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Artigo N.º 242 - Biografia de Bento XVI
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Postado em: 16/05/08 às 23:09:47 por: James
Categoria: Biografia
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O Cardeal Joseph Ratzinger nasceu em 16 de abril de 1927, um Sábado Santo em Marktl am Inn, diocese de Passau, Alemanha; e foi batizado esse mesmo dia. Em suas memórias, refletindo sobre o fato, diz: “ser a primeira pessoa a ser batizada na Água Nova da Páscoa era visto como um ato muito significativo por parte da Providência. Sempre me enchi que sentimentos de gratidão por ter sido imerso no Mistério Pascal desta maneira;...quanto mais o reflito, tanto mais me parece apropriado à natureza de nossa vida humana: ainda esperamos a Páscoa definitiva,ainda não estamos na plenitude da luz, mas caminhamos na sua diração cheios de confiança.”Para Ratzinger se torna difícil dizer qual é propriamente seu povo natal. Pelo fato de seu pai ter sido membro da polícia rural, era freqüentemente transladado, e toda a família junto com ele, assim , muitas vezes tiveram que mudar-se.

Em 1929 a família Ratzinger se muda a Tittmoning, pequeno povo à beira do Rio Salzach, na fronteira com a Austria.. Em dezembro de 1932, devido à aberta crítica que seu pai fazia ao nacional-socialismo, a família Ratzinger se vê obrigada a mudar-se a Auschau am Inn, ao pé dos Alpes.

Em 1937 o pai do Cardeal Ratzinger passa ao retiro e se muda com toda a família a Hufschlag, nos subúrbios da cidade do Traunstein, onde Josef passaria a maior parte de seus anos de adolescencia. É aqui onde inicia seus estudos no Ginásio de línguas clássicas, e aprende Latim e Grego.

Em 1939 entra no seminário menor de Traunstein, dando o primeiro passo na sua carreira eclesiástica.

Em 1943, ele e todos seus companheiros de classe são recrutados ao FLAK (esquadrão anti-aéreo do exército alemão), entretanto, lhes é permitido assistir nas aulas três vezes por semana.

Em setembro de 1944, Ratzinger é relevado do FLAK e retorna a casa. Em novembro passa pelo treinamento básico na infantaria alemã, mas devido a seu pobre estado de saúde, é excetuado de boa parte dos rigores próprios da vida militar.Na primavera de 1945, enquanto se aproximam as forças aliadas, Ratzinger deixa o exército e retorna a sua casa em Traunstein. Quando finalmente chega o exército americano até sua cidade, e estabelecem seu centro de operações em casa dos Ratzinger, e identificando a Josef como soldado alemão, enviam-no a um campo de prisioneiros de guerra.

Em 19 de junho desse mesmo ano é liberado e retorna ao lar em Traunstein, segue-o seu irmão Georg em julho.

Em novembro, tanto ele como seu irmão mais velho Georg, retornam ao seminário.

Em 1947 Ratzinger ingressa no Herzogliches Georgianum, um instituto teológico ligado à Universidade do Munique

Em 1951, em 29 de junho, Josef e seu irmão Georg são ordenados sacerdotes pelo Cardeal Faulhaber na catedral de Freising, na Festa dos Santos Pedro e Pablo.

Desde 1952 até 1959, é membro da Faculdade da Escola Superior de Filosofia e Teologia, em Freising.

Em 1953 recebe seu doutorado em teologia pela Universidade de Munique. Relacionado com o doutorado, publica seu primeiro trabalho importante:”Volk und Haus Gottes in Augustins Lehre von der Kirche” (O Povo e a Casa de Deus na doutrina do Agostinho sobre a Igreja). Ratzinger dedica seu “Habilitationsschrift” – trabalho original de contribuição à investigação, com a finalidade de habilitar-se para a docência universitária – à revelação e à teologia da história de São Boaventura.. Em abril de 1959 Ratzinger se inicia como Professor Principal do teologia fundamental na Universidade de Bonn. Em agosto desse ano, seu pai é convocado à Casa de Deus. De 1962 a 1965 assiste às quatro sessões do Concílio Vaticano II em qualidade de perito, como conselheiro teológico principal do Cardeal Frings de Colônia. Em 1963 se translada à Universidade de Münster, e em dezembro desse ano, falece sua mãe.

Em 1966 é nomeado professor de teologia dogmática na universidade de Tübingen. Sua nomeação é fortemente apoiada pelo professor Hans Küng. Ratzinger tinha conhecido inicialmente ao Kung em 1957 em um congresso de teologia dogmática em Innsbruck. Logo depois de revisar o trabalho doutoral do Küng sobre Karl Barth, diz Ratzinger: “Tinha muitas perguntas que lhe fazer a respeito deste livro, pois, apesar de que seu estilo teológico não era o meu, tinha-o lido com prazer e o autor me tinha suscitado respeito, pois tinha gostado muito da sua abertura e retidão . Assim se estabeleceu uma boa relação de amizade, ainda quando pouco depois...uma séria discussão começou entre nós a respeito da teologia conciliar.”

Em 1968 um onda de levantamentos de estudantes varreu a Europa, e o marxismo rapidamente se converteu no sistema intelectual dominante em Tübingen, doutrinando não apenas a boa parte de seus estudantes, mas inclusive ao corpo docente. Sendo testemunha desta subordinação da religião à ideologia política marxista, Ratzinger anota: Existia uma instrumentalização por parte das ideologias que eram tirânicas, brutais e cruéis. Essa experiência me deixou claro que o abuso contra a fé devia ser precisamente resistido se queria manter o querer do Concílio.

Em 1969, desencantado por seu encontro com a ideologia radical de Tübingen, translada-se de volta até a Bavária, onde assume um posto de professor na Universidade de Regensburg. Logo é nomeado Decano e Vice-presidente. Esse ano tambien é nomeado Conselheiro Teológico dos Bispos alemães.

Em 1972, Ratzinger, von Balthasar, Do Lubac e outros lançam a publicação teológica Communio, une revista periódica de teologia católica e cultura.

Em março de 1977, é renomado Arcebispo do Munique e Freising, convertendo-se no primeiro sacerdote diocesano que logo depois de 80 anos, assumia o encargo de tão vasta e importante arquidiocese. É urgido por seu confessor a aceitar o cargo e escolhe como seu lema episcopal a frase da 3 carta do João, “Cooperadores da verdade”, e raciocina: “Por um lado, parecia-me ser a relação entre minha tarefa prévia como professor e minha nova missão. Apesar de todas as diferenças de modo, o que estava em jogo e continuava a estar, era seguir à verdade, estar a seu serviço. E por outro lado, porque no mundo de hoje, o tema da verdade desapareceu quase totalmente, pois aparece como algo grande demais para o homem, e entretanto, tudo se desmorona se falta a verdade”. É consagrado em 28 de maio pelo Bispo de Würzburg, Josef Stange. Em junho desse mesmo ano, é criado cardeal presbítero pelo Papa Paulo VI, e recebe o título de S. Maria Consolatrice ao Tiburtino. Esse ano também, assistiu a IV Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, no Vaticano.

Em 1978 participou do conclave que escolheu a João Paulo I, quem o nomeia enviado especial do Papa para o III Congresso Mariológico Internacional, em Guaiaquil, Equador. Em outubro desse ano, participa do Conclave que escolhe ao Papa Juan Pablo II.

Em 1980 Ratzinger é nomeado por João Paulo II Presidente do Sínodo especial para os leigos. Pouco depois, o Papa o convida a encarregar-se da Congregação para a Educação Católica. Ratzinger declina, pois considera que não deve deixar tão logo sua missão em Munique.

Em 1981, em novembro, aceita o convite do Papa para assumir como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Presidente da Pontifícia Comissão Bíblica, e Presidente da Comissão Teológica Internacional.

Em 15 de fevereiro de 1982 renunciou ao governo pastoral da Arquidiocese de Munique-Freising,.

Em 1983 assistiu à VI Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, em Cidade do Vaticano. Foi um dos três presidentes delegados; membro do secretariado geral, de 1983 a 1986.

Em 1985 assistiu a II Assembléia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, Cidade do Vaticano.

Desde 1986 presidiu a Comissão para a preparação do Catecismo da Igreja Católica, que logo depois de 6 anos de trabalho (1986-92) apresentou o Novo Catecismo ao Santo Padre.

Em 1987 assistiu a VII Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, em Cidade do Vaticano.

Em 1990 assistiu a VIII Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, em Cidade do Vaticano.

Em 1991 assistiu ao I Assembléia Especial para a Europa do Sínodo dos Bispos, em Cidade do Vaticano.

Em 1993 foi elevado a Cardeal Bispo do título da sede suburbicaria do Velletri-Segni. Em 1994 assistiu à Assembléia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, Cidade do Vaticano, e a IX Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, também na Cidade Vaticano.

Em 1997 assistiu à Assembléia Especial para a América do Sínodo dos Bispos, em Cidade do Vaticano

Em 1998 assistiu à Assembléia Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, em Cidade do Vaticano.

Eleito vice-decano do Colégio dos Cardeais, em 9 de novembro de 1998.

Esse mesmo ano, assistiu à Assembléia Especial para a Oceania do Sínodo dos Bispos, em Cidade do Vaticano, de 22 de novembro aos 12 de dezembro.

Em 1999 foi enviado especial do Papa às celebrações pelo XII centenário da criação da diocese de Paderborn, Alemanha, em 3 de janeiro.

Em outubro desse mesmo ano assistiu a II Assembléia Especial para a Europa do Sínodo dos Bispos, em Cidade do Vaticano,

Em novembro de 2002, o Santo Padre aprova sua eleição como Decano do Colégio dos Cardeais.

Até a morte de João Paulo II era membro da Secretaria de Estado; das Congregações para as Igejas Orientais, Culto Divino e Sacramentos, Bispos, Evangelização dos povos, Educação católica; assim como dos Pontifícios Conselhos para a Unidade dos cristãos e do de Cultura; das Comissões para a América Latina e Ecclesia Dei.
Recebeu por encargo do Santo Padre, a reflexão da Via Sacra durante a Semana Santa de 2005

Doutorados:

1984 Doutor Honoris Causa pelo College of St. Thomas in St. Paul / Minnesota
1985 Doutor Honoris Causa pela Universidade Católica do Eichstätt
1986 Doutor Honoris Causa pela Universidade Católica de Lima
1986 Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Telogia Pontifícia e Civil de Lima
1988 Doutor Honoris Causa pela Universidade Católica do Lublin.
1998 Doutor Honoris Causa pela Universidade da Navarra na Pamplona.
1999 Doutor Honoris Causa pela Uiversidad Livre Maria SS Assunta (LUMSA) em Roma.
2000 Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Teologia da Universidade do Wroclaw
Pensamento de J. Ratzinger

Clonagem:

«O homem é capaz de produzir em laboratório outro homem que portanto não é já dom de Deus ou da natureza. Pode-se fabricar e, o mesmo que se fabrica, pode-se destruir». Se este é o poder do homem, então «está se convertendo em uma ameaça mais perigosa que as armas de destruição em massa».

Debate no Centro de Orientação Política de Roma. Outubro de 2004.

Cristãos e Muçulmanos:

«Diz-se que que a Constituição européia não podia falar das raízes judaico-cristãs para não ofender o Islã. Mas o que ofende o Islã é o desprezo de Deus, a arrogância da razão que provoca o fundamentalismo».

Debate no Centro de Orientação Política de Roma. Outubro de 2004.

Laicismo e Razão:

«O laicismo é uma ideologia parcial, que não pode responder aos desafios decisivos para o homem. Basta pensar nos danos produzidos pelo comunismo ou pelo desarraigo da tecido moral dos antepassados nos povos africanos, vítimas da guerra e da AIDS».

«A razão não é inimizade da fé, ao contrário. O problema é quando há desprezo de Deus e do sacro».

Debate no Centro de Orientação Política de Roma. Outubro de 2004.

Marxismo

«A doutrina de salvação marxista, em definitiva, nasceu em suas numerosas versões articuladas de diferentes maneiras, como uma visão única e científica do mundo, acompanhada por uma motivação ética e capaz de acompanhar a humanidade no futuro. Assim se explica seu difícil adeus, inclusive depois do trauma de 1989».

«Basta pensar em quão discreta foi a discussão sobre os horrores dos "gulags" comunistas, e no pouco que se escutou a voz de Alexander Solzjenitsin: de tudo isto não se fala».

«O silêncio foi imposto por uma espécie de pudor. Inclusive se menciona só de vez em quando o sanguinário regime de Pol Pot, de passada. Mas ficou o desengano, junto a uma profunda confusão. Já ninguém crê hoje nas grandes promessas morais».

«O marxismo se concebeu nestes termos: uma corrente que auspiciava justiça para todos, a chegada da paz, a abolição das injustificadas relações de predomínio do homem sobre o homem, etc.», afirmou.

«Para alcançar estes nobres objetivos se pensou em que terei que renunciar aos princípios éticos e que se podia utilizar o terror como instrumento do bem. No momento em que todos puderam ver, embora só fora em sua superfície, as ruínas provocadas na humanidade por esta idéia, a gente preferiu refugiar-se na vida pragmática e professar publicamente o desprezo pela ética».

Extrato de «Introdução ao cristianismo». Este livro apresenta algumas das aulas que ofereceu quando era professor de Teologia em Tubinga (Alemanha) em 1967.

Controle populacional

«Há um medo da maternidade que se apodera de uma grande parte de nossos contemporâneos. Neste medo da maternidade há algo profundo: o outro se torna um competidor que tira uma parte de minha vida, uma ameaça  para meu ser e  para meu livre desenvolvimento. Hoje não há uma filosofia do amor mas apenas uma filosofia do egoísmo».

«Rejeita-se como visão idealista a possibilidade de me poder enriquecer simplesmente na entrega, de me reencontrar a partir do outro e através de meu ser para o outro. Justamente aqui se engana ao homem. É desaconselhado amar. Em definitiva, é desaconselhado ser homem».

Jornal Avvennire. Setembro de 2000

Oração

«Pensamos que a oração é algo intimista. Já cremos tanto, conforme me parece, no efeito real, histórico da oração».

«Ao contrário devemos nos convencer e aprender que este compromisso espiritual, que une o céu e a terra, tem uma força interior. E um meio para chegar à afirmação da justiça é comprometer-se a orar, porque desta maneira se transforma em minha educação e do outro para a justiça. Devemos, em resumo, reaprender o sentido social da oração».

Belluno, Itália. Outubro de 2004

Relativismo

«O relativismo se tornou no problema central da fé na hora atual. Sem dúvida, já não se apresenta tão somente com seu vestido de resignação diante da imensidão da verdade, mas também como uma posição definida positivamente pelos conceitos de tolerância, conhecimento dialógico e liberdade, conceitos que ficariam limitados se se afirmasse a existência de uma verdade válida para todos. Por sua vez, o relativismo aparece como fundamentação filosófica da democracia. Esta, com efeito, edificaria-se sobre a base de que ninguém pode ter a pretensão de conhecer a via verdadeira, e se nutriria do fato de que todos os caminhos se reconhecem mutuamente como fragmentos do esforço para o melhor; por isso, procuram em diálogo algo comum e competem também sobre conhecimentos que não podem fazer-se compatíveis em uma forma comum. Um sistema de liberdade deveria ser, em essência, um sistema de posições que se relacionam entre si como relativas, dependentes, além disso, de situações históricas abertas a novos desenvolvimentos. Uma sociedade liberal seria, pois, uma sociedade relativista; só com esta condição poderia permanecer livre e aberta ao futuro».

Conferência no encontro de presidentes de comissões episcopais da América Latina para a doutrina da fé, celebrado em Guadalajara (México). Novembro 1996.)

New Age (Nova Era)

«A reedição de religiões e cultos pré-cristãos, que hoje se tenta com freqüência, tem muitas explicações. Se não existir a verdade comum, vigente precisamente porque é verdadeira, o cristianismo é só um pouco importado de fora, um imperialismo espiritual que se deve sacudir com não menos força que o político. Se nos sacramentos não tem lugar o contato com o Deus vivo de todos os homens, então são rituais vazios que não nos dizem nada nem nos dão nada; que, no máximo, permitem-nos perceber o numinoso, que reina em todas as religiões. Ainda então, parece mais sensato procurar o originalmente próprio, em lugar de deixar-se impor algo alheio e antiquado. Mas, acima de tudo, se a ‘sóbria embriaguez’ do mistério cristão não pode nos embriagar de Deus, então terá que invocar a embriaguez real de êxtase eficazes, cuja paixão arrebata e nos converte -ao menos por um instante- em deuses, e nos deixa receber por um momento o prazer do infinito e esquecer a miséria do finito. Quanto mais manifesta seja a inutilidade dos absolutismos políticos, quanto mais forte será a atração do irracionalismo, a renúncia à realidade do cotidiano».

Conferência no encontro de presidentes de comissões episcopais da América Latina para a doutrina da fé, celebrado em Guadalajara (México). Novembro de 1996.

Liturgia

«As diversas fases da reforma litúrgica deixaram que se introduza a opinião de que a liturgia pode ser arbitrariamente trocada. Se existir algo invariável, em todo caso se trataria das palavras da consagração; todo o resto poderia ser mudado. O seguinte pensamento é lógico: se uma autoridade central pode fazer isto, por que não também uma instância local? E se o podem fazer as instâncias locais, por que não em realidade a comunidade mesma? Esta  deveria poder ser expressada e encontrar na liturgia. Depois da tendência racionalista e puritana dos anos setenta e inclusive dos oitenta, hoje se sente o cansaço da pura liturgia falada e se deseja uma liturgia vivencial que não demora para aproximar-se das tendências da Nova Era: busca-se o embriagador e enlevado, e não a «logikè latreia», a «rationabilis oblatio» de que fala Paulo e com ele a liturgia romana (Rm 12,1).

Admito que exagero; o que digo não descreve a situação normal de nossas comunidades. Mas as tendências estão aí. E por isso nos pediu estar em vela, para que não nos introduza sorrateiramente um Evangelho distinto do que nos entregou o Senhor -a pedra em lugar do pão».

Conferência no encontro de presidentes de comissões episcopais da América Latina para a doutrina da fé, celebrado em Guadalajara (México). Novembro de 1996.

Teologia da Libertação

«Encontramo-nos, em resumidas contas, em uma situação singular: a teologia da libertação tentou  dar ao cristianismo, cansado dos dogmas, uma nova praxe mediante a qual finalmente teria lugar a redenção. Mas essa praxe deixou para trás de si ruína em lugar de liberdade. Fica o relativismo e a tentativa de nos conformar com ele. Mas o que assim nos oferece é tão vazio que as teorias relativistas procuram ajuda na teologia da libertação, para, a partir  dela, poder ser levadas a prática».

Conferência no encontro de presidentes de comissões episcopais da América Latina para a doutrina da fé, celebrado em Guadalajara (México). Novembro de 1996.

«Não se pode tampouco localizar o mal principal e unicamente nas ‘estruturas’ econômicas, sociais ou políticas más, como se todos os outros males se derivassem, como de sua causa, destas estruturas, de sorte que a criação de um ‘homem novo’ dependesse da instauração de estrutura econômicas e sócio-políticas diferentes. Certamente há estruturas iníquas e geradoras de iniqüidades, que é preciso ter a valentia de mudar. Frutos da ação do homem, as estruturas, boas ou más, são conseqüências antes de ser causas. A raiz do mal reside, pois, nas pessoas livres e responsáveis, que devem ser convertidas pela graça de Jesus Cristo, para viver e atuar como criaturas novas, no amor ao próximo, a busca eficaz da justiça, do domínio de sim e do exercício das virtudes».

«Quando fica como primeiro imperativo a revolução radical das relações sociais e se questiona, a partir daqui, a busca da perfeição pessoal, entra-se no caminho da negação do sentido da pessoa e de sua trascendência, e se arruína a ética e seu fundamento que é o caráter absoluto da distinção entre o bem e o mal. Por outra parte, sendo a caridade o princípio da autêntica perfeição, esta última não pode conceber-se sem abertura aos outros e sem espírito de serviço».

«Recordemos que o ateísmo e a negação da pessoa humana, de sua liberdade e de seus direitos, estão no centro da concepção marxista. Esta contém pois enganos que ameaçam diretamente as verdades da fé sobre o destino eterno das pessoas. Ainda mais, querer integrar na teologia uma ‘análise’ cujos critérios de interpretação dependem desta concepção atéia, é encerrar-se em ruinosas contradições. O desconhecimento da natureza espiritual da pessoa conduz a subordiná-la totalmente à coletividade e, portanto, a negar os princípios de uma vida social e política de acordo com a dignidade humana».

«Esta concepção totalizante impõe sua lógica e arrasta as ‘teologias da libertação’ a aceitar um conjunto de posições incompatíveis com a visão cristã do homem. Em efeito, o núcleo ideológico, tirado do marxismo , ao qual faz referência, exerce a função de um princípio determinante. Esta função lhe deu em virtude da qualificação de científico, quer dizer, de necessariamente verdadeiro, que lhe atribuiu».

«As «teologias da libertação», que têm o mérito de ter valorizado os grandes textos dos Profetas e do Evangelho sobre a defesa dos pobres, conduzem a um amalgama ruinosa entre o pobre da Escritura e o proletariado de Marx . Por isso o sentido cristão do pobre se perverte e o combate pelos direitos dos pobres se transforma em combate de classe na perspectiva ideológica da luta de classes. A Igreja dos pobres significa assim uma Igreja de classe, que tomou consciência das necessidades da luta revolucionária como etapa para a libertação e que celebra esta libertação em sua liturgia».

Instrução sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação LIBERTATIS NUNTIUS. Agosto de 1984.

Políticos abortistas e Eucaristia

«Não todos os assuntos morais têm o mesmo peso moral que o aborto e a eutanásia. Por exemplo, se um católico discordasse com o Santo Padre sobre a aplicação da pena de morte ou na decisão de fazer a guerra, este não seria considerado por esta razão indigno de apresentar-se a receber a Sagrada Comunhão. Embora a Igreja exorte as autoridades civis a procurar a paz, e não a guerra, e a exercer discrição e misericórdia ao castigar  criminosos, ainda seria lícito tomar as armas para repelir a um agressor ou recorrer à pena capital. Pode haver uma legítima diversidade de opinião entre católicos a respeito de ir à guerra e aplicar a pena de morte, mas não, entretanto, em relação ao aborto e a eutanásia».

«Em relação ao grave pecado do aborto ou a eutanásia, quando a cooperação formal de uma pessoa é manifesta (entendida, no caso de um político católico, como fazer campanha e votar sistematicamente por leis permissivas de aborto e eutanásia), seu pároco deveria reunir-se com ele, instrui-lo em relação os ensinamentos da Igreja,  informando-lhe que não deve apresentar-se à Sagrada Comunhão até que termine com a situação objetiva de pecado, e lhe advertindo que de outra maneira lhe será negada a Eucaristia».

Carta aos Bispos dos EUA. Julho de 2004.

Matrimônio e uniões homossexuais

«Não existe nenhum fundamento para assimilar ou estabelecer analogias, nem sequer remotas, entre as uniões homossexuais e o intuito de Deus sobre o matrimônio e a família. O matrimônio é santo, enquanto que as relações homossexuais contrastam com a lei moral natural».Considerações a respeito dos projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais. Junho de 2003.

Primeira Homilia de S.S. Bento XVI - Celebração Eucarística Capela Sistina


20 de Abril de 2005

"Graças e paz em abundância para vós! Na minha alma convivem nestas horas dois sentimentos contrastantes. Por uma parte, um sentido de inadequação e de confusão humana pela responsabilidade que me confiaram ontem de cara à Igreja universal, como sucessor do apóstolo Pedro nesta sé de Roma. Por outra parte, sinto viva em mim uma gratidão profunda a Deus que, como nos faz cantar a liturgia, não abandona seu rebanho, mas sim o conduz através dos tempos sob a guia daqueles que Ele mesmo escolheu vigários de seu Filho e constituiu pastores.

Caríssimos, este agradecimento íntimo por um dom da misericórdia divina prevalece em meu coração apesar de tudo. E considero este fato uma graça especial que me concedeu meu venerado predecessor João Paulo II. Parece-me sentir sua mão forte que estreita a minha, parece-me ver seus olhos sorridentes e escutar suas palavras, dirigidas, neste momento, particularmente a mim: "Não tenha medo!".

A morte do Santo Padre João Paulo II e os dias seguintes, foram para a Igreja e para o mundo inteiro um tempo extraordinário de graça. A grande dor por seu desaparecimento e o sentido de vazio que deixou em todos se temperaram com a ação de Cristo ressuscitado, que se manifestou durante longos dias em uma grande onda de fé, de amor e de solidariedade espiritual, culminada nas suas exéquias solenes.

Podemos dizê-lo: os funerais de João Paulo II foram uma experiência verdadeiramente extraordinária em que se percebeu de alguma forma a potência de Deus que, através de sua Igreja, quer formar com todos os povos uma grande família, mediante a força unificadora da Verdade e do Amor. Na hora da morte, conformado com seu Mestre e Senhor, João Paulo II coroou seu longo e fecundo pontificado, confirmando na fé ao povo cristão, reunindo-o em torno de si e fazendo sentir-se mais unida a inteira família humana. Como não sentir-se sustentados por este testemunho? Como não advertir o fôlego que procede deste acontecimento de graça?

Surpreendendo toda minha previsão, a Providência divina, através do voto dos venerados padres cardeais, chamou-me a suceder a este grande Papa. Nestas horas penso novamente no que aconteceu na região da Cesaréia do Filipo faz dois mil anos. Parece-me escutar as palavras do Pedro:"Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo" e a solene afirmação do Senhor: "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja (...)Te darei as chaves do reino dos céus".

Tu és Cristo! Tu és Pedro! Parece-me reviver a mesma cena evangélica; eu, sucessor de Pedro, repito com trepidação as palavras trepidantes do pescador da Galiléia e volto a escutar com emoção íntima a consoladora promessa do divino Mestre. Se for enorme o peso da responsabilidade que cai sobre meus pobres ombros, é certamente desmesurada a potência divina com a que posso contar: "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja". Ao me escolher como bispo de Roma, o Senhor me quis vigário d'Ele, quis-me "pedra" em que todos possam apoiar-se com segurança. A Ele peço que supra à pobreza de minhas forças, para que seja valente e fiel pastor de seu rebanho, sempre dócil às inspirações do Espírito Santo.

Disponho-me a empreender este ministério peculiar, o ministério "petrino" ao serviço da Igreja universal, com humilde abandono nas mãos da Providência de Deus. É a Cristo em primeiro lugar a quem renovo minha adesão total e confiada: "In Te, Domine, speravi; non confundar in aeternum!".

A vós, senhores cardeais, com ânimo grato pela confiança que me demonstrastes, peço-lhes que me sustentem com a oração e com a colaboração, constante, sapiente e ativa. Peço também a todos os irmãos no episcopado que estejam a meu lado com a oração e com o conselho, para que possa ser verdadeiramente o "Servus Servorum Dei". Como Pedro e os outros apóstolos constituíram por vontade do Senhor um único colégio apostólico, do mesmo modo o sucessor de Pedro e os bispos, sucessores dos apóstolos -o Concílio o reafirmou com força- devem estar estreitamente unidos entre eles. Esta comunhão colegial, embora na diversidade de funções do romano pontífice e dos bispos, está ao serviço da Igreja e da unidade da fé, da qual depende de maneira notável a eficácia da ação evangelizadora no mundo contemporâneo. Portanto, sobre esta trilha em que avançaram meus venerados predecessores, quero prosseguir preocupado unicamente de proclamar ao mundo inteiro a presença viva de Cristo.

Frente a mim está, em particular, o testemunho de João Paulo II. Ele deixa uma Igreja mais valente, mais livre, mais jovem. Uma Igreja que, segundo seu ensinamento e seu exemplo, olha com serenidade ao passado e não tem medo do futuro. Com o Grande Jubileu se introduziu no novo milênio, levando nas mãos o Evangelho, aplicado ao mundo atual através da autorizada ré-leitura do Concílio Vaticano II. Justamente o Papa João Paulo II indicou esse concílio como "bússola" com a qual orientar-se no vasto oceano do terceiro milênio. Também em seu testamento espiritual escrevia: "Estou convencido de que as novas gerações poderão servir-se ainda durante muito tempo das riquezas proporcionadas por este Concílio do século XX".

Portanto, eu também, quando me preparo ao serviço que é próprio do sucessor de Pedro, quero reafirmar com força a vontade decidida de prosseguir no compromisso de realização do Concílio Vaticano II, seguindo os meus predecessores e em continuidade fiel com a tradição bimilenar da Igreja. Este ano acontece o 40 aniversário da conclusão da assembléia conciliar (8 de dezembro de 1965). Com o passar dos anos os documentos conciliares não perderam atualidade; pelo contrário, seus ensinamentos se revelam particularmente pertinentes em relação com as novas instâncias da Igreja e da sociedade atual globalizada.

De maneira muito significativa, meu pontificado se inicia enquanto a Igreja vive o ano especial dedicado à Eucaristia. Como não ver nesta coincidência providencial um elemento que deve caracterizar o ministério ao qual estou chamado? A Eucaristia, coração da vida cristã e fonte da missão evangelizadora da Igreja, não pode deixar de constituir o centro permanente e a fonte do serviço petrino que me foi confiado.

A Eucaristia faz presente constantemente a Cristo ressuscitado, que segue entregando-se a nós, nos chamando a participar da mesa de seu Corpo e seu Sangue. Da comunhão plena com Ele, brota cada um dos elementos da vida da Igreja, em primeiro lugar a comunhão entre todos os fiéis, o compromisso de anúncio e testemunho do Evangelho, o ardor da caridade para todos, especialmente para os pobres e os pequenos.

Neste ano, portanto, se terá que celebrar com relevo particular a solenidade do Corpus Christi. A Eucaristia constituirá o centro da Jornada Mundial da Juventude em Colônia e em outubro, da Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, cujo tema será: "A Eucaristia, fonte e cume da vida e a missão da Igreja".

Peço a todos que intensifiquem nos próximos meses o amor e a devoção a Jesus Eucaristia e que expressem com valentia e claridade a fé na presença real do Senhor, sobre tudo mediante a solenidade e a dignidade das celebrações.

Peço-o de modo especial aos sacerdotes, nos que penso neste momento com grande afeto. O sacerdócio ministerial nasceu no Cenáculo, junto com a Eucaristia, como tantas vezes sublinhou meu venerado predecessor João Paulo II. "A existência sacerdotal tem que ter, por um título especial, 'forma eucarística', escreveu na sua última carta para a quinta-feira Santa. A este fim contribui sobre tudo a devota celebração cotidiana da Santa Missa, centro da vida e da missão de cada sacerdote.
Alimentados e sustentados pela Eucaristia, os católicos não podem deixar de sentir-se estimulados a tender a aquela plena unidade que Cristo desejou ardentemente no Cenáculo. O Sucessor de Pedro sabe que tem que fazer-se cargo de modo muito particular deste supremo desejo do Mestre divino. A Ele lhe confiou a tarefa de confirmar aos irmãos.

Plenamente consciente, portanto, ao início de seu ministério na Igreja de Roma que Pedro regou com seu sangue, seu atual sucessor assume como compromisso prioritário trabalhar sem economizar energias na reconstituição da unidade plena e visível de todos os seguidores de Cristo. Esta é sua ambição, este é seu urgente dever. É consciente de que para isso não bastam as manifestações de bons sentimentos. São precisos gestos concretos que entrem nos ânimos e removam as consciências, levando a cada um àquela conversão interior que é o condição para tudo progresso no caminho do ecumenismo.

O diálogo teológico é necessário. Também é indispensável aprofundar nas motivações históricas de decisões tomadas no passado. Mas o que mais urge é aquela "purificação da memória", tantas vezes evocada pelo João Paulo II, que unicamente pode preparar os ânimos a acolher a plena verdade de Cristo. Cada um deve apresentar-se diante de Deus, Juiz supremo de tudo ser vivo, consciente do dever de lhe render contas um dia do que tem feito ou não tem feito pelo grande bem da unidade plena e visível de todos seus discípulos.

O atual Sucessor de Pedro se deixa interpelar em primeira pessoa por esta pergunta e está disposto a fazer todo quanto for possível para promover a fundamental causa do ecumenismo. Seguindo a seus predecessores, está plenamente determinado a cultivar todas as iniciativas que possam ser oportunas para promover os contatos e o entendimento com os representantes das diversas igrejas e comunidades eclesiásticas. A eles, envia também nesta ocasião, a saudação mais cordial em Cristo, único Senhor de todos.

Volto com a memória neste momento à inesquecível experiência que vivemos todos com ocasião da morte e do funeral pelo chorado João Paulo II. Junto a seus restos mortais, colocados na terra, recolheram-se os chefes das nações, pessoas de todas as classes sociais, e especialmente jovens, em um inesquecível abraço de afeto e admiração. O mundo inteiro cravou seu olhar nele com confiança. A muitos pareceu que aquela intensa participação, amplificada até os limites do planeta pelos meios de comunicação social, fosse como uma petição comum de ajuda dirigida ao Papa por parte da humanidade, que turvada por incertezas e temores, interroga-se sobre seu futuro.

A Igreja de hoje deve reavivar em si mesmo a consciência da tarefa de voltar a propor ao mundo a voz daquele que há dito: "Eu sou a luz do mundo; quem me segue não caminhará nas trevas, mas terá a luz da vida". Ao empreender seu ministério, o novo Papa sabe que seu dever é fazer que resplandeça diante dos homens e mulheres de hoje a luz de Cristo: não a própria luz, mas a de Cristo.

Com esta consciência dirijo a todos, também àqueles que seguem outras religiões ou que simplesmente procuram uma resposta às perguntas fundamentais da existência e ainda não a encontraram. Dirijo-me a todos com simplicidade e afeto, para assegurar que a Igreja quer seguir mantendo com eles um diálogo aberto e sincero, a procura do verdadeiro bem do ser humano e da sociedade.

Invoco de Deus a unidade e a paz para a família humana e declaro a disponibilidade de todos os católicos a cooperar em um autêntico desenvolvimento social, respeitoso da dignidade de todos os seres humanos.

Não economizarei esforços e sacrifício para prosseguir o prometedor diálogo iniciado por meus venerados predecessores, com as diversas civilizações, para que da compreensão recíproca nasçam as condições para um futuro melhor para todos.

Penso em particular nos jovens. A eles, interlocutores privilegiados do Papa João Paulo II, dirijo meu afetuoso abraço em espera -se Deus quiser-, de encontrá-los em Colônia, com motivo da próxima Jornada Mundial da Juventude. Queridos jovens, futuro e esperança da Igreja e da humanidade, seguirei dialogando e escutando suas esperanças para lhes ajudar a encontrar cada vez com maior profundidade a Cristo vivente, o eternamente jovem.

Emane nobiscum, Domine! Senhor, fica conosco! Esta invocação, que é o tema dominante da carta apostólica do João Paulo II para o Ano da Eucaristia, é a oração que brota de modo espontâneo de meu coração, enquanto me disponho a iniciar o ministério ao que me chamou Cristo. Como Pedro, também eu renovo a Deus minha promessa de fidelidade incondicional. Quero servir somente a Ele, me dedicando totalmente ao serviço de sua Igreja.

Invoco a materna intercessão de María Santíssima para que sustente esta promessa. Em suas mãos coloco o presente e o futuro de minha pessoa e da Igreja. Que intercedam também os Santos apóstolos Pedro e Paulo e todos os Santos.

Com estes sentimentos reparto a vós, venerados irmãos cardeais, aos que participam neste rito e a quantos o seguem mediante a rádio e a televisão uma especial e afetuosa bênção".

 


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