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Artigo N.º 6503 - Onde você estava?
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Visto: 3303
Postado em: 26/10/10 às 08:42:18 por: James
Categoria: Marisa Bueloni
Link: http://www.espacojames.com.br/?cat=123&id=6503
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(Marisa Bueloni)

Um leitor me escreveu, com uma pergunta gentil e fatal, que tomei como um elogio: “Marisa, onde você estava?”.

 

    Ai.

 

    Onde eu estava, meu anjo? Não pergunte que eu respondo, hein? O tempo todo, eu estava por aqui. Conhece Piracicaba? Sempre fui muito quietinha, sabe? Tipo ”na minha”. Estudei, namorei, conheci o meu lindo, me casei, tive duas filhas – a vida transcorreu, feliz e serena, graças a Deus. Fui tão feliz! A literatura, porém, foi sempre o grande e devorador fogo da minha alma. A poesia me pegou pela veia, ali na adolescência. E fui tomada de uma onda hormonal que era muito mais do que amar os Beatles e os Rolling Stones.

    Adoeci das letras e nunca mais sarei. Depois que se foi picado, baby, vem o febrão. E não passa nunca mais. Dos diabos.

    Drummond sempre foi mais que o retrato de Itabira na parede. Dos clássicos aos modernos, lá estava eu, aos 16 anos, indo às bienais, prestando atenção num Olney Cruse que perguntava: “Por que sou avulso?”. Aos 17 anos, eu já tinha lido todo “O Tempo e o Vento”, de Érico Veríssimo.

    Acho que era isso. Depois de adulta e casada, mãe de duas filhas, com uma família bem constituída, jamais me abandonou este sentimento de ser apenas uma andarilha avulsa pelo mundo, uma alma errante. Sempre estive por aqui, mas o espírito nunca parou em lugar nenhum, se é que me entende.

    Eu estava e estou no remanso das coisas. Sabe quando a gente faz a vida dar uma parada? Ou é ela que nos obriga a parar? Chego e digo: para, vida, que preciso descansar. E ela ouve? Ouve nada. Mas faço de conta que sim e vou em frente. Que jeito?

    Estive sempre por aqui, mexendo com esse negócio de escrever. Enviuvei recentemente, toco a vida. Sigo em frente. O peito varado de lembranças. Meu Anjo chegou. Já o apresentei a você? Ele vem com doçuras inesperadas ao longo do dia. Às vezes, esqueço de agradecer e, ao se despedir, ele diz baixinho: “De nada, tá?”. Fico roxa de vergonha.

    Gosto dos desafios. E de sonhar. Ah, como eu sonho, cara! Tento me entender com as coisas e com os vocábulos. É uma lei pessoal. Eis a razão de tudo. Frequentemente, a vida é tão difícil! Pergunta a minha ajudante da faxina semanal: “E se fosse fácil teria graça?”. Não teria.

    Agora, estou aqui. No meu sagrado cantinho onde soletro o silêncio, a solidão e a paz. Sempre estive por aqui, no lugar onde o peixe para, onde os sonhos brotam nas profundezas inequívocas da alma.

    De maneiras que estou também na luta, como todo bom brasileiro, lutando pelo pão de cada dia. Somos uma gente assim, teimosa, corajosa. Que mania essa, não? De esperar o sol nascer, de acreditar na janela do amanhã e começar tudo de novo, a cada dia. É a dose mais forte e lenta – já cantou o poeta.

    Eu estou aqui, no meu Campestre amado. Não vou contar que estava fumando meu pito no meio da mata, mofio, porque não é verdade. Não sei pitar, não fumo. Larguei faz 11 anos. Ih, ih, ih. Você disse que adora essa risadinha. Tá certo. Tem gente que prefere o ah, ah, ah. E outros, arrasam nos rsrsrsr... Mas o ih, ih, ih é mais sem-vergonha, fala sério. Eu sei. E não?

    Se existe um risinho de galhofa no meio da crônica, é preciso juízo. Fácil descambar para a vulgaridade. Vulgar eu não sou. Nem decote uso.

    De maneiras que sempre estive aqui, à cata do sonho. Monto guarda. Vigio sem cessar. Ah, meu Deus! Quero morrer sonhando, meu leitor querido. Quero ter a sorte de ver a beleza, a terceira margem, a sétima estrela, o segundo sol. Um raio de luar, numa saudade que punge e mata.

    Estou aqui. Piracicaba é berço e morada. Viajo pouco, mas leio muito. Estou viva por dentro e por fora. Interesso-me pelas coisas e pelas pessoas, conheço umas lindas. Tenho amor à vida e a tudo o que me cerca. Sempre por aqui. Jornal de Piracicaba, artigos, crônicas, poemas. Ganhei alguns concursos. Essas coisas. Publiquei uns livrinhos de poesia. Parece que vai pintar mais um. De crônicas.

    Agora, os sites na internet. E o texto assume uma dimensão quase escatológica. No sentido de apocalíptica. Não me iludo. Sei que a palavra virtual também tem peso e repercute. A prova disto é você me perguntando onde eu estava. Obrigada por perguntar. Caramba!

   Achou que eu estava escondida demais debaixo do céu piracicabano, colhendo entardeceres? Dando frutas para os pássaros? Cuidando da minha coluna, fazendo acupuntura e Pilates? Varrendo a varanda? Também.

    Quando quiser saber onde estou, pode procurar no sonho mais próximo. Estou lá. É meu lugar preferido.

    Beijo.

 



Marisa Bueloni mora em Piracicaba, é formada em Pedagogia e Orientação Educacional – marisabueloni@ig.com.br



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