompe o silêncio: “Senhora, poderias ter a bondade de curar aos que tem enfermidades nervosas e reumatismo?” [Eram muitas as pessoas que vinham até Jacqueline para lhe fazer diferentes pedidos à Senhora.].

—“Haverá felicidade nas famílias…”

“Agora poderias cantar o Salve Rainha?”

—“Sim, com muito prazer.”

Então as meninas cantam sempre com o mesmo afã; enquanto a Virgem sorri e por momentos levanta os olhos até o Céu.

—“O senhor cura irá construir a gruta?”

—“Sim, Senhora, voltaremos amanhã.”

A Virgem disse:

“Ó Maria concebida sem pecado...”

E as meninas completam: “Rogai por nós que recorremos a Vós.” E a Senhora traça a grande cruz de benção sobre a multidão.

As meninas se persignam “muito, muito lentamente”.

Para surpresa das meninas, a Senhora volta Sua mão direita, próxima da mão esquerda que havia ficado imóvel sobre Seu peito, exatamente como da primeira vez.

Como no dia anterior, o anjo não se persignou. Intrigadas as meninas se perguntarão mais tarde o porquê.

A visão desparece. Permanecerá ante seus olhos durante treze minutos.

Polícia proíbe Jacqueline de voltar à igreja
As quatro meninas vão então para a sacristia e confiam ao senhor deão e às irmãs toda a sucessão de perguntas e respostas da misteriosa conversa.

Durante a tarde continuam as inconveniências.

A senhora Aubry primeiro receberá a oferta que lhe fará a senhora X… de uma visita médica para Jacqueline. Ela responderá: “Não é somente uma visita mas quatro que terás que pagar, já que são quatro as que vêem a mesma coisa.”

Logo virá a polícia. Um dos policiais proibirá a menina maior de voltar à igreja. “Senhor, se pudesses ver o que eu vejo ali, o senhor regressaria.” A senhora Aubry concluirá a entrevista: “Ela começou vendo ali e continuará voltando até o final.”

As 17 horas muitas pessoas irão a Saint Gilles. Inclusive uma jovem doente de Saint-Epain virá pedir por sua cura. Mas a Senhora não tinha convocado as meninas para aquela tarde.

Sexta-feira 12 de dezembro
Do fundo da classe Jacqueline podia copiar sem óculos o enunciado que estava escrito na losa, a 4,50m. Sóror São Leão se sente cada vez mais perturbada; mas apesar disto, no recreio das 10h30, aborda a maior no corredor:

—“Vais terminar com tua história?”

—“Com qual história, querida irmã?”

—“De fazeres com que todos creiam que vês a Santa Virgem, tu e as outras, de fazeres que a multidão venha todos os dias a 1 hora da tarde! Já estou ficando doente. Como segues com isso, terás o descrédito da escola.”

—“Oh! Não querida irmã, eu não estou atuando, nem estou contando nenhuma história. Mas nem o senhor cura nem a senhora querem crer em mim.” Jacqueline tem os olhos cheios de lágrimas.

“O diabo não pode mostrar-se tão belo como a Senhora na aparição”
Realmente as meninas se perguntam o porquê. Sóror Maria do Menino Jesus lhes tinha dito que talvez fosse para “provar” ou “como medida de precaução” em caso de possíveis intervenções do “diabo”. Dias antes Jacqueline havia respondido: “O diabo não pode mostrar-se tão belo como a Senhora na aparição”.

Hoje Jacqueline respondeu: “Querida irmã não é certo, não é o diabo: Eu fico muito contente quando A vejo e, além disso, Ela é tão linda, tem uns olhos tão doces.”

A diretora também não se esquecerá de Nicole. “É verdade que a Senhora pediu que façais uma gruta de papel? Eu não posso acreditar nisto.”

“Então, também amanhã pergunte a Ela, e me dirás o que Ela vai responder. E depois lhe perguntarás se irá sair do altar”.

Trezentas pessoas estão na igreja
Nem umas, nem outros perderão a visita da 1 hora da tarde em Saint Gilles.

E como cada dia, as meninas chegaram juntas: Jacqueline, Nicole e Jeannette que estavam acostumadas a chamar a Laura para ir.

Mais ou menos trezentas pessoas estão na igreja — algumas desde as 12h— e a maior parte se encontra pela nave da Santa Virgem que está superlotada.

O deão se posta no mesmo lugar da véspera. No altar de São Lourenço estão a superiora e sóror Maria do Menino Jesus. Desta vez sóror São Leão está detrás do altar onde também se escondem o doutor e a senhora Tabaste, para melhor serem notados. Três curas vizinhos de Ile-Bouchard estão também ali: os senhores curas de Parçay-sur-Vienne e de Saint Epain, e o senhor capelão do “templo”.

As meninas estão ajoelhadas sobre seu degrau, lado a lado.

Sentem falta da intimidade dos primeiros dias!

Uma luz extraordinária
A 1 hora da tarde aparecem A bola! A cortina! A Senhora e o anjo!

Um novo fenômeno ocorre. Detrás da cabeça da Virgem se abre uma auréola que brilha intensamente. Largas meias-luas de mais ou menos 27 centímetros, com uma luz extraordinária, surgem dos lados do véu e começam na altura das orelhas, com as extremidades para cima. Elas enquadram quase por completo a parte alta do rosto.

Cinco a cada lado: a primeira é de cor marrom rubro, a segunda rosada, a terceira verde, a quarta amarela e a quinta é vermelha. Estão inseridas umas ao lado das outras, quase sem se tocarem. Acima da testa, entre as duas últimas que não se juntam, surgem dois feixes de luz como duas plumas, como se fossem feitos de raios que vibram, com uma intensa luz azul, que são separados no topo.

As meninas ficam admiradas. E seus olhos recorrem o conjunto de cores. Cores cujos nomes voltarão a citar na mesma ordem sem vacilar.

Depois de um intercâmbio de palavras em voz baixa entre Jacqueline e Nicole, a Senhora lhes diz sorrindo:

—“Cantai a Salve Rainha.”

As meninas obedecem.

Logo passam as contas de uma primeira dezena de Ave-Marias, a qual a multidão responde e acaba com a invocação que em três ocasiões a Senhora completa: “Ó Maria concebida sem pecado”.

—“Cantai novamente a Salve Maria.”

—“Sim, Senhora.”

—“Como?” diz Jacqueline.

—“Podeis voltar a cantar a Salve Rainha?” disse a Senhora com a mesma voz suave.

—“Sim, queremos” responderam as quatro videntes e imediatamente começam e adicionam a invocação por três vezes.

A Senhora em um gesto maternal Se inclina. Faz novamente um movimento e volta a dizer como ontem:

—“Beijai minha mão.”

A Senhora entristecida diz: “Não vim aqui para fazer milagres, mas para que rezem pela França”
Tal como fizeram no dia anterior, as meninas levam seus lábios sobre os dedos da Virgem.

A multidão, que cada vez descobre a facilidade com que Jacqueline ergue cada menina, “como se fosse uma boneca”, nota que as meninas dão um beijo sempre no mesmo ponto do espaço, sobre as folhas de lírio.

As meninas lêem facilmente sobre o peito da Senhora: “MAGNIFICAT”, ainda a mão esquerda está posta sobre o coração.

—“Vós rezais pelos pecadores?”

—“Sim Senhora, nós o fazemos.”

—“Bem. Sobretudo rezai muito pelos pecadores.”

E rezam uma nova dezena de Ave-Marias, seguida pela invocação que as meninas repetem três vezes.

Então Jacqueline faz um pedido: “Senhora, poderia curar esta menina?” É uma enferma que veio de Saint Epain e está presente aqui na igreja.

—“Se não a curo aqui, irei curá-la em outro lugar.”

—“Oh! Senhora, poderia curar uma pessoa muito piedosa?”

A Virgem não responde.

—“Vive em Angers.”
[Jacqueline recorda muito bem o nome da pessoa que lhe fez este pedido.].

Então, a Senhora entristecida diz:

“Não vim aqui para fazer milagres, mas para que rezem pela França.”

E a lenta benção cai sobre todos. As meninas fazem o sinal da cruz.

E nesse momento diante delas estão somente as grandes paredes brancas da igreja.

No presbitério as meninas suportam ao seu primeiro interrogatório
A impressão que tem hoje o senhor cônego Ségelle é —como a também a superiora— menos boa que a de ontem. Eles teriam apreciado mais se as meninas tivessem mais concentração e menos movimento nos olhos. O doutor Tabaste está impressionado pelas palavras que são trocadas em voz baixa e pelo olhar de Jacqueline, visto de onde ele estava escondido. E sobre o papel preponderante de Jacqueline dirá: “Tenho a impressão que a maior é a que influencia as outras.” Ao contrário, muitos estão comovidos e convencidos.

Ao interrogar as meninas, estas respondem que sobretudo o que mais as impressionou foi o resplendor da auréola. A maior não pode conter-se e expressa sua surpresa: “Nicole, viste o arco-íris? Oh! Que lindo era!” —“Sim, era brilhante!” responderá sua prima sempre de maneira concisa. Sem se fazerem de rogadas contarão sua breve conversa.

No presbitério as meninas suportam ao seu primeiro interrogatório.

E cada vez mais, tanto em Ile-Bouchard como na região, as pessoas se interessam mais ainda pelas aparições.

Sábado 13 de dezembro
A impressão bastante desagradável do deão ainda não desapareceu. Hoje ele e as religiosas ficarão na sacristia. Quatro colegas estarão ali e poderão observar os fatos: dois sacerdotes monfortanos, o cura de Crouzilles e o cura de Avon.

A multidão permanecerá constantemente concentrada e rezando
A partir do meio-dia chega gente de muitas léguas, proveniente das redondezas: pedestres, ciclistas, automobilistas. A mãe de Nicole vem pela primeira vez. O doutor Ranvoisé chega de Richelieu. Quanta gente está presente na igreja? A quantidade variará segundo as diferentes avaliações, mas é seguro que há mais de quinhentas pessoas. Esta multidão permanecerá constantemente concentrada e rezando.

As meninas estão diante do altar e indistintamente se ajoelham ou se sentam. Rezam o Rosário sem voltarem a cabeça para a multidão, de uma forma simples aparentemente sem se forçarem. Jacqueline, que reconhecerá sua emoção, falará com sua prima em duas ocasiões.

Nicole, ao ver a maior, irá ajoelhar-se sobre o degrau do altar, tendo Jeannette à sua esquerda e a Laura à sua direita. A crítica do doutor Tabaste feriu a maior das meninas. Não, não é ela quem influência as outras! Para prová-lo não ficará com suas companheiras, mas permanecerá aproximadamente a um metro atrás delas, retirada para a esquerda com os joelhos desnudos sobre o solo.

“Senhora, aqui tens umas flores!”
Em uníssono, as quatro erguem a cabeça. Não se vê nenhuma tensão em sua atitude. Como de costume, olham sobre o lírio. Por momentos Laura parece desinteressar-se do que está se passando; as outras permanecem atentas, imóveis, sobretudo as duas irmãs. Jeannette tem a cabeça posta para trás, como se tivesse “o pescoço quebrado”, segundo uma expressão. Tem o rosto calmo, de boa cor, mas marcado por certa seriedade. A naturalidade de sua atitude, sua simplicidade, sua atenção, impressionam a todos os que as estavam vendo e em particular marcarão ao doutor Ranvoisé.

“Cantai a Salve Rainha”, disse a Senhora ao chegar outra vez, com um sorriso; desta vez não leva Sua auréola multicor.

As quatro vozes começam a cantar, um pouco mais tímidas no início. Vão tomando confiança. Como sempre o grupo é afinado e as vozes são agradáveis. Quando se calam:

“Começai pela Salve Rainha”.

—“Sim Senhora.”

Rezam a primeira dezena de Ave-Maria, com a invocação habitual “Ó Maria concebida sem pecado”. Logo faz-se um silêncio.

Jacqueline estende um buquê de cravos rosados e aumenta a voz.

—“Senhora, aqui tens umas flores!”

A Virgem Se inclina, sorri e com Sua habitual delicadeza, silenciosamente as abençoa fazendo um pequeno sinal da cruz.

—“Oh, obrigada!”

“Senhora” implora Jacqueline, “Por favor, faça um milagre”Em uníssono, as quatro erguem a cabeça. Não se vê nenhuma tensão em sua atitude. Como de costume, olham sobre o lírio. Por momentos Laura parece desinteressar-se do que está se passando; as outras permanecem atentas, imóveis, sobretudo as duas irmãs. Jeannette tem a cabeça posta para trás, como se tivesse “o pescoço quebrado”, segundo uma expressão. Tem o rosto calmo, de boa cor, mas marcado por certa seriedade. A naturalidade de sua atitude, sua simplicidade, sua atenção, impressionam a todos os que as estavam vendo e em particular marcarão ao doutor Ranvoisé.

“Cantai a Salve Rainha”, disse a Senhora ao chegar outra vez, com um sorriso; desta vez não leva Sua auréola multicor.

As quatro vozes começam a cantar, um pouco mais tímidas no início. Vão tomando confiança. Como sempre o grupo é afinado e as vozes são agradáveis. Quando se calam:

“Começai pela Salve Rainha”.

—“Sim Senhora.”

Rezam a primeira dezena de Ave-Maria, com a invocação habitual “Ó Maria concebida sem pecado”. Logo faz-se um silêncio.

Jacqueline estende um buquê de cravos rosados e aumenta a voz.

—“Senhora, aqui tens umas flores!”

A Virgem Se inclina, sorri e com Sua habitual delicadeza, silenciosamente as abençoa fazendo um pequeno sinal da cruz.

—“Oh, obrigada!”

“Senhora” implora Jacqueline, “Por favor, faça um milagre”Em uníssono, as quatro erguem a cabeça. Não se vê nenhuma tensão em sua atitude. Como de costume, olham sobre o lírio. Por momentos Laura parece desinteressar-se do que está se passando; as outras permanecem atentas, imóveis, sobretudo as duas irmãs. Jeannette tem a cabeça posta para trás, como se tivesse “o pescoço quebrado”, segundo uma expressão. Tem o rosto calmo, de boa cor, mas marcado por certa seriedade. A naturalidade de sua atitude, sua simplicidade, sua atenção, impressionam a todos os que as estavam vendo e em particular marcarão ao doutor Ranvoisé.

“Cantai a Salve Rainha”, disse a Senhora ao chegar outra vez, com um sorriso; desta vez não leva Sua auréola multicor.

As quatro vozes começam a cantar, um pouco mais tímidas no início. Vão tomando confiança. Como sempre o grupo é afinado e as vozes são agradáveis. Quando se calam:

“Começai pela Salve Rainha”.

—“Sim Senhora.”

Rezam a primeira dezena de Ave-Maria, com a invocação habitual “Ó Maria concebida sem pecado”. Logo faz-se um silêncio.

Jacqueline estende um buquê de cravos rosados e aumenta a voz.

—“Senhora, aqui tens umas flores!”

A Virgem Se inclina, sorri e com Sua habitual delicadeza, silenciosamente as abençoa fazendo um pequeno sinal da cruz.

—“Oh, obrigada!”

“Senhora” implora Jacqueline, “Por favor, faça um milagre”Em uníssono, as quatro erguem a cabeça. Não se vê nenhuma tensão em sua atitude. Como de costume, olham sobre o lírio. Por momentos Laura parece desinteressar-se do que está se passando; as outras permanecem atentas, imóveis, sobretudo as duas irmãs. Jeannette tem a cabeça posta para trás, como se tivesse “o pescoço quebrado”, segundo uma expressão. Tem o rosto calmo, de boa cor, mas marcado por certa seriedade. A naturalidade de sua atitude, sua simplicidade, sua atenção, impressionam a todos os que as estavam vendo e em particular marcarão ao doutor Ranvoisé.

“Cantai a Salve Rainha”, disse a Senhora ao chegar outra vez, com um sorriso; desta vez não leva Sua auréola multicor.

As quatro vozes começam a cantar, um pouco mais tímidas no início. Vão tomando confiança. Como sempre o grupo é afinado e as vozes são agradáveis. Quando se calam:

“Começai pela Salve Rainha”.

—“Sim Senhora.”

Rezam a primeira dezena de Ave-Maria, com a invocação habitual “Ó Maria concebida sem pecado”. Logo faz-se um silêncio.

Jacqueline estende um buquê de cravos rosados e aumenta a voz.

—“Senhora, aqui tens umas flores!”

A Virgem Se inclina, sorri e com Sua habitual delicadeza, silenciosamente as abençoa fazendo um pequeno sinal da cruz.

—“Oh, obrigada!”

“Senhora” implora Jacqueline, “Por favor, faça um milagre”
Rezam a segunda dezena de Ave-Marias, seguida outra vez da invocação repetida três vezes pelas meninas. A multidão responde.

Logo faz-se novo silêncio que será de repente interrompido pelo canto da Salve Rainha.

Outra vez silêncio.

E uma nova dezena de Ave-Marias, que a mesma Senhora completará com a invocação: Ó Maria concebida sem pecado.

“Rogai por nós que recorremos a Vós”, responderão as meninas em conjunto, três vezes.

—“Senhora” implora Jacqueline, “Por favor, faça um milagre.”

—“Mais tarde!”

As Ave-Marias continuam —quatro dezenas— seguidas pela tríplice invocação que fazem as meninas, pelo canto da Salve Rainha e outra vez pela tríplice invocação.

O que acontece então? Jacqueline inclina a cabeça, depois a levanta, faz o sinal da cruz e se inclina novamente. Nicole olha para a toalha do altar à sua direita. E é provavelmente nesse momento que pergunta em voz baixa:

—“Senhora, ao fazermos a gruta, devemos deixar de lado o altar?”

—“Sim, deixai o altar ao lado.”

Somente ela escutará a resposta.

Antes de ir a Senhora diz: “Amanhã regressarei pela última vez”
 
Antes de ir a Senhora diz: “Amanhã regressarei pela última vez”

“Ó Maria concebida sem pecado” dizem novamente as meninas, e a multidão completa.

A Senhora intervém depois da última dezena de Ave-Marias. A multidão escuta as crianças que simultaneamente e em três ocasiões respondem: “Rogai por nós que recorremos a Vós”.

As meninas ficam em silêncio.

Novamente voltam a cantar: Salve Rainha, sempre com a tão natural segurança nas vozes. Ninguém ousa unir sua voz às vozes das meninas.

Elas repetiram três vezes: “Ó Maria concebida sem pecado”, levantaram-se e fizeram o sinal da cruz.

Tudo termina.

Antes de ir a Senhora diz: “Amanhã regressarei pela última vez.”

Os sacerdotes imediatamente escoltaram as duas meninas maiores até o presbitério para interrogá-las separadamente.

Jacqueline conserva sempre seu aspecto sorridente. “Seus olhos e sua fisionomia não expressam nem medo, nem timidez, nem impaciência. Suas respostas são rápidas e precisas”.

No entanto, mais tarde isto não lhe impedirá de dizer que não gostou do fato de que entre os que a interrogaram, houve alguém que tentou confundi-la, inventando tal detalhe ou gesto que ela não tinha visto. Ela não imaginave que os sacerdotes fossem “mentirosos”. Nicole mantém-se sempre muito gentil. Não parece perturbada. Sua memória é fiel. Ninguém mudará suas afirmações.

As meninas dirão as mesmas coisas.

Lá fora, a multidão cresce. O número de convencidos aumenta.

A impressão do senhor deão, hoje, é boa.

Domingo 14 de dezembro
O dia está sombrio.

Ônibus, carros e bicicletas congestionam a pequena praça de Saint Gilles, assim como as ruas ao redor. Chega gente da mesma região de Anjou, da região de Vienne. Ao meio-dia a igreja está quase cheia. Muitos se recusam a ir almoçar e permanecem após a missa das 10h30.

Duas mil pessoas no interior da igreja
 
No dia da última aparição, cerca de 2 mil pessoas ocuparam a igreja e muitas não conseguiram entrar

Para abrir espaço para a multidão, os decididos visitantes removem cadeiras e bancos. O púlpito é tomado de assalto. Agrupamentos humanos se agarram às escadas duplas. Sobem por sobre as cadeiras do coro, até sobre os apoios dos reclinatórios, sobre as tábuas do altar maior; inclusive sobre o mesmo altar de São Lourenço, que rapidamente foi coberto com um pano.

As naves, a tribuna, o coro e todo o santuário estão cheios de gente. Apesar disto muitos não conseguiram entrar. Talvez haja duas mil pessoas no interior. Muitos curiosos. Todos os familiares das videntes estão presentes.

Em meio ao barulho, uma voz começa o primeiro rosário. Rapidamente faz-se silêncio. A multidão reza e canta o Glória ao Pai. Em seguida rezam uma segunda e uma terceira dezena.

Mesmo pessoas que há muito tempo não rezam em voz alta as Ave-Marias.

Naturalmente, o ambiente impressiona muito.

Durante este tempo, as quatro meninas chegam ao pátio do presbitério; Jacqueline veste um abrigo cinza escuro e um lenço na cabeça; Nicole veste um abrigo cinza claro e uma boina azul; Laura está com um abrigo azul marinho, com um gorrinho branco e Jeannette tem um abrigo cinza escuro e uma boina azul marinho.

Muito calmas e sorridentes as meninas conversam entre si e com sóror Maria do Menino Jesus, enquanto esperam que o deão termine seu almoço.

“Ali está!”, as quatro se levantam simultaneamente e se aproximam do altar
 
Em silêncio, a 1 hora da tarde, enquanto Laura murmura: “Ali está!”, as quatro se levantam ao mesmo tempo e se aproximam do altar

Entram na igreja pela porta da sacristira às 12h50, conduzidas por sóror São Leão, que com grande dificuldade abre caminho pelos bancos.

Jacqueline leva um ramo de flores silvestres. Nicole um ramo de cravos rosados, Laura um ramo de violetas de Parma e Jeannette um ramo de rosas. Deram-lhe essas flores para que sejam oferecidas à Senhora. Em seguida entram sete sacerdotes, o prefeito de Ile-Bouchard, o doutor Tebaste, seguido da superior das religiosas e sóror Maria do Menino Jesus.

As meninas se ajoelham sobre os genuflexórios, diante do altar de Nossa Senhora da Vitória. Não aparentam sentir nenhuma emoção, salvo talvez Jacqueline, que está um pouco pálida. Unem-se na reza do quarto rosário, em que o mesmo senhor deão dirá as últimas Ave-Marias.

Em silêncio, a 1 hora da tarde, enquanto Laura murmura: “Ali está!”, as quatro se levantam ao mesmo tempo e se aproximam do altar.

Como no dia anterior, Nicole está no centro; mas Jacqueline hoje está à direita e Laura à sua esquerda. As três estão ajoelhadas sobre o tapete e Jacqueline está outra vez sobre o piso, separada, do lado do evangeliário.

As meninas oram por cima dos lírios. Em nenhum momento sua atenção se dissipará. Durante trinta e cinco minutos, Jeannette, quem parece mover seus olhos ligeiramente mais para a direita que as outras, permanecerá imóvel, com a cabeça para trás, “doendo-nos o pescoço por ela”, como dirão algumas testemunhas próximas, tentados em ir aliviá-la.

Um inexplicável encanto
 
A Senhora e o anjo estavam ali, "no entanto, mais belos que de costume"

A Senhora e o anjo estavam ali, sobre a rocha, na luz, ante a cortina de prata sem rugas, “no entanto, mais belos que de costume”. A Virgem as olhava. A bondade de Seu olhar, a doçura de Seu sorriso, a elegância de Sua atitude é a graça que emanava dEla, proporcionaram um inexplicável encanto. Um encanto que poderia ser recordado incansavelmente em cada uma das aparições evocadas nestas páginas, para transcrever rigorosamente o testemunho das meninas. O anjo estava em seu esplendor, com recolhimento e suas asas palpitavam como a cada vez!

—“Cantai a Salve Rainha.”

A multidão silenciosa escuta as meninas.

—“Recitai uma dezena do Rosário.”

As quatro meninas rezam a uma cadência normal, sem pressa e em voz alta.

Próximo delas, um sacerdote deixará cair uma cadeira, mas elas continuam imóveis. Diante delas, a mesma pessoa aproximará um tamborete, sem que elas se perturbem. No entanto, como sempre elas sentem claramente os ruídos da igreja.

—“Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo”, acrescentam elas. Esta será a única vez hoje. A Senhora se inclina. A multidão responde, como respondeu às Ave-Marias, e como responderá às três invocações que seguem: Ó Maria concebida sem pecado.

Um pesado silêncio cai sobre todos.

Lêem sobre o mesmo papel um pedido do senhor cura, que hoje está muito emocionado
 
Juntas lêem sobre o mesmo papel um pedido do senhor cura, que hoje está muito emocionado

Jacqueline e Nicole se aproximam uma da outra. Juntas lêem sobre o mesmo papel um pedido do senhor cura, que hoje está muito emocionado: “Senhora, pedimos que abençoe o Senhor Arcebispo pelos seus 25 anos de episcopado, ao Senhor Bispo de Blois, as duas paróquias, as escolas particulares, a missão para a Quaresma, aos sacerdotes da reitoria e para que tenhamos mais sacerdotes para Touraine”.
[Era o ano do jubileu episcopal de Sua Excelência Monsenhor Gaillard. Sua Excelência Monsenhor Robin foi aluno do cônego Ségelle em Amboise].

A Senhora sorridente inclina a cabeça com amabilidade dando mostras de aceitação.

—“Oh! Obrigada” respondem as meninas.

Logo Jacqueline diz:

—“Senhora, vos ofereço estas flores”.

A Virgem sorri sem responder.

—“Tomai convosco!”

As quatro meninas estão de pé. As quatro apresentam os ramos com os braços estendidos.

A multidão está impaciente.

E a Senhora beija as pétalas
 
A atitude do anjo entregando lírios para a Santíssima Virgem, sugere a importância de Sua pessoa como Mãe do Verbo

A Senhora não responde e continua sorrindo bondosamente.

—“Beijai-as”, implora Jacqueline, que está à frente, levantando suas flores mais alto que as outras, e chamando a atenção geral.

—“Eu as beijo, mas não as levarei comigo, vós as levareis.”

E a Senhora beija as pétalas.

Em seguida a menina maior pega e eleva cada ramo.

A Virgem beija respectivamente os cravos, as violetas e as rosas.

Os dois últimos ramos eram menores que os outros, Jacqueline, portanto, fica na ponta dos pés para aproximá-los da Senhora. Evidentemente os eleva sempre à mesma altura.

—“Obrigada, Senhora.”

As meninas retornam aos seus lugares e se ajoelham. No entanto, Nicole retrocedeu um pouco.

Elas cantam agora a Salve Rainha.

Mais tarde lhes perguntarão: “Fizestes o necessário para que vosso canto seja uma oração?”

—“Nós cantamos para agradar a Senhora que nos pediu”, responderam simplesmente.

“Deveis rezar e fazer sacrifícios”
 
“Deveis rezar e fazer sacrifícios”

Em seguida se viu a Jacqueline, já que quase não se lhe escutava, quando confiou alguns dos pedidos que as pessoas amigas lhe haviam confiado. O ramo de flores a incomodava e a menina o colocou no chão, desdobrou outros papéis e continuou com a leitura.

A Senhora muito tranquila e bondosa escuta e sorri.

Responde apenas a pergunta de sóror Maria do Menino Jesus:
[Provavelmente foi nesse momento que a pergunta foi formulada].

“Senhora, que devemos fazer para consolar a Nosso Senhor pela dor que lhe causam os pecadores?”

—“Deveis rezar e fazer sacrifícios”.

Quando Jacqueline terminou a leitura, a Virgem disse:

“Continuai com o Rosário”.

Como cada dia a Senhora e o anjo, sem que se lhes escutasse a voz, juntam-se somente às Ave-Maria.

“Antes de ir-me enviarei um intenso raio de sol”
Depois disso e em três ocasiões, a Senhora disse: “Ó Maria concebida sem pecado”. A multidão se junta desde as primeiras sílabas, cada vez que as meninas respondem: “Rogai por nós que recorremos a Vós”.

Jacqueline: “Senhora, eu vos peço, dai-nos uma prova de vossa presença.”

—“Antes de ir-me enviarei um intenso raio de sol”.

E o silêncio se faz.

As meninas continuam com Ó Maria concebida sem pecado, “com entonações diferentes e cada vez mais expressivas”. Rogai por nós que recorremos a Vós, responde a assistência.

—“Dizei à multidão que cante o Magnificat.”

—“Sim Senhora, iremos cantar”.

Diante dela, e contra a parede, o padre Soulard toma nota e transmite.

—“É tudo?” pergunta o senhor deão.

Com o sinal afirmativo como resposta, o cônego Ségelle entona o Magnificat que é acompanhado pela imensa multidão de pé.

Durante o canto a Senhora mantém o olhar voltado para o céu
Jacqueline e Nicole às vezes movem os lábios, juntando-se à multidão. Jeannette e Laura permanecem silenciosas. Os quatro olhares continuam voltados para o alto. Em duas ocasiões se observará que Jacqueline sorri à invisível personagem, apertando a mão sobre seu coração.

Durante o canto a Senhora mantém o olhar voltado para o céu. Seu belo rosto se ilumina com um sorriso. Mais que nunca, respira felicidade.

Quando o cântico termina e volta o silêncio, a Senhora baixa os olhos e dirige um sorriso às meninas.

A Senhora lhes pede outra vez uma dezena do Rosário, o qual rezam imediatamente e acrescentam três vezes “Oh Maria concebida sem pecado”.

Todos escutam as meninas responder: “Rogai por nós que recorremos a Vós”.

E ressoa o canto da Salve Rainha.

—“Vós rezais pelos pecadores?”

—“Sim Senhora, nós rezamos por eles.”

De repente se escuta: “Sim. Senhora!” e vê-se que as quatro meninas, juntas, estendem seus braços em cruz
É a quarta dezena do Rosário.

Em três ocasiões outra vez as meninas dirão em voz alta “com uma emocionante convicção”: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”.

Depois da quarta dezena do Rosário, o silêncio se faz.

De repente se escuta: “Sim. Senhora!” e vê-se que as quatro meninas, juntas, estendem seus braços em cruz.

A Senhora lhe diz:

“Rezai uma dezena do Rosário com os braços em cruz”.

Jacqueline fez um sinal para o reitor de expressar o desejo da Virgem.

Imediatamente e de maneira instintiva muitos imitam o gesto. Há muito respeito humano neste momento. A multidão reza com fervor. A maioria tem lágrimas nos olhos.

Uma vez terminada a dezena, as videntes acrescentam três vezes: “Ó Maria concebida sem pecado”.

“Irás construir uma gruta?”
E depois que a multidão responde, a Virgem retoma Ela mesma em três ocasiões a invocação que as meninas completam em voz alta.

Agora volta a recomeçar o canto Salve Rainha, com quatro vozes ligeiras, seguido da tríplice invocação tal e como é costume em Saint Gilles.

Nesse momento as meninas se persignam: A Virgem as abençoa e ao mesmo tempo bendiz a multidão. Jacqueline move os lábios.

O misterioso diálogo prossegue:

“Irás construir uma gruta?”

Vozes decididas se fazem ouvir: “Sim, sim vamos construí-la”.

Depois, se entoa um cântico que até agora não tinha sido cantado durante o transcurso das aparições, um cântico muito conhecido em Ile-Bouchard: “Oh Maria concebida rogai, rogai, rogai pela França”. Nesta ocasião um sem-número de vozes se atrevem a unirem-se ao canto das meninas.

Depois de um breve intervalo as meninas cantam a “Salve Maria” e sua tríplice invocação.

Nicole está boquiaberta. Um observador notou a mobilidade dos dedos das mãos juntas de Jacqueline. Nesse momento somente a maior sorri para a Senhora. Também só ela faz o sinal da cruz.

Finalmente, em três ocasiões repetem piedosa e simultaneamente: “Rogai por nós que recorremos a Vós”.

As meninas respondem à Senhora, que de repente desaparece.

“Temos que ir”, diz Jacqueline ao se levantar.

“Ela nos disse que enviaria um raio de sol antes de partir”
Por um momento, um raio de sol ilumina a sombria igreja, principalmente o coro.

Este mesmo raio de sol ilumina a segunda janela da parede sul. Exatamente o segundo painel branco com rombos de chumbo, sobre a mão esquerda, por debaixo dos fragmentos “renascimento” que representam o busto de uma santa. O conjunto de luz —uma luz esbranquiçada, de um brilho ordinário mas apesar disso bastante vivo —ilumina inteiramente o altar da Virgem, até o ângulo nordeste e a parede norte até a entrada da nave lateral. Tem o calor de um raio de sol de verão.

Muitos dos que podiam ver as meninas de frente ou em diagonal afirmaram que os rostos, principalmente de Jacqueline, a mais pálida, se iluminaram com curiosos reflexos. “Que espetáculo tão belo!” escreve uma testemunha. As flores dos ramos brilharam, segundo alguns, pareciam ter pérolas ou estavam ornados de cintilantes gotas de orvalho.

Segundo as meninas, quando o raio se projetou sobre a Senhora, o anjo e a gruta, revestiu-lhes de um novo esplendor. E sobretudo ao final da aparição o raio dará um brilho excepcional ao globo de prata.

Também na capela vizinha, inclusive em muitas casas, percebeu-se o raio que provocou em alguns uma agradável surpresa, ou admiração em outros.

Enquanto o raio ainda refulgia na igreja —brilhará mais ou menos durante quatro minutos— Jacqueline, Nicole, Laura e Jeannete regressaram a seus genuflexórios.

No momento em que o padre Soulard as conduzia, Jacqueline diz: “Ela nos disse que enviaria um raio de sol antes de partir.”

As meninas estão muito recolhidas e Jacqueline tem lágrimas nos olhos
É então que o cônego Ségell anuncia que este é o sinal do fim. Roga a assistência que espere para receber a benção do Santíssimo Sacramento. Mas que não se enganem que esta benção constitui uma aprovação dos fatos ocorridos; a benção apenas ajudará a cada um santificar essa tarde de domingo. É a autoridade religiosa a quem compete o julgamento dos acontecimentos.

As quatro videntes vão se ajoelhar sobre o primeiro degrau do altar maior, ao lado do evangeliário. Estão muito recolhidas. Jacqueline tem lágrimas nos olhos.
Instantaneamente depois da cerimônia seguirá um interrogatório.

A multidão quer ver as meninas. Mas em vão. Elas mesmas querem evitar isto a qualquer preço. Ocuparão o final da tarde em passear com suas colegas sob a direção de sóror Maria do Menino Jesus, tão humildes como de costume.

Amanhã outra vez retomarão a vida escolar.

Durante essa semana por todas partes em Touraine se falará das aparições de Ile-Bouchard.

Nunca mais cessou de manifestar-se o movimento de fervor na antiga igreja Saint Gilles
A partir daquele domingo de dezembro de 1947, nunca mais cessou de manifestar-se o movimento de fervor na antiga igreja Saint Gilles. A rocha em papel de belém permanecerá depois do Natal; nela se erguerá uma estátua de Nossa Senhora de Lourdes. Mais tarde será substituída por uma gruta em pedra e pavimentada em vidro que abrigará a Virgem de Massabielle.

As pessoas trazem flores permanentemente e acendem velas. Numerosas peregrinações espontâneas chegam de Touraine, das dioceses vizinhas, e também de algumas distantes. Até do exterior vem agora a Ile-Bouchard.

As meninas não esqueceram nada. Talvez haja alguma confusão no desenvolvimento rigoroso dos fatos, ou uma dúvida sobre algum detalhe, talvez sobre alguma palavra de importância secundária. Na maioria das vezes têm sido capazes de resistir aos curiosos, por vezes se esconder, usando algum artifício para os evitar. Ainda hoje sofrem quando duvidam de sua palavra.

Nada perderam de sua simplicidade.

Até o momento as autoridades religiosas têm permanecido silenciosas.
[Cf. abaixo o decreto de monsenhor André Vingt-Trois, atual arcebispo de Paris desde 2004 (que era arcebispo de Tours nessa data), em que autoriza as peregrinações e o culto público a Nossa Senhora da Oração en Ile-Bouchard.].

Uma corrente de oração
Vinte anos depois dos “fatos” a antiga igreja Saint Gilles continua sendo muito concorrida. Seus vizinhos mais próximos testemunham sem problemas as idas e vindas cotidianas e numerosas; basta interrogá-los sobre isso.

O cônego Ségelle, quase a cada noite, até que se foi em 1960, escreveu notas concisas e telegráficas deixando registrado o que ele presenciou. Para ele não se tratava de fazer listas completas de visitantes ou de “peregrinos”, seu ministério exigia que ele se mobilizasse por vários lugares. De modo que provavelmente deve-se duplicar ou triplicar os valores que ele dá. Tampouco tinha a intenção de reter os nomes das pessoas desconhecidas e que por discrição não perguntava. Tais como estão, estes apontamentos cuidadosos constituem um documento revelado da corrente de oração que jamais cessou ali.

Esta corrente de piedade mariana tem seus pontos culminantes: em 8 de dezembro e em 15 de agosto.

O padre Arroute, cura deão de Ile-Bouchard acrescenta a essas notas: “Desde 1974 que estou aqui e não houve um só dia sem que viessem visitantes para rezar à Nossa Senhora, para pedir e dar graças.

“Esta corrente de oração tem pontos culminantes em 8 de dezembro, no mês de maio, em 15 de agosto, durante o mês do Rosário. De onde vem os peregrinos? De Touraine, de Anjou, de Bretana, de Vendée, de Alsacia, de Marsella, de Niza, da região de Paris, da Ilha de Guadeloupe, da Bélgica, da Suíça, da Inglaterra.”

“O dia 8 de dezembro sempre congrega entre oitocentas a mil pessoas, em um ambiente muito vívido de orações e de cantos. Muitos afimam ter sido marcados por este dia.

“Numerosas cartas pedem orações, às vezes assinalam as graças recebidas ou fazem perguntas sobre a posição da Igreja”.

"A atmosfera geral me parece saudável e sempre edificante pela qualidade da oração”.

E as meninas?
A vida fez com que as quatro videntes se dispersassem. Guardam muito vivamente esta grande recordação. Com muita alegria regressam a rezar na igreja Saint Gilles e permanecem discretas, evitando quanto possível as perguntas que se lhes queiram fazer.

Jacqueline Aubry permaneceu solteira. Em Tours, tornou-se professora em escolas católicas, onde era muito apreciada pelos seus alunos e seus pais. Agora, aposentada, vive em L'Ile-Bouchard e, às vezes, dá seu testemunho pessoal sobre o que viu e ouviu em 1947, sempre em consonância com as autoridades da Igreja.

Jeanne Aubry trabalhou em Paris como enfermeira de ambulância, depois como cientista da computação. Ninguém sabia quem ela era, mas sua fé radiante sempre estimulou seus colegas que nela encontravam alívio e conforto. Desde sua aposentadoria, em 1998, ela voltou para a Ile-Bouchard e continua prestando seus serviços ao próximo.

Robin Nicole é casada e tem três filhos. Ela vive com o marido na região de Saumur. Sempre foi muito ativa nos movimentos cristãos (Ação Católica ...), catecismo da Mulher. Regularmente ela retorna à Ile-Bouchard para a peregrinação do 8 de dezembro, onde leva, por vezes, amigos.

Laura Croizon também casou-se e tinha dois filhos. Ela viveu em Touraine, e na região de Paris, Lyon e finalmente em Bordeaux. Após um vida marcada pelo sofrimento físico e moral, faleceu no dia 24 dezembro de 1999. Seu corpo está enterrado no cemitério de Saint-Gilles L'Ile-Bouchard em um túmulo de sua família.

Todas guardaram sua experiência com a Santíssima Virgem e o anjo Gabriel no fundo de seus corações e permaneceram em completa obediência à Igreja.

Nossa Senhora da Oração
A estátua de Nossa Senhora de Lourdes, que foi colocada na gruta em 1948 foi substituída por uma estátua em argila pintada com cera, esculpida dezoito anos atrás por Paule Richon, uma talentosa artista de Touraine, ao mesmo tempo que a do Arcanjo Gabriel.

Às vésperas de 15 de agosto de 1966 o senhor cônego Ségelle procedeu a benção. Quinhentas pessoas assistiram aquela noite a missa celebrada por ele e padre Callo e no dia da Assunção houve mais gente que de costume.

Esta nova estátua é venerada com a denominação de “Nossa Senhora da Oração”.

E hoje, cada domingo os fiéis vão rezar o Rosário pela França de Nossa Senhora da Oração.

Neste ano mariano de 1988, a estátua de Nossa Senhora da Oração tem um novo aspecto que nos convida a passar por Ela para ir até SEU FILHO.

Esta obra de arte foi esculpida por uma pessoa de Chinon, a senhora Lecomte.

Decreto
Desde 1947 muitos são os católicos que vão em peregrinação à igreja paroquial Saint Gilles de Ile-Bouchard para venerar a Santa Virgem. Estas peregrinações têm trazido muitos frutos da graça. Desenvolveram um espírito de oração, sem nunca ceder a tentação do sensacional e muito têm contribuído para o crescimento da fé dos participantes.
Depois de estudar os fatos e de pedir conselho a pessoas competentes, eu autorizo estas peregrinações e o culto público celebrado na igreja paroquial Saint Gilles de Ile-Bouchard, para invocar a Nossa Senhora da Oração, sob a responsabilidade pastoral do cura legítimo desta paróquia.

Tours, em 8 de dezembro de 2001.
Festa da Imaculada Conceição
André VINGT-TROIS, Arcebispo de Tours

Oração à Nossa Senhora da Oração
Santa Maria, Nossa Senhora da Oração,
que acolheste com fé a mensagem do anjo Gabriel,
que te converteste na Mãe de Jesus, o Filho Único de Deus:
Ensina-nos a rezar para crescermos na Fé.
Na Visitação, tu que exultaste de alegria com o Magnificat:
Ensina-nos a dar graças a Deus.
Em Caná, tu que pediste a Cristo o vinho para a boda:
Ensina-nos a interceder por nossos irmãos.
De pé, ao lado da Cruz, tu que te ofereceste com Jesus por amor aos pecadores:
Ensina-nos a acolher a misericórdia do Pai.
Em Pentecostes, tu que rezavas com os apóstolos
quando receberam a plenitude do Espírito Santo:
Ensina-nos a pedir o Espírito para testemunhar o Evangelho.
Tu que és a Mãe da Igreja e a proteção das famílias,
cuida de cada uma de nossas famílias :
Ensina-nos a amar com fidelidade.
Tu que és a Mãe da Humanidade e a Padroeira da França,
abre nosso país às dimensões universais do amor de Deus:
Ensina-nos a servir com generosidade.
Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós.
Nossa Senhora da Oração, ensinai-nos a rezar.
Em 8 de dezembro de 1999, Monsenhor André Vingt-Trois, arcebispo de Tours.


Ajude a manter este site no ar. Para doar clique AQUI!
 

Saiba como contribuir com nosso site:

1) - O vídeo não abre? O arquivo não baixa? Existe algum erro neste artigo? Clique aqui!
2) - Receba os artigos do nosso site em seu e-mail. Cadastre-se Aqui é grátis!
3) - Ajude nossos irmãos a crescerem na fé, envie seu artigo, testemunho, foto ou curiosidade. Envie por Aqui!
4) - Ajude a manter este site no ar, para fazer doações Clique aqui!


Total Visitas Únicas: 9.903.142
Visitas Únicas Hoje: 133
Usuários Online: 166