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Artigo N.º 6590 - O INFERNO EXISTE (2)
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Postado em: 09/11/10 às 10:52:34 por: James
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O segundo fato é referido pelo mesmo autor, que o tem por indubitável, como o precedente, pois o ouviu da bôca de um repeitabilíssimo eclesiástico, superior de importante comunidade, o qual por sua vez, soube os pormenores mediante um parente da senhora, com a qual se deu tal fato. Naquele tempo, isto é, por ocasião do Natal de 1859, ela ainda vivia e contava pouco mais de quarenta anos.

Achava-se essa dama em Londres no inverno de 1847 e 1848; enviuvara aos 29 anos, era muito rica e muito amiga dos divertimentos mundanos. Entre as pessoas elegantes que freqüentavam a sua casa, notava-se especialmente um moço, cujas contínuas visitas a comprometiam não pouco e cuja vida estava longe de ser edificante.
 
Uma noite, a senhora lia não sei que romance para conciliar o sono. Ouvindo bater o relógio, apagou a vela e dispunha-se para deitar, quando percebeu, com grande assombro, que uma luz estranha e pálida vinha da porta do salão contiguo e espalhava-se a pouco e pouco no quarto, aumentando sempre. Não sabendo o que era, do pasmo passou ao mêdo; eis senão quando, viu abrir-se lentamente a porta do salão e entrar no quarto o jovem desregrado, o qual, antes que ela pudesse pronunciar palavra, aproximou-se, tomando-a pelo braço esquerdo, apertando-lhe fortemente o pulso, e com aceno desesperado, lhe falou em inglês:
 
Existe o inferno!
 
Foi tão grande o susto que a senhora perdeu os sentidos. Voltando a si, tocou nervosamente a campainha para chamar a criada, que a tendeu; entrando no quarto, esta sentiu logo um cheiro de queimado e chegando-se à ama, que com dificuldade articulava umas palavras pôde ver que tinha ao redor do pulso uma queimadura tão profunda que a carne desaparecera e ficava à mostra o osso. Observou além disso, que da porta do salão até o leito e do leito à porta do salão estava impressa a pegada de um homem, que tinha queimado o pano de parte a parte. Por ordem da ama, abriu a porta do salão, e notou que lá terminavam as pegadas no tapete.
 
No dia seguinte, a desditosa senhora soube com aquele mêdo que bem se compreende, que alta noite, o tal moço se embriagara com excesso, e transportado para casa, veio a morrer pouco depois.
 
Ignoro, acrescenta o superior, se esta terrível lição tenha convertido a infeliz dama; o que sei é que ela ainda vive e para esconder aos olhares curiosos o sinal daquela sinistra queimadura, leva no pulso, à guisa de bracelete, um largo enfeite de ouro, que não deixa nem de dia nem de noite. Repito que os particulares eu os tive da bôca de um seu parente próximo, católico sincero, a cuja palavra presto fé. Os parentes não falam do ocorrido e é por isso que tenho o cuidado de ocultar o nome da família.
 
Apesar do véu, no qual esta aparição foi e deveu ser envolvida, não me parece, acrescenta Monsenhor Ségur, que se possa pôr em dúvida a formidável autenticidade.
*
*          *
O terceiro fato aconteceu na Itália.
Em 1873, em Roma, alguns dias antes da Assunção, uma moça, bastante má, machucou uma das mãos. Levaram-na para o Hospital da Consolação. Ou porque o sangue estivesse muito deteriorado ou porque sobreviesse grave complicação, a infeliz morreu naquela noite.
 
No mesmo instante uma de suas companheiras, que não sabia o que acontecera no hospital, pôs-se a gritar desesperadamente, a tal ponto que acordou tôda a vizinhança e provocou a intervenção da polícia.
 
A companheira que morrera no hospital apareceu envolvida em chamas e lhe disse: –“Estou condenada, e se não queres condenar-te também, sai deste lugar infame e volta a Deus.
 
Nada consegui acalmar a agitação da jovem, que bem cedo abandonou aquela casa, deixando a todos atônitos, especialmente depois de divulgada a notícia da morte da companheira, no hospital.
 
Aconteceu que, logo depois, a proprietária da casa, uma garibaldina exaltada, caiu doente, mandou logo chamar um padre, dizendo que queria receber os sacramentos. A Autoridade Eclesiástica delegou para êsse fim um digno sacerdote, Monsenhor Piroli, pároco de S. Salvador em Laura. Munido de especiais instruções, êle se apresentou e exigiu, antes de tudo, que a doente fizesse, perante testemunhas, plena retratação de suas blasfêmias e insultos contra o Sumo Pontífice e declarasse que afastaria as ocasiões de pecado. Sem a menor hesitação, a infeliz promete e então se confessa e recebe o Sagrado Viático com grandes sentimentos de penitência e humildade.
 
Pressentindo o seu fim, a pobre mulher, com lágrimas nos olhos suplicou ao padre que não a abandonasse, amedrontada como estava por aquela aparição. Assim, teve a grande graça de ser assistida nos últimos momentos pelo ministro de Deus.
 
Tôda a Roma conheceu logo os particulares desta tragédia.
 
Como sempre, os ímpios e os libertinos fizeram dela objeto de chacota, abstendo-se, à aposta, de obter oportunas informações; mas, de sua parte, os bons aproveitaram para se tornarem melhores e mais exatos no cumprimento de seus deveres.
 
 
CAPÍTULO IV
 
Horrendos suplícios do inferno
 
 
Nenhuma língua humana é capaz de exprimir os tormentos atrozes daquele lugar de desespêro. Como descrever aquêle fogo medonho aceso pela ira de Deus? os remorsos cruéis que dilaceram o mísero preceito? a eternidade sem fim, com o terrível sempre e o terrível nunca?
 
Diz Santo Agostinho que o fogo da terra comparado com o do inferno, parece um fogo pintado; e S. Vicente Ferrer diz que em confronto com aquêle, o nosso é frio.
 
Gastemos embora páginas e livros inteiros falando do inferno, acumulemos males sôbre males, sofrimentos sôbre sofrimentos, desgraças sôbre desgraças, chamemos em nosso auxílio as fantasias fecundas dos poetas, para idear penas atrozes, peçamos aos tiranos da História as torturas que inventaram para seviciar as suas vítimas e, apesar de tudo isso, chegaremos à conclusão de que infinitamente maiores são os suplícios do inferno.
*
*          *
Santa Tereza foi um dia arrebatada em êxtase e levada ao inferno para ver o seu lugar, caso não se emendasse de certo defeito.
 
Ela mesma conta em sua autobiografia:
 
“Estando um dia em oração, fui transportada, sem saber como, em corpo e alma, ao inferno. Compreendi que Deus queria mostrar-me o lugar que ocuparia, se não mudasse de vida. Não tenho palavras que possam dar uma pequena idéia desse tormento incompreensível. Sentia em minha alma um fogo que me devorava e o corpo sofria dores insuportáveis. Dúrante minha vida passei por duros sofrimentos, mas, nem se comparavam com os que tive naquela ocasião; e ainda êsses subiam de ponto, ao pensar que seriam eternos e sem o menor alívio. Mas, apesar de as torturas do corpo serem atrozes, não tinham comparação com as agonias da alma. Ao mesmo tempo, sentia-me queimar e partir em pedaços, sofria tôdas as angústias da morte e os horrores do desespêro.
 
Num raio de esperança e de consolação naquela moradia, aí se respira um odor pestilencial, que sufoca; nem um raio de luz, mas tudo são trevas da mais densa escuridão; contudo, oh! mistério, mesmo naquele escuro se distingue o que de mais penoso há para a vista.
 
Em suma, tudo o que ouvi dizer ou li sôbre as penas do inferno é insignificante em confronto com a realidade; entre aquelas penas e estas há a mesma diferença entre uma pessoa e o seu retrato. Ai! o fogo dêste mundo por mais ardente que seja, é como o fogo pintado, comparado com aquêle que atormenta os réprobos no inferno.
 
Há dez anos que tive esta visão, mas estou ainda agora tão espantada, que, enquanto escrevo, o mêdo gela-me o sangue nas veias. Em meio às provocações e dores que tenho, trago à mente esta visão e de aí tiro fôrça para tudo suportar”.
 
Até aqui a santa.
 
 
*
*          *
 
Vicente de Beauvais, no livro 25 de sua História, refere o seguinte fato, acontecido pleno ano 1000.
 
Dois libertinos fizeram uma combinação: o primeiro a morrer viria à terra participar ao companheiro em que estado se achava. Morreu um deles, e Deus permitiu aparecesse ao amigo: era horrendo, parecia sofrer duramente e suava em bicas. Enxugou a fronte com a mão e deixou cair uma gota de suor no braço do companheiro, dizendo-lhe:
 
– Eis qual é o suor do inferno; dêle terás um vestígio até à morte.
 
E assim foi, pois aquêle suor infernal queimou-lhe o braço, penetrando na carne com dores inauditas.
 
Bom para êle que soube aproveitar-se de tão terrível lição e retirou-se para o convento.
*
*          *
Em 1873, Nova Iorque foi teatro de um incêndio, cujas circunstâncias apresentam a imagem do inferno.
 
O Circo Baunum foi assaltado pelo fogo; tigres, ursos, leões e outras feras foram queimadas vivas nas suas jaulas. À medida que o fogo se propagava, crescia o desespêro das feras, sobretudo os tigres e ursos tornavam-se cada vez mais furiosos. Atiraram-se com supremo esfôrço contra as grades, já incandescentes, da prisão, e eram rechaçados quais massas inertes, para de novo se arrojarem contra o insuportável obstáculo que os aprisionava.
 
Os rugidos dos leões, os urros dos tigres e o aulidos das outras feras se misturavam formando um som pavoroso, que parecia reproduzirem aquêle que devem ouvir os condenados no inferno.
 
Mas as notas deste tétrico concêrto aos poucos foram-se enfraquecendo, até que, quando o leão soltou o último urro, ao medonho alarido sucedeu o silencio da morte.
 
Imaginemos, agora, nestas jaulas de ferro candente, não as feras, mas homens; e homens que em vez de morrerem no fogo continuam a viver, e teremos uma idéia do inferno, idéia, aliás, muito imperfeita.
*
*          *
A história registrou, para perpétua execração, as truculências de alguns tiranos, que mais do que homens pareciam monstros.
 
Fálaris, tirano de Siracusa, confeccionou um touro de bronze para prender dentro os rebeldes e fazê-los morrer a fogo lento, aceso ao redor. Quem pode descrever os espasmos do supliciado? Gritava, debatia-se naquelas estreitas paredes, que se tornavam candentes e tormentos indescritíveis!… Todavia, essas penas terminavam; o condenado terá suplícios infinitamente maiores e por tôda a eternidade.
 
Nero mandava que se cobrissem os corpos dos cristãos com pixe e outros combustíveis, e depois, colocados nos postes, ao longo das alamedas, eram acendidos à tarde, para iluminar, enquanto êle passeava no coche, insultando-os bàrbaramente nos padecimentos.
 
Maxêncio amarrava as suas vítima a cadáveres, rosto com rosto, tronco com tronco, membros com membros, e as deixava nesse horrível estado até que o mau cheiro das carnes corrompidas lhes acabasse com a vida.
 
Astiáges, rei da Armênia, condenou S. Bartolomeu Apóstolo a ser esfolado vivo.
 
Não menos horrível o suplício a que foi submetido o diácono S. Lourenço. Estenderam-no sôbre uma grelha e por baixo espalharam brasas, de maneira que aos poucos fosse sentindo os ardores e mais longa e vivamente durasse o tormento. Cozida uma parte do corpo, voltaram-no do outro lado, para que cada membro tivesse seu sofrimento; e assim neste lento e atroz martírio, rendeu a alma a Deus.
 
São talvez êsses os suplícios do inferno? Qual! apenas a sombra, uma pálida idéia.
*
*          *
Fala-nos o Padre Nierenberg de um jovem que levava uma vida aparentemente cristã, mas odiava a um inimigo; e conquanto frequentasse os Sacramentos, nutria para com êle sentimentos de vingança, que Jesus Cristo obrigava depor.
 
Morrendo, apareceu ao pai, todo envolvido em chamas, e disse-lhe que se condenara por não ter perdoado ao seu inimigo, e chorando exclamou:
 
– Ah! se tôdas as estrêlas do céu fossem como línguas de fogo, não traduziriam os tormentos que sofro.
*
*          *
 
Os dois fatos seguintes se referem pròpriamente ao fogo do purgatório, mas não vêem fora de propósito, já que os teólogos afirmam que o mesmo fogo que atormenta os condenados no inferno, purifica também as santas almas do purgatório, e que o purgatório é um inferno temporário.
 
Na vida de Frei Estanislau Chosca, dominicano polonês, lê-se que um dia, quando estava rezando pelos finados, viu uma alma tôda devorada pelas chamas. Compreendeu que se tratava de uma alma do purgatório que implorava suflágios, e a interrogou se aquêle fogo era mais penetrante que o nosso.
 
– Ai de mim! respondeu a mísera, todo o fogo da terra, comparado com o do purgatório é como um sôpro de ar fresquíssimo.
 
– Mas, isto é impossível! exclamou o frade. Desejaria mesmo experimentar, com a condição de que isto aproveite para me fazer descontar aqui uma parte das penas que terei de sofrer, um dia, no purgatório.
 
– Nenhum mortal, replicou então aquela alma, poderia suportar-lhe a mínima parte, sem morrer no mesmo instante, se Deus não o sustentasse. Se queres converter-te, estende a tua mão.
 
O dominicano, em vez de intimidar-se ofereceu a mão: e o defunto deixou cair sôbre ela uma gota de suor. Estanislau desmaiou no mesmo instante, soltando gritos agudos. Acudiram logo os frades assustados e o encontraram desfalecido e com a mão chagada. Levado para cama e medicado, recobrou os sentidos; mas não se levantou mais, sempre atormentado por terríveis dores causadas pela chaga na mão; e morreu depois de um ano, durante o qual não cessou de exortar os irmãos à penitência para evitarem os rigores da justiça divina.
 
*
*          *
 
 
A aparição que estou para referir é narrada na vida de S. Domingos, escrita por Fernando de Castelha, e comprovada por um profundo sinal deixado numa mesa.
 
Em Zamorra, cidade da província de Leão, na Espanha, vivia num convento de Dominicanos um bom religioso, ligado em santa amizade com um Franciscano, homem como êle, de grande virtude.
 
Um dia que se entretinha sôbre coisas espirituais, prometeram recìprocamente que o primeiro a morrer, se Deus lho permitisse, apareceria ao outro, para informá-lo da sorte alcançada no outro mundo. (
1)
 
Morreu o Franciscano e, fiel à sua promessa, apareceu ao Dominicano, quando êste arrumava a mesa. Depois de tê-lo cumprimentado com extraordinária benevolência disse-lhe que estava salvo, mas, tinha, outrossim, ainda muito que sofrer por algumas pequenas faltas das quais não se tinha arrependido bastante em vida. Em seguida ajuntou: – “Nada existe sôbre a terra, que possa dar uma idéia das minhas penas”. E para que o Dominicano tivesse disto uma prova, estendeu a mão sôbre a mesa do refeitório, deixando na madeira a queimadura como se a mão fôra um ferro em brasa, tirado então da forja.
 
Imagine-se a comoção do Dominicano a este espetáculo!
 
A mesa guardou-se religiosamente em Zamora, até o fim do século XVIII, no qual as revoluções políticas a fizeram desaparecer, como a outras muitas relíquias piedosas de que era rica a Europa.
 
*
*          *
 
Até agora temos falado das penas do sentido; e que dizer das penas do dano? Que dizer da privação de Deus?
 
A privação da vista de Deus é o que pròpriamente constitui o inferno. Não fazem o inferno as trevas, o mau cheiro, o alarido, o fogo; a pena que faz o inferno é a pena de ter perdido a Deus. Se Deus mostrasse a face aos condenados, êles não sentiriam mais nenhuma dôr, e o inferno seria um paraíso.
 
Apenas a alma rompe os vínculos do corpo, sente imediatamente que foi criada para Deus e se atira a Êle como uma flecha vôa para sua meta, como a agulha imantada livre do empecilho volta-se para o solo; mas, estando manchada com o pecado, será repelida e precipitada no inferno.
 
Um caçador fez uma vez esta experiência: amarrou o seu galgo com uma grande corrente, dentro do jardim murado, e depois soltou uma lebre. Apenas a viu, o cão avançou para adentá-la mas é impedido pela corrente. Que raiva, vê-la correr pelo jardim e não poder apanhá-la! Ladra, gane, dana-se, morde a corrente para despedaçá-la, atira-se contra o animalejo que foge dum lado para outro. Fez tanto esfôrço que pouco depois caiu morto.
 
A alma tentará contínuamente lançar-se para Deus, para o qual foi criada, mas o pecado é aquela corrente que não a deixará sair das chamas cruéis.
 
*
*          *
 
Um virtuoso sacerdote, enquanto estava exorcizando um energúmeno, perguntou ao demônio que penas sofria no inferno. A resposta foi esta:
 
– Um fogo eterno, uma maldição eterna, uma raiva eterna e um desespêro cruel por não poder mais ver Aquele que me criou.
 
– Que farias para que te fosse concedido ver a Deus?
 
– Para vê-lo, mesmo por um instante, estaria pronto a sofrer num minuto tôdas as penas que devo sofrer em dez mil anos… Mas, vãos desejos, hei de sofrer sempre e não O tornarei mais a ver.
 
E foi tal o tormento e o desespêro com que pronunciou estas palavras, que deixou funda impressão naquelas que assistiam aos exorcismos.

CAPÍTULO V
 
Eu não creio em nada
 
 
– Eu não creio em nada, dizia-me duma feita um dêsses doutores da impiedade, com empáfia.
 
– Como? Vós não credes em nada? repliquei. Então não credes na existência da América, da Oceania…
 
– Oh! Certamente que sim; queria dizer, não creio em nenhuma coisa sobrenatural.
 
– Mas, porque credes na existência da América e da Oceania, que nunca vistes?
 
– Tem graça! Creio porque o afirmam os geógrafos e muitas pessoas que perlustraram essas regiões.
 
– E se credes na existência de coisas que nunca vistes, só porque o dizem os homens, porque não credes na existência do inferno, do juízo, revelada pela palavra infalível de Deus, confirmada pela razão e proclamada pela voz de todos os povos?
 
O livre pensador deu de ombros e não soube responder; mas, nem por isso se converteu. Custava-lhe tanto deixar sua vida desregrada e praticar a virtude!
 
Como são dignos de compaixão êsses libertinos! Pretendem destruir o inferno, negando-lhe a existência; mas, quem nega uma coisa não consegue eliminá-la. Se eu negasse a existência da América ou da África, não conseguiria riscá-las da face do globo, mas subsistiriam, não obstante minha negação. Negai, negai quanto quiserdes a existência do inferno, que apesar disso o inferno continuará a existir e a queimar as suas vítimas, e um dia se abrirá para vós e vos sepultará naquelas chamas, se vos não corrigirdes de vossas desordens. A vossa fanfarrice e a vossa negação estulta não apagarão certamente aqueles ardores sempiternos, ao contrário, servirão para os aumentar e fazer-vos afundar mais naquele abismo. Quanto mais vos obstinardes na infidelidade e na negação do inferno, tanto mais acumulareis pecados e culpas para expiar na eterna prisão.
 
*
*          *
 
Uma ocasião, um infeliz, a quem se meteu na cabeça que não havia mais cárcere, nem tribunal, começou a roubar e praticar iniquidades. Avisado várias vezes pelos parentes e amigos, e ameaçado de prisão, replicava sempre que não havia mais cárcere nem tribunal.
 
Sabeis o que aconteceu? o que já se esperava: dois policiais o prendem; é processado e condenado às galés por tôda a vida.
 
Eis aí a história de todos os ímpios; abandonam-se aos vícios, acariciam as paixões, cometem pecados e mais pecados, dizendo que tudo acaba com a morte e, no entanto, caem no eterno abismo. E Santa Tereza viu que caíam em grande número, como flócos de neve em dias de inverno!
 
*
*          *
 
Monsenhor Ségur conta um fato bastante curioso, acontecido na escola militar de S. Ciro, nos últimos anos da Restauração.
 
O Padre Rigolot, capelão do estabelecimento, prègava um retiro espiritual aos alunos, que se reuniam por isso tôdas as tardes na capela, antes de subir ao dormitório. Uma das tardes, em que o bom do padre falara do inferno, terminada a função, tomou a lanterna e se retirou para o seu aposento; e quando abria a porta do quarto, percebeu que o chamava alguém que o seguia pela escada. Era um velho capitão de bigode grisalho e de maneiras pouco gentis.
 
– Desculpe, sr. Padre, lhe falou com ar de zombaria; V. R. fez-nos agora pouco um magnífico discurso sôbre o inferno. Mas se esqueceu de nos dizer se lá nós seremos cozidos, assados ou fritos. Poderia dizer-me?
 
O capelão, percebendo que se tratava de um zoilo, fitou-o sériamente, e depois enfiando-lhe sob o nariz a lanterna que trazia, respondeu com tôda a calma:
 
– Haveis de ver, sr. capitão.
 
Dito isto, fechou a porta; sem poder refrear o riso pela figura ridícula daquele estróina.
 
Não pensou mais nisso, mas daí por diante notou que o capitão fugia dêle.
 
Entretanto, veio a revolução de julho e extintas as capelanias militares, o Arcebispo de París nomeou o Padre Rigolot para outro cargo, não menos importante.
 
Passados quase vinte anos, o venerando sacerdote entretinha-se com os amigos numa tertúlia, quando um velho de bigode, branco, fazendo-se encontradiço, cumprimentou-o e perguntou se era o Padre Rigolot, ex-capelão da escola de S. Ciro. Obtida resposta afirmativa:
 
– Oh! senhor padre, diz-lhe comovido o velho militar, permita-me que lhe aperte a mão e que exprima o meu reconhecimento; o senhor me salvou.
 
– Eu?! de que modo?
 
– Oh! não me conhece mais? Não se lembra do ocorrido naquela noite, que um capitão […]
 
(………segue na parte 3………)






1 Julgo prudente observar que não convém fazer tais acordos; ou pelo menos é preciso consultar o confessor.


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