Eles se esquecem que a imprensa foi iventada somente no século XV. Toda verdade revelada por Deus aconteceu sem o concurso da escrita. Raramente alguma coisa era escrita, pois era um trabalho árduo e dispendioso. Por isto a Revelação era transmitida na grande maioria das vezes por via oral.
O Primeiro livro da Bíblia é o livro da Gênesis, escrito por Moisés. A Revelação de Deus iniciou-se com o patriarca Abraão. Entre Abraão e Moisés há um espaço de tempo de mais ou menos 600 anos. Como é que os hebreus guardaram a Revelação Divina durante todo teste tempo? Através da transmissão oral de geração em geração.
Este depósito oral revelado por Deus é a Tradição Divina, que neste tempo estava apenas se desenvolvendo, vindo a terminar com a Ascenção Gloriosa de Cristo aos céus. Esta mesma Tradição ensina que Moisés não escreveu tudo o que a ele foi revelado por Deus. E isto pode ser facilmente confirmado por qualquer judeu. Baseados em um estudo realizado pelo Professor Carlos Ramalhete, podemos notar alguns sinais da Tradição Divina relatados na Sagrada Escritura:
Em 1Cor 10,4, São Paulo nos conta uma interessante história que mostra como a Tradição Oral e a Escrita estavam situadas no mesmo nível: escrevendo sobre os sentidos figurados do Antigo Testamento, tomou um exemplo que não está escrito nele: a rocha da qual manava água (Ex 17,1-7; Num 20,2-13) e que acompanhava os Judeus no deserto. Não há nada nas Escrituras sobre uma pedra andando junto com os judeus! E o que é muito mais importante: o Novo Testamento faz uma prefiguração nessa exposição, pois ela prefigura Nosso Senhor!
Também quando São Judas nos diz que São Miguel não quis julgar a blasfêmia de Satanás, quando estavam lutando pelo corpo de Moisés, mas deixou-o ao Julgamento de Deus, não ousou julgar a blasfêmia, mas disse: Cabe a Ti, Senhor, ele estava também citando a Tradição Oral. Ou alguém consegue encontrar esta passagem na Bíblia?
Também São Paulo, em 2Tm 3,8, informa-nos os nomes daqueles que resistiram a Moisés em Ex 7,8-10 (Iannes e Mambres), que ele poderia ter tomado conhecimento somente da Tradição Oral.
Além disto a plenitude da revelação das Sagradas Escrituras, está na Sagrada Tradição. Foi da Sagrada Tradição que os escritores sagrados tiraram o conteúdo para escrever, escrevendo parte do que foi revelado. É a própria Bíblia que revela que nem toda doutrina que Jesus confiou aos apóstolos foi escrita (cf. Jo 20,30-31; 21,25; At 1,3; 2Jo 1,12; 3Jo 1,13-14; 2Tm 2,2; 2Ts 2,15). E que devemos guardar toda a Revelação Divina, seja oral ou escrita (cf. 2Ts 2,15; 2Tm 2,2; 1Tm 6,20; At 2,42; At 16,4).
Os protestantes para defenderem sua posição de abandono à Tradição Apostólica, costumam citar as passagens abaixo, onde Jesus repreende os fariseus:
"Porque, deixando o mandamento de Deus, retendes a tradição dos homens, como o lavar dos jarros e dos copos, e fazeis muitas coisas semelhantes a estas. E dizia-lhes: Bem invalideis o mandamento de Deus para guardardes a vossa própria tradição." (Mc 7,8-9)
"Invalidando, assim, a palavra de Deus pela vossa tradição, que vós ordenastes. E muita coisa fazeis semelhantes a estas." (Mc 7,13)
Os protestantes exatamente por não conhecerem a Tradição, não sabem que os fariseus guardavam duas tradições: a Tradição Divina (revelada por Deus através dos Patriarcas, Juízes e Profetas) e a tradição humana (desenvolvida secretamente nos círculos farisaicos, chamada de "tradição dos antigos").
E o que era a tradição humana que os fariseus guardavam? Era um conjunto de regras, que tinha como objetivo o rigor no cumprimento da Lei, para evitar que o povo a transgredisse.
Por exemplo: a Tradição Divina ensinava que a carne de um animal não poderia ser cozida em seu próprio leite. Para evitar que o povo transgredisse esta lei, os fariseus criaram uma outra que ensinava que nenhuma carne deveria ser cozida em leite. Com isto colocavam uma "cerca" em torno da Lei. Coisa parecida fazem os protestantes ao proibirem o consumo de álcool e em outros casos o uso da televisão.
Jesus, no referido episódio narrado por São Marcos, estava condenando a atitude de substituir a Tradição (dada por Deus seja oral ou escrita) pela tradição (dada pelos homens).
Este erro foi cometido também pelos primeiros hereges cristãos que abandonaram a Tradição Apostólica para seguirem a tradição de Pelágio, Ario, Nestório e etc. No século XVI trocaram a Tradição Apostólica pela tradição de Lutero, Calvino, John Knox, etc. E este erro permanece até os dias atuais.