Postado em: 06/08/09 às 12:01:42 por: James
Categoria: Artigos
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Filha querida, ao manifestar-te a grande virtude daqueles pastores, quero colocar em evidência a dignidade dos meus ministros. Pelo pecado de Adão, as portas da eternidade fecharam-se, mas o meu Filho abriu-as com a chave do seu sangue. Ao sofrer a paixão e morte, ele destruiu vossa morte e vos lavou no sangue. Sim, foram seu sangue e sua morte que, em virtude da união da natureza divina com a humana, deram acesso ao céu. E a quem deixou Cristo tal chave? Ao apóstolo Pedro e a seus sucessores, os que virão depois dele até o dia do juízo final. Todos possuem a mesma autoridade de Pedro; nenhum pecado a diminui, do mesmo modo que não destrói a santidade do sangue de Cristo e dos sacramentos. Já disse (28.1) que o sol eucarístico não tem manchas e que o mal cometido por quem o administra ou recebe não apaga sua luz. Não, o pecado não danifica os sacramentos da santa Igreja, não lhes diminui a força; prejudica a graça e aumenta a culpa somente em quem os ministra ou recebe indignamente.
VISÃO SOBRE O PAPA
Na terra, quem possui a chave do sangue é o Cristo-na-terra. Certa vez eu te manifestei essa verdade numa visão, para indicar o grande respeito que os leigos devem ter pelos ministros, bons ou maus que eles sejam, e quanto me desagrada que alguém os ofenda. Pus diante de ti a jerarquia da Igreja sob a figura de uma despensa contendo o sangue de meu Filho. No sangue estava a virtude de todos os sacramentos e a vida dos fiéis. À porta daquela despensa, vias o Cristo-na-terra, encarregado de distribuir o sangue e fazer-se ajudar por outros no serviço de toda a santa Igreja. Quem ele escolhia e ungia, logo se tornava ministro. Dele procedia toda a ordem clerical; ele dava a cada um sua função no ministério do glorioso sangue. E como dispunha dos seus auxiliares, possuía a força de corrigi-los nos seus defeitos. De fato, é assim que eu quero que aconteça. Pela dignidade e autoridade confiada a meus ministros, retirei-os de qualquer sujeição aos poderes civis. A lei civil não tem poder legal para puni-los; somente o possuiu aquele que foi posto como senhor e ministro da lei divina.
NÃO PERSEGUIR OS SACERDOTES
Os ministros são ungidos meus. A respeito deles diz a Escritura: “Não toqueis nos meus Cristos” (Sl 105,15). Quem os punir cairá na maior infelicidade. Se me perguntares por que a culpa dos perseguidores da santa Igreja é a maior de todas e, ainda, por que não se deve ter menor respeito pelos meus ministros por causa de seus defeitos, respondo-te: porque, em virtude do sangue por eles ministrado, toda reverência feita a eles, na realidade não atinge a eles, mas a mim. Não fosse assim, poderíeis ter para com eles o mesmo comportamento de praxe para com os demais homens. Quem vos obriga a respeitá-los é o ministério do sangue. Quando desejais receber os sacramentos, procurais meus ministros; não por eles mesmos, mas pelo poder que lhes dei. Se recusais fazê-l0, em caso de possibilidade, estais em perigo de condenação. A reverência é dada a mim e a meu Filho encarnado, que somos uma só coisa pela união da natureza divina com a humana. Mas também o desrespeito. Afirmo-te que devem ser respeitados pela autoridade que lhes dei e por isso mesmo não ser ofendidos. Que os ofende, a mim ofende. Disto a proibição: “Não quero que mãos humanas toquem nos meus cristos!” Nem poderá alguém escusar-se, dizendo: “Eu não ofendo a santa Igreja, nem me revolto contra ela; apenas sou contra os defeitos dos maus pastores!” Tal pessoa mente sobre a própria cabeça. O egoísmo a cegou e não vê. Aliás, vê; mas finge não enxergar, para abafar a voz da consciência. Ela compreende muito bem que está perseguindo o sangue do meu Filho e não os pastores. Nestas coisas, injúria ou ato de reverência dirigem-se a mim. Qualquer injúria: caçoadas, traições, afrontas. Já disse e repito: não quero que meus cristos sejam ofendidos. Somente eu devo puni-los, não outros. No entanto, homens ímpios continuam a revelar a irreverência que têm pelo sangue de Cristo, o pouco apreço que possuem pelo amado tesouro que deixei para a vida e santificação de suas almas. Não poderíeis ter recebido maior presente que o todo-Deus e todo-Homem como alimento. Cada vez que o conceito relativo aos meus ministros não coloca em mim sua principal justificativa, torna-se inconsistente e a pessoa nele vê somente muitos defeitos e pecados. De tais defeitos falarei em outro lugar (928.6). Mas quando o respeito se fundamenta em mim, jamais desaparece, mesmo diante de defeitos nos ministros; como disse (28.2.1), a grandeza da eucaristia não é diminuída por causa dos pecados. A veneração pelos sacerdotes não pode cessar; se tal coisa acontecer, sinto-me ofendido.
O GRANDE PECADO DOS PERSEGUIDORES
São muitas as razões que fazem desta ofensa a mais grave. Vou lembrar apenas três. A primeira é porque os perseguidores agem contra mim em tudo o que fazem em oposição aos meus ministros. A segunda é porque desobedecem àquela ordem pela qual proibi que meus sacerdotes fossem tocados. Ao persegui-los, os homens desprezam a riqueza do sangue de Cristo recebida no batismo. Desrespeitando o sangue de Jesus e perseguindo os ministros, rebelam-se e tornam-se membros apodrecidos, separados da jerarquia eclesiástica. Caso venham a morrer obstinados em tal revolta e desrespeito, irão para a condenação eterna. Se reconhecerem a própria culpa na última hora, humilhando-se e desejando a reconciliação, mesmo que não o consigam fazer exteriormente, serão perdoados. Mas não devem esperar pelo momento da morte, pois será incerto o próprio arrependimento. A terceira razão, pelo qual este pecado é o mais grave, está no seguinte: é uma falta maldosa e deliberada. Os perseguidores têm consciência de que o não devem cometer, sabem que vão pecar; cometem um ato de orgulho, em que não entram atrações sensíveis, muito pelo contrário. Tais pecadores arriscam a alma e o corpo: a alma. Privando-se da graça, muitas vezes em meio a remorsos da consciência; o corpo, gastando seus bens a serviço do diabo e indo morrer como animais. Não, este pecado cometido contra mim não possui características de satisfação ou prazer pessoais; acompanham-no apenas os desvarios e a maldade do orgulho! Um orgulho que nasce do egoísmo e daquele medo próprio de Pilatos, quando matou meu Filho por temor de perder o cargo. É o que sempre fizeram os perseguidores. Os demais pecados procedem de uma certa simploriedade, de ignorância ou de satisfação pessoal desordenada, de certo prazer ou utilidade presente no ato mau. Naqueles pecados, o homem prejudica a si mesmo, ofende a mim e ao próximo. Ofende-me por não me glorificar; ao próximo por não o amar. Na realidade, não se ergue frontalmente contra mim; ergue-se contra si mesmo, e isso me desagrada. Já no pecado de perseguição contra a santa Igreja, sou ofendido diretamente. Os outros vícios possuem uma justificativa, uma razão intermediária. Já afirmei que todo o pecado e virtude são feitos no próximo (2.6). O pecado é ausência de amor e pelos homens; a virtude é amor caritativo. Neste pecado, os maus perseguem o próprio sangue de Cristo ao se investirem contra meus ministros, e privam-se de sua riqueza espiritual. Entre todos os homens, os sacerdotes são meus eleitos, meus consagrados, são os distribuidores do sangue do meu Filho, em quem vossa natureza está unida à minha. Quando consagram a eucaristia, os ministros o fazem na pessoa de Jesus. Como vês, realmente este pecado é dirigido contra meu Filho; por conseguinte, contra mim, pois somos um. É uma falta gravíssima. Não se dirige aos ministros, dirige-se a mim. Também o respeito demonstrado para com eles, considero-os como se fossem para mim e meu Filho. Por tal motivo te dizia que, se colocasses de um lado todos os demais pecados e este, sozinho, do outro, o último ser-me-ia mais ofensivo. Falei de tudo isso para dar-te motivo de maior preocupação, seja por causa do pecado com que me ofendem, seja pela condenação eterna dos infelizes perseguidores. Assim, o teu sofrimento e o dos meus servidores dissolverão a grande treva que desceu sobre estes membros apodrecidos, atualmente separados da jerarquia da santa Igreja. Infelizmente quase não acho pessoas que aceitem angustiar-se por causa das perseguições em curso contra o precioso sangue. Mais facilmente encontro quem atire continuamente flechas contra mim; são pessoas cegas à procura de fama. Consideram honroso o que é infame, infame o que é honroso; recusam humilhar-se diante do próprio superior. Com tais defeitos muitos ousam perseguir o sangue de Cristo, ferem-me profundamente. Quando podem, tanto se esforçam por prejudicar-me. Na realidade, não me danificam. Sou como a pedra que, ao ser batida, devolve o golpe a quem o deu. Mesmo os pecados mais vergonhosos não me causam males; são flechas envenenadas que a eles retornam em forma de culpa. Durante esta vida, privam-se da graça, e no dia da morte, não havendo arrependimento irão para a condenação. Vivem distantes de mim, atrelados ao demônio com quem se coligaram. Quando o homem perde a graça, amarra-se ao pecado. É um laço feito de ódio pelo bem e de amor pelo mal; uma corrente com que espontaneamente a alma se entrega ao diabo, pois isso ninguém a pode obrigar.
Este mesmo laço une os perseguidores da Igreja entre si e com o maligno; de comum acordo, aqueles desempenham a função do demônio. Esforça-se este por perverter os homens, induzindo-os ao pecado mortal; deseja que as almas tenham em si a maldade em que ele vive. Pois bem, fazem a mesma coisa os inimigos da Igreja: quais membros do diabo procuram levar os filhos da Igreja à revolta contra a jerarquia, afastam-nos da caridade, acorrentam-nos ao pecado, privam-nos dos benefícios da paixão. O vínculo que une tais perseguidores nasce do orgulho e da vanglória; com medo de perder os bens materiais, acabam perdendo a graça. De possuidores da dignidade de Cristo, decaem para a maior confusão interior possível. São pactos que trazem o selo das trevas. Desconhecendo os males e pecados em que vivem, neles fazem cair outros; inconscientes dos seus pecados, não se corrigem. Como cegos, caminham vangloriando-se para a destruição da própria alma e do próprio corpo.
Filha querida chora profundamente diante dessa cegueira e miséria. São homens que, como tu, foram lavados no sangue; que se nutriram no sangue; que cresceram no seio da santa Igreja. Agora, revoltados, abandonaram-na sob pretexto de corrigir os defeitos dos meus ministros. Eu já proibira tal comportamento, dizendo: “Não quero que meus ministros sejam ofendidos”. Autêntico terror deveria apossar-se de ti e dos demais servidores meus, quando ouvis falar de semelhantes alianças. Tua linguagem é insuficiente para referir quanto as abomino. O pior é que tais pessoas procuram encobrir seus defeitos sob o manto dos defeitos dos meus ministros. Não se lembram de que não existe capa que os esconda diante de mim. Na opinião pública, bem que passam desapercebidos; não em minha presença. Conheço os acontecimentos desta vida e muito mais. Pensei em todos vós e vos amei antes de vosso nascimento.
Um dos motivos pelos quais esses infelizes não se corrigem é a falta de fé. Julgam que não os vejo. Se acreditassem realmente que sei dos seus defeitos, se acreditassem que todo pecado é punido e todo bem recompensado, como expliquei em outro lugar (14.10), haveriam de corrigir-se e pedir humildemente o perdão. Nesse caso, pelo sangue de Cristo e os perdoaria. Mas vivem na obstinação, reprovados por tantos males. Arruinaram-se, vivem nas trevas, perseguindo cegamente a Cristo.
Em suma, ninguém deveria perseguir meus sacerdotes por causa de defeitos seus!